Concelhos

Murça

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LOCALIZAÇÃO

A geografia de cada local é o que mais condiciona o seu desenvolvimento. Murça foi em tempos remotos local de passagem e até de fixação pelo que se tornou num sítio importante para a época. Todavia, em vários momentos e por diversas causas, os povos abandonam o interior e aproximam se dos grandes centros, dando se a desertificação e a paragem no tempo de muitas localidades. O Concelho de Murça situa se no Distrito de Vila Real, a uma distância de trinta quilómetros, em pleno centro geográfico da região de Trás os Montes e Alto Douro. É limitado a norte pelo Concelho de Vila Pouca de Aguiar e de Valpaços, a sul por Carrazeda de Ansiães, a oeste Alijó e a este Mirandela. É composto pela sede e oito freguesias num total de 36 lugares. Ocupa uma área geográfica de 171,16 Km2.
A composição geológica do seu solo é variada, apresentando solos xistosos, graníticos e quartzíticos, o que lhe confere por isso, também, uma variada flora. O solo, em geral, éconsiderado, sob o ponto de vista agrícola, dos mais pobres de Trás os Montes, com algumas excepções, impondo se nele, sobretudo, o cultivo da vinha e do olival.
Relevo é moderadamente acidentado, indo a altitude subindo gradualmente desde o rio Tua até à serra de S. Domingos e da Garraia. A vila fica situada a meia encosta, a cerca de 500m de altitude, rodeada por um jardim de oliveiras.

Clima

Tendo em conta as características do solo e do relevo, o clima apresenta se muito específico, sendo o Concelho dividido em três zonas geográficas distintas, denominadas Terra Fria, Terra Quente e Montanha. A primeira estende se por um planalto de 700, 800 metros, sendo influenciada pelos ventos frios da Serra do Alvão; a segunda, a sul, com menor altitude, 200 a 400m, prevalecem os vales, e coincide com a região demarcada do Douro, exposta ao sol, protegida dos ventos, portanto mais quente e seca; a de montanha é intermédia. No global, pode considerar se um clima mediterrâneo com verões quentes e secos e invernos suaves e medianamente chuvosos.
Hidrologia O Concelho é drenado quase exclusivamente pelo rio Tinhela um afluente do Tua , no qual desaguam algumas ribeiras. É pobre em água. No princípio do século XVIII tinha oito fontes sendo a principal a da Rainha. Algumas eram de arco. Em 1785, com o aumento da população, as fontes já não satisfazem as necessidades dos moradores. Pedem à rainha D. Maria 1 para solucionar lhes o problema pois que as três fontes que agora existem são perigosas, “É preciso que os aguadeiros se debrucem correndo o risco de caírem lá dentro”, como aconteceu com a anotadora destas linhas. Em 1926, Murça ainda é carente de água. A fonte da Rainha continua a ser quase exclusivamente a única a abastecer toda a parte norte da vila. Em 1961 64, o problema fica parcialmente resolvido com “o programa de abastecimento à vila”. Em 1979 e 1988 há novo avanço na resolução do abastecimento de água. Neste momento, a água jorra nas torneiras fazendo esquecer a fonte da rainha. “Rica de etnografia, de sugestões, de historietas, de… atentados à vida” Padre Fernando de Freitas, in “Para uma monografia de Murça”, 1948.

Flora

A natural caracteriza se sobretudo por: pinheiros bravos, carrasco, freixo, amieiro, medronheiro e carvalho negral; e matos: tojos, urzes, giestas, carqueja e sargaços. Estes, antigamente muito usados para lenha, carvão, brasas e estrume. Da humanizada, constam o centeio, o milho, o milhão, na terra fria, e a vinha, o olival, figueira, amendoeiras e frutas na terra quente.

Fauna

Predominam os coelhos, lebres, perdizes, raposas, águia real, corujas, milhafres e, já mais raros. lobos e javalis. No rio há truta, enguia, boga e escalo.
População Sabe se que muito antes da formação da nacionalidade, o termo de Murça já era habitado. Contudo, só a partir das Inquirições de D. Afonso III é que se começam a conhecer alguns dados sobre a população. Elementos mais concretos só em 1530, com recenseamento geral que D. João III mandou realizar em todas as povoações de Trás osMontes. Em 1796, verificamos que a população de Murça tinha aumentado em números significativos com uma densidade populacional de 16 habitantes por Km2, albergando cada fogo 3,2 pessoas. De 1960 a 1970 a população decaiu 28,4% devido à imigração para o estrangeiro ou saída para o litoral, sobretudo casais jovens. Segundo a recolha de António Luís Pinto da Costa, (pág. 204 na obra “o Concelho de Murça, Retalhos para a sua história”), a população aumentou de novo de 1970 a 1981, não atingindo contudo o nível decaído. Segundo o censo de 1981, o Município contava com 8518 habitantes. Em 1991 a população era de 7206. Segundo as últimas estatísticas de 2001, a população diminuiu 9% em relação a 91, atingindo 6557 habitantes actualmente.

Densidade populacional

Segundo ainda o censo de 1981, a densidade populacional era de 42,1 habitantes por Km2, sendo 19,8 de população urbana e 80,2 rural que se espalhava pelos diversos lugares. Segundo o censo de 2001, a densidade populacional é de 38,3 habitantes por Km2.
Tipo de povoamento O rural do concelho é concentrado. As casas estão juntas e as povoações afastadas. O povoamento da vila urbano é misto. Formado por um núcleo central em que o povoamento é concentrado e rodeado por um conjunto de bairros com povoamento disperso.

Actividades económicas

Nos finais do século XVIII, através de dados fornecidos por Columbano Ribeiro de Castro, verificamos que além da agro pecuária, os habitantes de Murça se dedicavam a diversas actividades artesanais, tais como: alfaiates, sapateiros, carpinteiros, tanoeiros, ferreiros, ferradores, negociantes, cronheiros, barbeiros e fabricantes e linhos e sedas. No século XX, as actividades económicas dividem se pelos três sectores, sendo até há pouco tempo o sector primário que ocupava a maioria da população. Desde 1981 que apenas as actividades do sector terciário serviços, banca e comércio – têm aumentado. O vinho de “benefício” e o azeite constituem o peso económico mais importante do concelho ocupando grande parte da população rural.
Subsistência A base de subsistência da população foi quase sempre a agricultura e a pecuária. Da primeira, o centeio, a batata, o milho, o milhão, a castanha, produtos hortícolas, as hortaliças e a fruta, eram os produtos mais consumidos. Da segunda, o porco sebado em casa com lavagens e produtos do campo, as galinhas, os ovos e os coelhos.

