CARVALHO, António Germano Guedes Ribeiro de
Nasceu em Chaves, em 30.10.1889. Foi filho do famoso general António César Ribeiro de Carvalho. Tal como o pai também ele foi oficial do Exército. Foi aluno do Colégio Militar de onde, em 1906, saiu com o posto de 1.° sargento graduado cadete, matriculando-se na Escola Politécnica. Em 1907 foi admitido na Escola do Exército tendo concluído o curso de Infantaria em 1909. Alferes em 15.11.1910, foi promovido a tenente para o Ultramar em Novembro de 1913, tendo servido em Moçambique. Partiu para a França, como oficial com comando de tropas, e em 29.9.1911 foi promovido a capitão, distinguindo-se de forma notável no serviço das primeiras linhas. Em 8.3.1918, tendo comandado um raid sobre as linhas alemãs, de onde regressou com prisioneiros, o capitão Ribeiro de Carvalho foi promovido por distinção ao posto de major, com a antiguidade a contar desde aquela data, condecorado com A Cruz de Guerra de 1.a classe, a Military Cross e outras altas condecorações, nacionais e estrangeiras, entre as quais a Legião de Honra, tendo comandado a companhia de Infantaria que desfilou em Paris, em 14.7.1919. Descendente de soldados que aliavam à cultura o valor cívico e honrada bravura e coragem, sobranceiras a qualquer sectarismo e fiéis ao mais puro espírito militar, o major Ribeiro de Carvalho, de regresso à Pátria, tomou parte notável, voluntariamente e às ordens de seu pai, o general Ribeiro de Carvalho – nas operações militares, em Janeiro de 1919, contra as tropas muito mais numerosas da Junta Governativa do Porto que, precedendo a restauração da Monarquia nesta cidade, procuraram dominar as reduzidíssimas e mal equipadas forças fiéis à República em Trás-os-Montes. Seu pai, então coronel Ribeiro de Carvalho, chefiava a divisão de Vila Real, função de que fora demitido pela Junta Militar do Norte e em que o reintegrara o governo da República. Não dispunha de efectivos e recursos bastantes para fazer frente à revolta. Contava com alguns elementos dedicados como o capitão António Fernandes Varão, o major de A. M. Rodrigues Brusco e o tenente Bastos Reis, que se distinguira na Flandres. Não sabia o que era, na altura em que mandava no Porto a coluna monárquica comandada pelo major Margaride, o que seria a atitude do Regimento de Artilharia n.º 4 aquartelado em Amarante ou a da guarnição de Bragança. O velho e bravo soldado decidira, apesar de tudo, bater-se e resistir na região de Vila Real. O filho, major Ribeiro de Carvalho, acorrera de Lisboa para bater-se ao seu lado pela República. O exemplo contagiara outros elementos militares, galvanizando a população civil. Não reconheceu a Junta Militar, que passara a ser Junta Governativa e ia em breve restaurar o velho regime. A coluna monárquica atingia a Régua. O comando de Vila Real sabia do seu avanço. As escassas dezenas de espingardas da defesa republicana, sob o comando do major Ribeiro de Carvalho e sob temporal desfeito, foram ocupar a posição mais avançada, em Parada de Cunhos, sobre a estrada de Amarante. «Os defensores do governo republicano – escreveu Rocha Martins, testemunha insuspeita – via avançar as tropas realistas e esperaram-nas de olho à mira, firmes, tendo à mão as suas munições…». Já, na véspera, o major Brusco e o capitão Pires Falcão tinham detido as primeiras forças que procuraram estabelecer contacto ou informar-se da situação e efectivo da pequena força comandada por Bastos Reis. Previdentemente o coronel Ribeiro de Carvalho preparava a retirada sobre Vila Pouca. Vinda da Régua, a coluna Margaride iniciou o seu ataque sobre as posições comandadas pelo major Ribeiro de Carvalho, numa manhã, pelas nove horas e meia, bombardeando a sua artilharia a posição do Alto da Forca. A tropa republicana bateu-se, multiplicando o valor do pequeno efectivo sob o influxo viril do moço major. O pai recusava todo o acordo ou negociação com as tropas rebeldes, enquanto o filho se mantinha na posição mal guarnecida mas decidida e tenaz. Quando, ao meio dia, os monárquicos lançaram o assalto, tomba, entre outros assaltantes, o tenente de engenharia Costa Alemão. O ataque é repelido. A tarde caía e a resistência republicana mantinha-se. O major Ribeiro de Carvalho fora ferido. Apesar de batidos, os monárquicos supunham chegada a hora de entabular negociações com os defensores para que se rendessem, tão evidente era a inferioridade dos seus recursos. A resposta é clara e pronta: o comando de Vila Real só obedecerá a um governo nomeado pelo Presidente da República; as hostilidades só serão suspensas se for confirmado um telegrama que anunciava a constituição dum ministério em Lisboa, o qual satisfazia teriam dito os emissários das forças monárquicas – as aspirações da Junta Militar. Estas retiram para a Régua. Promovido posteriormente a tenente-coronel, o jovem oficial depois de ter voltado a servir no Ultramar, fez parte de um ministério organizado em 18.12.1923, ocupando com brilho a pasta da guerra. A situação política que se seguiu ao movimento de 28.5.1926 afastou-o da actividade política, passando o tenente-coronel Ribeiro de Carvalho à Espanha e sendo por fim demitido. Ribeiro de Carvalho não quis beneficiar da amnistia concedida pelo governo em 1950, nos termos de uma lei votada na Assembleia Nacional.
G.E.P.B.