Ilustres

CORREIA, João de Araújo

Médico e escritor (Canelas do Douro, 1.1.1899 – Peso da Régua, 31.12.1985). Formado pela Universidade do Porto, exerceu clínica em meio rural e, portanto, em condições ingratas. Olhou, por isso, com simpatia a figura de João Semana, como exemplo de médico de grande humanidade. Não menos que à profissão, obedeceu à vocação de escritor, iniciada em pequenos jornais locais, onde publicou contarelos, nótulas, breves crónicas. Alguns desses primeiros escritos reuniu-os o autor no livro intitulado, significativamente, Sem Método (1938). Aí já se anunciava, nessa prosa enxuta e nessa atenção ao homem concreto e ao país real, o futuro grande contista e cronista de Contos Bárbaros (1939), de Contos Durienses (1941), de Folhas de Xisto (1959), de Rio Morto (1973), de Outro Mundo (1980), e de Três Meses de Inferno (1947), de Manta de Farrapos (1962), de Passos Perdidos (1967), de Horas Mortas (1968), de Ecos do País (1969) e de Pátria Pequena (1977). O seu mundo é o do “país vinhateiro” – o Douro do vinho fino -, de clima agreste e existência dura. A vida clínica aproximou-o do povo, de que não fez pretexto demagógico de literatura, e do espectáculo não literário do sofrimento e da morte. Herdeiro do criador de João Semana, Júlio Dinis, o idealismo de João de Araújo Correia feriu-se, porém, nos socalcos do Douro e nas fragas do Marão. Leve é a sua prosa, mas não cor-de-rosa a sua visão do mundo. Camilo é, sem dúvida, outra das referências de João de Araújo Correia, camiliano de boa casta, pela sua fidelidade ao génio e à pureza do idioma, pela sua identificação com as províncias nortenhas. Os seus escritos camilianos coligiu-os no saboroso volume Uma Sombra Picada das Bexigas (1978). Antepassados do autor dos Contos Bárbaros são ainda Trindade Coelho, pela empatia com a terra e a vida humilde, Garrett e Ramalho Ortigão, seus mestres na defesa do nosso património cultural. É, pois, um escritor situado, de família literária tradicional, e exemplo de determinação porque, longe dos grandes centros e sem estímulos culturais, realizou uma obra que retrata o homem em toda a sua dolorida humanidade. Truncada que ficou a publicação das obras completas de João de Araújo Correia, uma antologia de contos -que retomasse e ampliasse a já antiga (1960) de Guedes de Amorim – e uma antologia de crónicas seriam de todo indispensáveis para levar ao grande público um escritor genuíno como o vinho fino da sua região.

João Bigotte Chorão

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