As feiras

Constituíam para as localidades o seu ponto mais elevado de desenvolvimento. São das instituições mais importantes da Idade Média. Além da sua função económica, de intercâmbio comercial num tempo e lugar certos, elas são também um espaço lúdico e de comunicabilidade. Colmatando a falta de acessos fáceis e rápidos, elas ainda serviam de estímulo a cumprir regras de paz, perdão e harmonia. As feiras de Murça foram instituídas por D. Dinis através do Foral de 1304 e “deviam começar 12 dias por andar de cada mês e durar dois dias”. Em 1394, os povoadores de Murça pedem a D. João I que lhes confirme a carta de D. Dinis, sendo lhe concedida a 10 de Junho desse mesmo ano. A feira realizava se uma vez por mês, geralmente no dia 18. Actualmente, realizam se a 13 e 28 de cada mês.
Há ainda duas feiras anuais: A do gado, por ocasião das festas, e a do Natal a 22 de Dezembro. Elas são o encontro de pessoas e bens e constituíam, pelo menos até há alguns anos atrás, o principal momento de lazer e até de festa das suas gentes. Realizam se também feiras na Freguesia de Jou, a 11 e 27 de cada mês, e uma anual na festa de S. Isabel. Os produtos comercializados eram vinho. azeite. castanha. mel, linho, lã, seda, e ainda peixe, sal, especiarias e produtos industriais. No princípio estes bens eram transaccionados por almocreves através de via romana do interior para o litoral e viceversa. Em 1870, o Fontismo trouxe ao Município algum progresso com a construção da estrada N°15 que liga o Porto a Bragança, abrindo assim novos horizontes ao comércio e às suas gentes. O concelho de Murça, como quase todos os Municípios Transmontanos, sofreu atrasos consideráveis devido à dificuldade das vias de comunicação que lhes trouxeram o isolamento. O Marão foi, até há poucos anos, a principal barreira quase intransponível que lhe impediu o acesso ao desenvolvimento de solo pobre, só 36% da área é fértil, sendo metade votada ao cultivo da vinha e do olival. Após o 25 de Abril notou se maior progresso no Concelho. A paisagem humana poderia sintetizar se nas palavras de Miguel Torga: “São homens inteiros, saibrosos, altos, espadaúdos, que olham de frente e têm no rosto as mesmas rugas da terra”. A feira dava lhes vida.

Património Histórico Cultural

Lenda A lenda “Porca de Murça”, tal como todas as outras, é fruto do imaginário popular. Esse conhecimento é geralmente perpetuado pela memória colectiva de gerações. O sentido da existência desta lenda prende se com a explicação do significado e origem ancestral da estátua zoofórmica em material autóctene da região (Granito), assente sobre um plinto do mesmo material na praça 31 de Janeiro ou 25 de Abril, em Murça, que representa uma porca. “Segunda a lenda, era no século VIII esta povoação e o seu termo assolados por grande quantidade de ursos e javalis. Os senhores da Vila, secundados pelo povo, tantas montarias fizeram que extinguiram tão daninha fera, ou escorraçaram para muito longe. Mas, entre esta multidão de quadrúpedes, havia uma porca (outros dizem ursa) que se tinha tornado o terror dos povos pela sua monstruosa corpulência, pela sua ferocidade, e por ser tão matreira que nunca poderia ter sido morta pelos caçadores. Em 775, o Senhor de Murça, cavaleiro de grande força e não de menor coragem, decidiu matar a porca, e tais manhas empregou que o conseguiu; libertando a terra de tão incomodo hóspede. Em memória desta façanha se construiu tal monumento, alcunhado “a Porca de Murça”, e os habitantes da terra se comprometeram por si e seus .sucessores, a darem ao Senhor, em reconhecimento de tão grande benefício, para ele e seus Herdeiros, até no fim do inundo, cada fogo três arráteis de cera anualmente, sendo pago este foro mesmo junto à porca. (Leal, Pinho, 1875)”

Significado Histórico religioso
“Está logo tia Vila de Murça, junto ao rio Tinhela, que cria grandes trutas, terra de muito pão, vinho, azeite, mel, onde está hu grande boi (porca) feita de pedra mui antiga, como hu está na ponte de Salamanca. Parece que estes bois ficarão do tempo dos gregos. (João de Barros, 1545). Estas enigmáticas esculturas rudes, em pedra, enquadram se no período Proto histórico Idade do Ferro (500 a.C.) e segundo a terminologia arqueológica, denominam se de “beirões “. São frequentes exemplares do género no nordeste transmontano e na região de Salamanca. O seu significado religioso está ligado ao velho culto de comunidades indígenas que adoravam os animais como deuses protectores, com a finalidade de esconjurar calamidades, roubos, doenças e outros malefícios a que estão sujeitos os animais das manadas ou rebanhos, tendo em consideração que se tratava de povos com uma economia agro pastoril e, por extensão, talvez as próprias pessoas e os seus pertencentes fossem também protegidos por essa divindade. Embora o povo a considere do sexo feminino, o certo é que se trata de uni macho (porco de cobrição), porque nessa época o sagrado era sempre apresentado no macho, símbolo de fertilidade, daí a tendência para a sua idolatria”. A porca encontra se no meio da praça 31 de Janeiro. É um dos monumentos mais conhecidos do país. É a famosa porca de Murça. o ex libris da terra. Uma escultura monolítica granítica representando um porco doméstico (berrão). Assenta sobre um plinto de granito de forma rectangular.

