Ilustres

AZEVEDO, António José de

O padre António José de Azevedo (1800-1874/ 1876?) tinha um irmão mais novo, Francisco José de Azevedo, estudante de Medicina, que casou em 1839 (5 de Outubro) com Carolina Rita Botelho Castelo Branco, irmã de C. C. B. Viviam na freguesia de Vilarinho da Samardã, que António José de Azevedo paroquiava. Aliás, foi ele o oficiante do matrimónio, como foi ele quem pessoalmente, munido da respectiva procuração, se deslocou a Lisboa para obter, junto do conselho de família, a legítima da noiva. (V Ludovico de Menezes, Camilo, Lisboa, 1925, 111, p. 107 e seg.). C.C.B. passou a viver na companhia do jovem casal e, por consequência, em estreito convívio com o pároco da freguesia, que foi seu mestre. Camilo lembrará esse período da sua vida nos folhetins que publicou em A Aurora do Lima (n.os 189 e 190, de 23 e 27.3.1857), com o título de Impressão Indelével, incluídos a seguir na miscelânea Duas Horas de Leitura (1857). Afirma Camilo: “Fui educado numa aldeia, onde tenho uma irmã casada com um médico, irmão de um padre, que foi meu mestre. O mestre podia ensinar-me muita coisa que me falta; mas eu era refractário à luz da gorda ciência do meu padre. ” (Op. cit., p. 89, da 8.a ed., 1967). Camilo acabará por alojar-se no Porto a fim de encetar estudos superiores. Os biógrafos divergem quanto à qualidade e natureza dos ensinamentos ministrados pelo padre António de Azevedo, seguindo à letra os relatos (efabulados sempre pelo escritor) desse período. É de presumir que, em liberdade no Porto, Camilo interrompesse praticamente as relações com Samardã. Voltará a ver Carolina em 1860 e passará a corresponder-se com o antigo mestre em data posterior (talvez até antes do escândalo do adultério). C.C.B. recorda-o nas Memórias do Cárcere (1862), apelidando-o de “missionário fervoroso, que me podia ensinar tanto latim, tanta virtude, e só me ensinou princípios de cantochão, os quais me serviram de muito para as acertadas apreciações que eu fiz depois das primas-donas”. (Op. cit. Il, p. 130, da 8 ‘ ed., 1966). Lembra-o de novo em Lira Meridional (1886), onde narra (ou efabula) os amores do futuro padre com Luísa das Barrias, e arquiva a anedota picaresca, ocorrida no cenário de Braga, do seminarista a fugir de uma francesa pecadora. “Vivi dois anos com este prior. As nossas camas estavam no mesmo quarto. Ensinava-me latim e música de Canto. ” (In Serões de S. Miguel de Ceide, p.129, da ed. de 1928, da Lello). Dedicara-lhe um romance: O Bem e o Mal (1863), tratando-o de operário infatigável em serviço de Deus e da Humanidade”: “Há vinte e três anos que eu vivi em sua companhia. ” (1863-23-1840). Acrescenta, ao cabo de enumerar as suas proezas de “incorrigível rapaz de catorze anos: “Sou aquele que leu em sua casa as Viagens de Ciro, o Teatro dos Deuses, os Lusíadas, as Peregrinações de Fernão Mendes Pinto, e outros livros que foram os primeiros”. Após a morte do irmão, em 1867, o padre António de Azevedo passou a ser o anjo tutelar da família desamparada (se já não o era), que ficara em precaríssimas circunstâncias, como se avalia do epistolário conservado na Casa-Museu de Camilo, constituído por 22 cartas do padre Azevedo ao discípulo. É um acervo importante para a compreensão do género de relações de Camilo com seu mestre e, indirectamente, com a irmã. O número das missivas devia ser mais avultado, visto que, em 1862, nas Memórias do Cárcere, Camilo declara: “As raras cartas, que me envia, são todas a desandar-me deste caminho errado para o do sacerdócio. ” Etc. (Op. cit, II, p.130) Na Lira Meridional dá mesmo a entender que a correspondência do padre remontava ao ano de 1855. Como quer que seja, o remanescente do epistolário (abarcando os anos de 1865 a 1874) dá bem a ideia da estima do mestre pelo discípulo transviado e da sua preocupação pelos estudos e bem-estar dos sobrinhos, rogando amiúde ao romancista que interfira a favor deles. Queixa-se por vezes da indocilidade da cunhada. A epístola de 25.4.1874 tem a seguinte anotação do punho de Camilo: “Última carta que recebi deste santo, que morreu em 1874 “. Todavia, averbara na missiva de 23.6.1873: “Morreu em 76”. Curiosamente, o talhe de letra é muito semelhante: do mestre e do discípulo.

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