“Murça”

Etimologia Existem várias versões. Uma delas é, segundo Correia de Azevedo, derivar o nome de algum mouro chamado Muça que a tivesse povoado. David Lopes diz que Murça é nome hebraico. Por sua vez, Pedro Machado apresenta a palavra Murça como pertencente à família das palavras românicas. Segundo outros etimologistas, e esta éa teoria mais corrente, o nome deriva de ursa, nome ligado à lenda da porca. Nos diferentes documentos, forais e outros, a palavra aparece de várias formas: Muça, Muçam, e Mussa.
Armas Armas de prata com uma oliveira verde, frutada, ladeada por dois cachos de uvas de ouro com duas folhas verdes. Encimando este conjunto, um friso negro com a imagem da porca de Murça em prata. Coroa a um mural de prata de quatro torres. Por baixo um listel branco com os dizeres “Vila de Murça” a negro.
Bandeira Esquartelada de amarelo e negro. Cordões e borlas de ouro negro. Lança e haste douradas.
Selo Selo circular, tendo ao centro as peças das armas. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres “Câmara de Murça”.
Brasão de Murça Foi aprovado pela portaria 8382 do Ministério do Interior, de 12 de Março de 1936.
História Perde se nos tempos a sua origem. A comprová lo existem numerosos achados arqueológicos, encontrados em 1981. As peças, machados de pedra lascada, tipo “coupde poing”, que datam de 500000 a 100000 anos a.C. período Acheulense e uma raspadeira, instrumento de pedra, datada de 10000 a.C. período mesolítico. Existem também numerosos documentos do período da pedra polida neolítico descritos por Henrique Botelho na revista “O Archeólogo Português” de 1903 e 1905. São eles: 6 machados, um peso de pedra, dois instrumentos de xisto ardosiano polido, um machado de xisto, etc. Há ainda diversos monumentos megalíticos antas ou dólmens espalhados por várias zonas do Concelho. Os castros são outros vestígios trazidos pelos celtas para a Península Ibérica no século VI a.C. A cultura castreja atinge o seu apogeu no 3° século a.C. e no 2° d.C. No Concelho de Murça existem ainda actualmente onze castros. Há ainda outros vestígios da sua ancestralidade: restos de construções e de cerâmicas antigas; a via romana. que ligava Astorga ao Porto e a Braga, passando por Murça, ele. As terras de Panoias abrangiam assim uma vasta área que se estendia do Marão ao rio Tua e do Douro até Murça. Murça de Panoias terá surgido perto de um dos mais importantes aglomerados castrejos o castro do Cadaval numa colina sobranceira ao rio Tinhela. Teve a influência de muitos e variados povos: Celtas, Romanos, Suevos, Visigodos e mais tarde os Árabes. O Concelho de Murça recebe a carta de Foral de D.Sancho 11, em 8 de Maio de 1224. Este é o primeiro marco histórico do nascimento do concelho, e que delimita as mais antigas fronteiras de Murça. Sabe se contudo que já antes vigorava em Murça um “Regime Municipal” sem encargos com moeda. Mais tarde, D.Afonso 111 confirma a autoridade deste Concelho através de uma carta de Foral dada em Santarém a 10 de Janeiro de 1268. No reinado de D.Dinis, em 18 de Abril de 1304, uma nova carta de Foral veio reforçar as anteriores dando apoio e apreço aos moradores de Murça. Fala se ainda numa outra carta de Foral passada por D.João I. No reinado de D.Manuel, procedeu se à reforma dos Forais e o Município de Murça recebe nova carta de Foral em 4 de Maio de 1512.

Divisão Administrativa

É o Foral de D.Sancho II que nos dá a conhecer as mais antigas delimitações fronteiriças do concelho de Murça. Durante todo o desenrolar da História, e ao longo dos tempos até ao 25 de Abril, vão mudando, ora com mais ora com menos freguesias e lugares no seu termo. Em 1835, por decreto lei, é imposta uma nova divisão administrativa. Em 1895, o concelho passa a ter uma divisão administrativa semelhante à actual. No início dos anos 30, foi extinta a comarca de Murça, passando esta a ser anexada à de Alijó. Após o 25 de Abril de 1974, foi de novo restaurada a comarca de Murça. O termo de Murça é classificado de concelho rural de terceira classe, e dele fazem parte 9 freguesias e 36 lugares.

Freguesias

A Freguesia de Murça é a sede, quase ao centro. Tem por orago Santa Maria Maior. Feriado Municipal a 8 de Maio e festa ao Senhor dos Aflitos no 2.° Domingo de Julho. Circundam na mais 8 freguesias tendo estas anexas uma ou várias aldeias ou lugares. São elas:
Candedo (Monfebres, Martim, Porrais, e Sobreira) Nos primórdios da nacionalidade pertenceu ao termo de Abreiro, só mais tarde a Murça. Foram seus donatários os senhores de Murça. Pertenceu à Colegiada de Guimarães. Depois, à de Moncorvo, à de Braga e finalmente à de Vila Real. É a sede de Freguesia mais populosa e de maior potencial económico do Concelho. É nela que se produz a maior parte do “Vinho de Benefício”, suporte financeiro de todo o Concelho, e grande parte da produção olivícola. É seu patrono S.Pedro, cuja festa se realiza no dia 29 de Junho, possuindo uma das maiores igrejas. Foi local de gentes importantes no trabalho e na cultura. Possui uma Associação Recreativa e Cultural, um grupo desportívo, um grupo folclórico e publica o jornal “O Candelense”. No campo arqueológico, tem vestígios de castros. Monfebres É o aglomerado mais pequeno da Freguesia mas muito típico. Possui capela cujo patrono é Nossa Senhora das Neves. Martim Situa se num pequeno declive na margem esquerda do rio Tinhela. Tem uma bela paisagem de vinhedos. Tem capela cujo patrono é S.Pedro. Porrais Já vem da época castreja, como se conclui das suas ruínas da “Torre”, ou “Castelo”, ou “Porreira”. O foral que D.Sancho II deu a Abreiro fala de Porrais como fazendo parte do seu termo. Os seus terrenos inclinados são sulcados e cheios de vinhedos semelhantes à paisagem duriense. Tem no seu termo as caldas de S.Maria Madalena ou de Carlão. Possui capela cujos oragos são S.Bárbara e S.Cornélio. Sobreira Encravada no monte, toda ela se inclina para o rio Tua, cheia de vinhedos. É o mais distante lugar da sede do Concelho, e dos mais pequenos aglomerados da Freguesia. Contudo, é muito rica em história e tempo. Vem já da época castreja e há indícios de ter sido um importante povoado até já na alta Idade Média. A sua história está ligada à de Abreiro, já que em tempos fez parte do seu termo. Só a partir de 1853 é que passou a pertencer ao Concelho de Murça, como Freguesia independente. Nos anos 40 do século XX, foi anexada à Freguesia do Candedo. É um grande centro produtor de “Vinho de Benefício”, e de bom azeite. É um dos povoados cheios de tradição e bairrismo, sendo dos mais característicos do Concelho. Oferece ao visitante uma beleza paisagística ímpar. O “Castelo”, a “Fraga da Lenda”, o “Buraco dos Mouros”, o “Forno da Tia Adélia”, exemplar único no Concelho, e o “Piado do Corvo”, são alguns dos aspectos etnográficos e curiosos a não perder.

Freguesia da Carva (Carva e Cortinhas) É álem de típica, a mais serrana das aldeias do Concelho, onde ainda se mantêm vivas as tradições das suas gentes. Os seus cantares à desgarrada são o bálsamo que lhes ameniza a vida dura. É das povoações mais antigas. Vem dos primeiros tempos da nacionalidade. Nas inquirições de 1220, é referida como uma “pequena municipalização”, e D.Afonso III dá lhe carta de Foral em 6 de Agosto de 1268. Pertenceu ao antigo Concelho de Jales e à Comarca de Moncorvo. Está dividida em quatro bairros: Carva. Carvinha, Galo e Galinha. Os seus habitantes dedicam se à agricultura, cultivando centeio e batata, e à pecuária, criação de gado bobino e caprino, e ainda àapicultura, produzindo o melhor mel da região. Possui duas capelas cujos oragos são S.Bárbara e S.Sebastião, realizando se a festa a 2 de Setembro. Tem um centro comunitário. Cortinhas É um pequeno aglomerado. Produz centeio e castanha. Possui um espigueiro e um relógio de sol, tem uma capela cujo orago é S.António.
Fiolhoso (Cadaval e Levandeira) Situa se na serra, caindo sob o vale profundo do rio Tinhela. As suas cascatas dão à paisagem uma indescritível beleza agreste. Tem no seu termo a mais importante necrópole da época castreja o castro do Cadaval, sito nas famosas curvas de Murça onde foram encontrados valiosos tesouros. Diz se ter lá existido um pelourinho, um castelo e duas famosas fontes que fertilizavam o vale cheio de linho. Era a povoação mais famosa das tecedeiras. Actualmente produz muita batata, castanha, fruta e hortaliças. Tem igreja, orago e festa anual. Tem um lar da terceira idade co financiado pelos governos de Portugal e do Luxemburgo. Cadaval É das mais antigas da época Castreja. É nela que se encontra o famoso castro. Recebeu carta de Foral de D.Afonso 111 em 1253. Ostenta no largo principal uma pequena escultura, “O Capitão”, muito estimado pelas suas gentes. Tem capela e o seu orago, S.Bárbaram, recebe festa anual no segundo domingo de Agosto.

Jou (Aboleira, Banho, Castelo, Cimo de Vila, Freiria, Granja, Noveínho, Maseanho, Penabeice, Toubres e Vale de Égua) Situado num planalto, é ponto de passagem da estrada que liga Murça a Chaves. Até 1835, pertenceu a Carrazedo de Montenegro, depois a Valpaços, e só em 1895 passou a pertencer a Murça. Juntamente com os seus onze bairros, é considerada a maior Freguesia do Concelho. No Castelo, tem uma necrópole que forma um importante conjunto arqueológico. Possui um grupo folclórico, um grupo desportivo e uma associação sociocultural. Além da Igreja Matriz, tem a capela de S. Isabel cuja festa muito importante se realiza no último domingo de Agosto.
Murça Padroeira S.Maria Maior e festa anual ao Senhor dos Aflitos, na serra de S.Domingos, no segundo Domingo de Julho.

Noura (Noura e Sobredo) Situada no cimo de uma encosta, reconhecem se daí as ruínas de um antigo povoado castrejo. Aparece integrada no termo de Murça a quando da concessão do foral a esta por D.Sancho II a 8 de Maio de 1224. É um aglomerado de características urbanísticas com uma rua principal ladeada pelas casas sendo algumas de interesse arquitectónico rural. A população dedica se à agricultura cultivando a vinha, o olival e pomares com variadas frutas. Tem uma igreja, capela, fornos de cozer o pão, azenha, lagares e moinhos famosos. Possui também uma associação recreativa cultural. A festa anual em honra de Santa Bárbara realiza se no penúltimo Domingo de Agosto.

Palheiros (Paredes, Salgueiros e Varges) Situa se nas fraldas da Serra da Garraia. Éuma importante reserva florestal onde aparecem ainda com frequência as mêdas de palha “pallheiros”, daí talvez a origem do seu nome. No seu termo há um importante “castro”, Castro dos Palheiros, que nos últimos anos (1995 2000) foi alvo de escavações e estudos, com o apoio da Câmara Municipal e Instituto Português de Arqueologia, liderada peia equipa de alunos da Faculdade de Letras do Porto. sob coordenação e orientação da arqueóloga Dra. Maria J. Sanches. O castro constitui já um polo de atracção turística. A população dedica se ao cultivo do centeio, vinha e criação de gado. Tem um ermida transformada em santuário religiosos de S. Bartolomeu cuja festa se realiza a 24 de Agosto. Tem ainda mais duas festas, a de S.Pedro e a do Santo Cristo. Paredes e Salgueiros São dois pequenos aglomerados que se dedicam quase exclusivamente à criação de gado ovino, caprino e bovino. Varges Povoado antigo também da época castreja. É rica em amendoeiras espalhadas pelos montados e neles abundam coelhos, lebres e perdizes, sendo muito conhecida pelos caçadores.

Valongo de Milhais (Valongo de Milhais, Carvas, Ribeirinha e Serapicos) Povoado antigo dos princípios da nacionalidade. A sua população dedica se à agricultura, sendo terra de muitos emigrantes. Possui no seu termo minas de volfrâmio e estanho hoje paralisadas mas com grande actividade durante a 23 guerra mundial. Tornou se famosa por ser a terra natal do herói da la guerra mundial, o soldado Aníbal Augusto Milhais, apelidado de Milhões pelos seus feitos militares. Em homenagem a esse herói, o governo português, através da lei 1618, de 5/7/1924, passou a chamar à localidade Valongo de Milhais. Carvas Situada no monte sobranceiro à margem esquerda do rio Tinhela. A sua população dedicase à agricultura, produzindo muita castanha. Tem igreja e festa anual. Ribeirinha e Serapicos Dois povoados em localizações apostos. A Ribeirinha fica encaixada num vale muito fértil na vertente oposta à vila na serra de S.Domingos. Serapicos fica do outro lado num planalto. As suas populações dedicam se quase exclusivamente à agricultura e criação de gado. Todos têm festa anual.

Vilares (Vilares, Asnela e Fonte Fria) O seu topónimo poderá ter origem nos Villares, sistema de repovoamento pré nacional constituído por famílias. Américo Costa refere que a povoação de Vilares recebeu carta de Foral, dada por D.Afonso III a 10 de Fevereiro de 1267. No seu termo situa se uma riquíssima zona arqueológica onde são evidentes vestígios de civilizações castrejas e dos diferentes povos que habitaram a Lusitânia. Nos Vilares, existem quatro relógios de sol esculturados cada um deles por uma figura humana o Capitão ou o Guerreiro. Fazem ainda parte do seu património cultural lendas e tradições. De referir também a existência de dezenas de “Pisões” para pisar os tecidos grosseiros “Bureis”, usados até há pouco tempo pelo povo para os proteger dos rigores do Inverno. Produz muita castanha, centeio e batata. O seu maior rendimento vem da criação de gado bovino e caprino. Asnela e Fonte Fria São pequenos povoados interessantes pelo seu tipicismo rural. Na Asnela têm sido ultimamente alvo de grande procura os casebres rudes e abandonados espalhados pela aldeia e de que os média têm feito notícia.
Divisão eclesiástica Nos finais dos século XVIII as terras do Concelho de Murça estavam sob a alçada do Arcebispado de Braga. pagando à colegiada de Guimarães 6800000 dízimos. Nos meados do século XIX. pertencia ainda ao arcebispado de Braga mas sob a alçada do distrito administrativo de Vila Real. Nos limiares do século XX, após ter sido criada a diocese de Vila Real. o concelho de Murça ficou até hoje a pertencer lhe.
Donatários A “Casa de Murça” teve a sua origem no reinado de D.João I que fez doações de várias terras ao seu vassalo e escudeiro Gonçalo Vasques Guedes. De doação em doação vão se sucedendo os vários Senhores donatários da Casa de Murça, desde o l° ao 14° senhor de Murça.
Condes de Murça Com a revolução liberal aparecem em Murça 5 condes. Em 11 de Fevereiro de 1826 foi nomeado o primeiro conde de Murça, D. Miguel António Vasconcelos Guedes, nascido a 25 de Dezembro de 1776 e falecido a 7 de Agosto de 1836. Foi possuidor de vários cargos: Governador de Angola e Açores, membro do Conselho da Fazenda, Presidente do Real Erário, Ministro do Estado e Fazenda e Ministro Interino dos Negócios Estrangeiros, além de outros. Seguiram se lhe depois: O 2° conde D.José Maria Vasconcelos Guedes, filho primogénito. O 3° conde, D. José V. Guedes, irmão do 2° conde. Sucedeu lhe a sua filha primogénita 4′ Condessa, D. Mariana das Dores V. Guedes, que foi dama camareira da Rainha Dona Amélia, tendo sido condecorada com a cruz “Pro Eclesia e Pontifïce”. Foi casada com o 3° conde de Sabugosa, distinto escritor e um dos elementos do grupo dos Cinco, “vencidos da vida”. E finalmente, como 5° conde de Murça, o seu segundo filho. Jorge José de Melo. Nasceu em Setembro de 1886. Foi nomeado 5° conde de Murça por D. Manuel 11, já no exílio. Foi este o último representante da hierarquia dos condes de Murça.
Instituições Como autarquia, o concelho de Murça tinha um ou dois Juizes e dois ou três vereadores que formavam a Câmara Municipal eleita pelo povo. Era ela que decidia e executava. A partir de 1640, além dos mencionados, tinha outros funcionários régios que executavam os mandatos. Em 1908, foi criada uma Comissão Administrativa Franquista sob o Partido Regenerador Liberal que iria durar até à implantação da República 5 de Outubro de 1910. Em 1911 foi eleita a primeira Comissão Municipal. Durante o Estado Novo (1933 74), criam se as armas, o selo e a bandeira do Município.
O Mosteiro das freiras beneditinas ou de S. Bento de Murça Foi fundado pelo 8° Senhor de Murça, Simão Guedes, nos finais do século XVI. Era um albergue para acolhimento de andantes e peregrinos e assistência a pobres e enfermos. Mais tarde, em 1587, essa albergaria seria transformada em Mosteiro, com o mesmo fim, tendo por primeiras orientadoras duas freiras vindas de Vila do Conde, que pertenciam à região transmontana, porquanto eram família dos marqueses de Vila Real. O edifício constituía um notável imóvel para a época, formado por um corpo principal, uma ala oriental, um claustro e uma cerca a toda a volta, e uma igreja. Esta era ampla, de abóbada em granito com uma cruz cinzelada numa das paredes laterais e um mausoléu que era a jóia arquitectónica do Mosteiro. À sua volta girava todo o corpo da vila. Com uma cerca, campos de cultivos, fontes da Rainha e de Santana. Os seus serviços e haveres espalhavam se por toda a região transmontana. Contudo, com a má gestão dos juizes ou provedores, e extinção dos mosteiros, vai decaindo, e em 1888, vê se morrer com a sua última freira. No decorrer da sua existência, o Mosteiro desempenhou um papel importante na assistência social. O imóvel e a grandiosa cerca passaram juntos para o poder do Estado. Parte dele foi demolido, e parte do seu recheio depositado na igreja matriz.

Murça entre 1835 e 1985 Sempre ponto de passagem, Murça presenciou e viveu múltiplos acontecimentos históricos que atravessavam a paisagem transmontana. Assim, neste período conturbado, foi palco e sofreu com as lutas fratricidas que mancharam a história portuguesa. Por Murça passaram o Duque da Terceira e seu ajudante o Marquês da Fronteira e de Alorna. A sua ordenança o Marquês de Castelo Melhor e ainda o Marquês de Santa Marta. O movimento republicano teve forte implementação em Murça tendo algumas personalidades locais encabeçado a causa. Foi criado o Centro Republicano Murçaense, e a 19 de Março de 1911 foi eleita a primeira Comissão Municipal Republicana incumbida de dirigir os destinos da Câmara Municipal e do Concelho. Estes foram tempos difíceis, não só pela mudança de regime como do aparecimento da Pneumónica em 1918, que dizimou grande parte da população, como ainda do movimento da Monarquia do Norte. Em Murça, estacionaram durante largos dias as forças militares de Vila Real e Amarante. A Traulitania, nome dado ao período de lutas entre as duas forças rivais monárquicos e republicanos, teve aqui grande movimento. De realçar a pintura da porca com as cores das facções vitoriosas que ora ostentava as cores da República ora as da Monarquia. Em 1922, sendo presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal Basilio Constantino Breia, são postas a circular notas em papel moeda exclusivas do Concelho. Com a 2′ República até ao 25 de Abril, Murça vai vivendo ao sabor da História, quase sempre em letargia. Só após o 25 de Abril de 1974, com Joaquim Ferreira de Torres presidente da Câmara, é que em Murça se vai notar algum progresso e desenvolvimento.

Património Artístico

O Concelho de Murça. dada a sua vivência e contacto com diferentes povos através de séculos de História. é riquíssimo em património artístico e cultural. Ao longo dos tempos a sua obra artística foi vencendo gerações e fez das suas gentes um historial de memórias cuja identidade cultural reflecte a vivência dos seus ancestrais. Além do valiosíssimo tesouro achado nas escavações nos últimos tempos, em castros como o do Cadaval e o dos Palheiros 1995/2000 , temos a salientar os seguintes imóveis:


Hospital da Santa Casa da Misericórdia

O hospital propriamente dito só foi fundado em 30 de Julho de 1923, pela Irmandade, para dar cumprimento ao estabelecido nos seus Estatutos. Teve grandes beneméritos, entre os quais o Marquês de Vale Flor, e mais tarde Alfredo Pinto. Passou por várias instalações mas o edifício actual só foi inaugurado a 31 de Julho de 1936 pelo Presidente da República General Oscar Carmona. Em 1978, passa para o Estado. Passa novamente para a Santa Casa em 1998. Brevemente irá beneficiar de obras de recuperação para servir a população em áreas de saúde em que o concelho édeficitário. É um belo imóvel de várias águas, digno de ser admirado.


A Capela da Misericórdia

A Capela da Misericórdia, também chamada de N.S. da Conceição, é o monumento arquitectónico mais gracioso e interessante dos edifícios religiosos da província transmontana. Situada a meio da rua principal, estrada nacional n°15, no limite da rua Marquês de Vale Flor e Alfredo Pinto, foi classificada monumento de interesse público. Construída em 1692, na sequência do desenvolvimento das Misericórdias, foi pertença dos Melos, primeiros condes de Murça. A sua fachada principal, de estilo barroco, é uma das mais belas e sumptuosas que se podem admirar. Rigorosamente simétrica, a entrada é ladeada por quatro colunas salomónicas, lavradas em granito de Murça, ornamentadas por figuras estilizadas de animais e plantas, entrelaçando se com parras e uvas. A robusta porta é decorada com oito belas almofadas que lhe dão um aspecto de fortaleza e imponência. A encimá la está o brasão dos Melos, coroado e atravessado por uma diagonal onde estão inscritas as palavras “Avé Maria”. É ladeada por duas janelas octogonais que iluminam o coro. Este primeiro conjunto é rematado por um entablamento liso de estrias horizontais. O remate, quase triangular, é bordejado com um friso de ramos e flores de sabor barroco, tendo ao meio um anjo estilizado. No topo uma cruz de braços também retorcidos. No centro deste conjunto assenta um nicho com a imagem da padroeira N.S. da Conceição ladeado por duas colunas retorcidas. De um e outro lado duas rosáceas com inscrições em latim que dizem: “A sabedoria edificou um templo para si e talhou sete colunas”. A outra: “Como é terrível este lugar, esta é a casa de Deus e a porta do Céu”. Ladeando este grupo dois pináculos rematados por duas águias. No interior do edifício, de planta rectangular, sobressaio altar mor. barroco e jesuítico, com ornamentação manuelina, constituindo um espécime único. O retábulo divide a nave central em duas partes: O lugar dos leigos e o dos irmãos da confraria. No presbitério há dois altares laterais em talha dourada e em estilo barroco e pinturas a óleo. O camarim central é encimado pelos brasões dos senhores de Murça. No tecto abobadado, pintado a fresco, sobressai a figura do Rei David cantando salmos ao som da harpa. A sacristia tem a porta revestida a talha. A pia de água benta, de mármore, tinha incrustações a lápis lazúli que o tempo ou o vandalismo retiraram. Esta é uma belíssima obra de arte e o mais sumptuoso monumento da arquitectura religiosa que vale a pena visitar.

Igreja Matriz ou Paroquial de Murça Edificada no local onde já existia a capela de N.ª S.ª da Assunção, veio substituir, agora mais no centro do aglomerado, a Igreja principal de Santiago. A sua construção remonta a 1707, sendo reconstruída e ampliada em 1734, altura em que passou a ser Igreja Matriz. A sua fachada é simples, nada tendo a realçar de estilo arquitectónico, com excepção da bela cúpula da torre. Contudo no seu interior existem autênticos tesouros, tais como: O tríptico composto por três pinturas separadas, devendo datar entre os anos 1564 66. São atribuídas a Pedro de França. É composto pelo Calvário que ocuparia o centro, e os outros dois, S. Francisco recebendo as estigmas e o bispo S. Martinho, as abas. As imagens laterais têm metade da largura da central e dobrar se iam sobre esta formando um conjunto. Segundo Reinaldo dos Santos é um desenho um pouco duro. modelação esculpida com talha em madeira e cor de tons frios. Vale a pena admirar esta admirá\el jóia quinhentista. Na Igreja há ainda a salientar a pia baptismal de um manuelino tardio. E ainda do lado esquerdo, um maravilhoso retábulo de rara beleza e qualidade artística, que ostenta uma das mais belas e perfeitas imagens do Sagrado Coração de Jesus. Por todo o retábulo sobressai uma decoração simples, estilizada com volúpias e concheados dourados, sem o exagero do barroco. De lado, dois anjos alados admiram a simplicidade, finura e beleza dos traços que um coração raiado coroa. Existe também um valioso espólio de imagens recebidas da bela igreja de Santiago: A de Santiago, S. Vicente, S. José da Roca, N.ª S.ª da Cana Verde e muitas alfaias religiosas. Em 1734, à nova igreja, foi lhe acrescentada a torre cimeira guarnecida com uma linda cúpula bojuda. O altar mor, de 1742, é todo revestido a uma belíssima talha dourada em estilo barroco italiano, bem como os dois altares laterais de S. José e S. Macário. De realçar também o crucifixo de uma rara expressão dolorosa. Em 1834, recebeu também o espólio do extinto Mosteiro de S. Bento, situado mesmo ao lado. Dele vieram além de várias imagens o altar de S. Vicente, de estilo Josefino com ressaibos joaninos. Em 1902, foi ampliada com jardim e adro, muro de vedação e portão de entrada. Em 1924, a igreja sofreu novo restauro. Enquanto as obras duraram, substituiu a a capela da Misericórdia, lá ficando desde então o belíssimo sacrário que viera também do Mosteiro. Em 1937, a igreja foi enriquecida com um relógio.

Pelourinho Classificado de monumento nacional por decreto de 16 de Junho de 1910, é um dos mais belos e bem conservados exemplares portugueses. Originários da Idade Média, os pelourinhos são a marca do Concelho, símbolos da liberdade e autonomia municipal, brasão do povo. Era junto deles que se executava a justiça municipal, muito mais isenta e branda que a dos “senhorios”. Localizava se quase sempre no centro da população, geralmente em frente do Município para servirem de exemplo aos prevaricadores aquando da execução dos castigos. O actual pelourinho de Murça data do século XVI, não sendo este já o primitivo. A sua construção deve datar de 1512, data da renovação do Foral ao Concelho. Situa se no centro da praça principal da vila, mesmo em frente ao actual edifício da Câmara Municipal, da igreja matriz, e dos antigos paços do Concelho, outrora convento das freiras beneditinas. É enquadrado ainda por belos exemplares de casas senhoriais. Constitui um verdadeiro exemplar do estilo gótico. Todo feito em granito, assenta numa plataforma de sete degraus graníticos em forma piramidal, do meio dos quais se eleva uma elegante coluna em cordão. Encimada por um capitel que ostenta do lado sudoeste o brasão de D. Manuel e na face para sudeste as armas dos Guedes, donatários de Murça. Sobre este capitel assenta um triplo remate com cinco pequenas colunas idênticas à da base, em cordão. No meio da coluna, é visível ainda uma argola em ferro para prender os castigados.

Ponte romana (Filipina ou Ponte Velha) Troço viário classificado como Imóvel de Interesse Público, em 1983. Edificada sobre o rio Tinhela, a ponte romana foi até finais do século XIX o único ponto de passa em obrigatória que ligava Astorga a Braga e à foz do rio Douro, atravessando todo o Concelho de Murça. Era nela que se fazia a bifurcação para os dois destinos; a primeira passando por Jales. via Braga, e a segunda por Vila Real. A ponte é um magnífico exemplar da arquitectura romana. formada por um só arco de volta inteira, robusta e elegante, com 12.5m de comprimento, 3 m de largura e 5 de altura. No tempo de Filipe 11 de Espanha, entre 1583 e 1595, foi restaurada. como comprovam as inscrições gravadas num padrão à margem esquerda do rio Tinhela, e que por isso foi também chamada ponte filipina. Sofreu posteriormente outras reparações. Há ainda esculpido num marco granítico, e junto àbifurcação, outra data, 1818, indicando as direcções. O troço da via romana, ainda hoje bem conservado, e o castro do Cadaval, ali bem junto no monte que lhe é sobranceiro, são bem a prova da importância deste traçado via e ponte.

Ponte Nova Construída em 1872, toda em pedra, a cerca de 1 km a nascente da ponte romana e a poente de Murça, com 33 m de altura, de um só arco, é um belo exemplar da época do Fontismo. Edificada sobre o rio Tinhela, como a romana, faz a ligação da estrada nacional n°l5, que liga o Porto a Bragança, passando por Vila Real, Murça e Mirandela.

Ponte do Ratiço Fica no outro extremo da Vila de Murça. Também toda ela construída em pedra, é mais pequena que a Ponte Nova. É junto dela que se faz a bifurcação da nacional n°15 com a nacional 214, que dá acesso à terra quente do Concelho.

Nova Ponte Construída também sobre o rio Tinhela, inaugurada a 6 de Maio de 1995, é das mais altas de Portugal, com setenta metros de altura. Faz a ligação da IP4 entre Porto e Bragança. Qualquer destas pontes constituem avanços valiosíssimos para o progresso da zona transmontana, imponde se como marcos importantes na rede viária, regional e nacional. Há ainda outros imóveis de interesse arquitectónico: Casa dos Morgadinhos assim chamada por ter pertencido aos Morgados de Murça. Foi construída no século XVI, e o seu traço mais característico é possuir uma janela de ângulo geminado. Casa dos Condes de Murça fica situada na praça em frente ao Pelourinho. Ostenta o brasão dos condes de Murça. Há ainda a considerar a casa das Laranjeiras, a casa do Seixo, a capela de Santa Rita, a capela de S. Sebastião, a casa de Frei Inácio Cardoso e a casa de Manuel Seixas Veloso, além de casas rústicas, fontes e fornos de secar figos, espalhados por toda a zona rural do Concelho.

Jornais de Murça

Com o movimento republicano, multiplicaram se os órgãos informativos, em especial durante a V Republica, 1910 1926. Os jornais serviam então não só como veículos informativos como se afirmavam também como culturais. Destacaram se: O Povo de Murça Quinzenário Republicano iniciado a 31 de Janeiro de 1911. É um acérrimo defensor das ideias republicanas. Identifica se com o próprio povo de Murça, uma vez que este entendeu ser seu dever lutar pelos interesses da pátria. Assim, o jornal enaltece os valores da justiça, da liberdade, do amor e da fraternidade. Além desse papel, informava e esclarecia. Foram seus animadores, Dr. Fonseca, Dr. Sampaio, Baptista Lobo, entre outros. Durou apenas um ano. Ecos de Murça Quinzenário republicano. Iniciado a 15 de Janeiro de 1912. Afirmou se como um órgão de comunicação disposto a lutar pelos interesses do Concelho. É uma continuação ou substituto do anterior “Povo de Murça”. Comungava do liberalismo francês. Estimulava o povo a sair do marasmo e da pobreza a que o votaram os séculos de dominação monárquica. O Morcego Quinzenário iniciado a 2 de Maio de 1916. Este jornal é mais uma sátira. onde a crítica construtiva procura contribuir para uma vida melhor que no passado. O Morcego visa sobretudo criar novas mentalidades e modificar o comportamento humano, criando um sujeito mais responsável, com personalidade e integridade moral. A Ideia Quinzenário iniciado a 21 de Outubro de 1926. Foi um jornal de curta duração. Tinha um plano muito idealista e filosófico. “Lutar por este povo, pelos seus filhos, é combater por toda a humanidade.” São as palavras do editorial do primeiro número. A voz de Murça Quinzenário. Surge como continuação do “A Ideia” a outra ideia de maneira que a sua voz possa introduzir se em todos os lares “como fiel intérprete de todos aqueles que lhe sejam queridos e sempre lembrados”.

Colectividades

Santa Casa de Misericórdia de Murça É uma associação humanitária cujo princípio básico é o bem da comunidade. Iniciou se com a abertura do Externato Técnico Liceal de Murça, sendo seu provedor António Rodrigues (1962 1964). Ligada a esta Santa Casa está todo um trabalho de acção que importa realçar: Construção do bloco habitacional, sendo provedor, Manuel Abreu Seixas Veloso (1967 1987); construção da creche, jardim de infância e ATL, Lar, Centro de Dia e apoio domiciliário de Murça provedor José de Medeiros Mendonça (1983 1990); construção Centro de Dia, apoio domiciliário. ATL de Carva; criação e abertura da Escola Profissional Marquês de Vale Flor, de Murça: ampliação do infantário e abertura do pré escolar em Murça; construção do lar, Centro de Dia e apoio domiciliário do Fiolhoso; Centro de Apoio de Tempos Livres de Jovens em Murça; apoio domiciliário às freguesias de Candedo e Noura Provedor Padre Francisco Baptista Sousa (1990 1998). É seu provedor actual Belmiro M.M. Vilela.

Banda Marcial de Murça
É considerada das mais antigas e famosas do país. Foi fundada em 1871 por um oficial francês. Por ela passaram dedicados maestros, entre os quais o sargento Pelotas, Manuel Caramêz, Manuel Pereira e Albano Pereira, que muito contribuíram para a fama desta filarmónica. Em 1983 foi construída a casa da música, que com a sua banda constitui um foco cultural e alegre na vida da comunidade. Adega Cooperativa de Murça Caves da Porca. Sendo Murça um centro vinícola por excelência, com o “vinho de benefício” e outras castas famosas de consumo, não podia deixar de ter uma adega. Foi fundada em 1965 por Francisco Carneiro Lopes. Os seus objectivos eram a comercialização dos vinhos sem intermediários que prejudicassem o agricultor. É uma das maiores da região, possuindo equipamento sofisticado e moderno. quer no tratamento dos vinhos, quer no seu engarrafamento. “Vinifica anualnnente cerca de 40000 hectolitros de vinhos entre generosos (Vinho do Porto), DOC Douro, regionais “Terras Durienses” e de finesa provenientes das tinas produzidas rios cerca de 850 hectares de vinha dos seus associados. O cultivo da vinha neste concelho é tão ou mais antigo que a mais que bilénia Porca de Murça (século VI a.C), ex líbris do concelho e emblema das caves. Conjugando os métodos de vinificação dos seus antepassados com a moderna tecnologia instalada, continua esta adega a produzir vinhos coar características “sufi geraeris”, cujas qualidades vêm sendo reconhecidas com diversas distinções, tios mais afamados concursos nacionais e estrangeiros “. in brochura Caies da Porca, de 2000. As vendas efectuam se em todo o país e no estrangeiro, e além de “vinho de benefício” produz vinhos maduros, tinto, branco, rosé, reservas especiais e bagaceiras. O Presidente da direcção da Adega é actualmente António Luis Rodrigues Breia.

Cooperativa Agrícola dos Olivicultores Sendo Murça também uma região de muito bom azeite, possui a sua cooperativa olivícula que foi fundada em 21 de Julho de 1956, devendo se a sua fundação e dinamização ao padre Adriano Alves que aí viveu durante 39 anos. O objectivo primordial é transformar, promover e vender o precioso azeite de que o Concelho é farto com as melhores condições para os associados. O azeite de Murça, com a marca registada de “Porca de Murça”, é uma azeite genuíno com denominação de origem protegida, estando identificado por uma marca de certificação. É comercializado em embalagens de 5, 0.7 e 0.5 litros, tendo esta última ganho o primeiro prémio, além de outros, dos melhores azeites de Trás os Montes. É seu presidente actual Alfredo M. C. Botelho Meireles.

Bombeiros Voluntários de Murça Esta associação humanitária foi fundada a 8 de Dezembro de 1928 e ficou a dever se a uma dinâmica comissão de fundadores constituída por Dr. Moutinho, Dr. Manuel Morais Fonseca e José de Castro Júnior. Possui edifício próprio, inaugurado a 29 de Julho de 1973. Esta associação humanitária teve ao longo dos anos alguns beneméritos, entre os quais Américo Breia. D. Adelaide Queirós e Ferreira Torres. Por esta cooperação passaram homens que deixaram rasto pela dádiva e desprendimento que dedicaram à causa. Destacam se Firmino Fonseca, Graciano Gouveia e Abílio Alves.


Gastronomia

Merecem realce pela sua qualidade e sabor gustativo as famosas queijadas e toucinho do céu, cuja composição à base de chila, amêndoa e gemas de ovo, são do melhor que se pode apreciar. O segredo do seu fabrico deve se à D.Serafina Alves que serviu no convento das freiras. É uma sua neta, Maria José (Zézinha), que hoje mantém a tradição. Além destes dois manjares dos anjos há ainda a referir o cabrito assado no forno com batatas miudinhas e o arroz de forno a acompanhar, e ainda o bacalhau cozido com batatas e couves da terra regadas com bom azeite de Murça. Há ainda o famoso fumeiro cujas alheiras nada ficam a dever às das zonas limítrofes.

Caldas de Santa Maria Madalena (ou de Carlão)

Ficam situadas na margem esquerda do Tinhela, a poucas centenas de metros da sua foz, no rio Tua, no termo da aldeia de Porrais, freguesia do Candedo. Encravadas nas vertentes, elas impõem se por si mesmas, pela sua rusticidade, pela sua importância e pela sua paisagem agreste, ainda que só com céu e pouco horizonte. Elas são a memória de quem viveu as suas noites enluaradas dos anos 50 a 70. Mas elas nasceram muito antes. Já os romanos as conheciam, pois lá deixaram os seus vestígios. Paradas no tempo, as suas águas milagrosas, sulfúreas, com o seu odor a enxofre. aromatizavam o corpo e a alma de saúde a quem delas se abeirava. A primeira referência a estas caldas data de 1726, “in Aquilegio Medicinal” de Francisco Fonseca Henriques. a quem chamou Caldas de Favaios. Em 1758, o cura do Candedo informa a sua autoridade religiosa da existência e importância dessa “fonte” “à coal fonte se vam lavar algumas pesoas e dizem eisprimentar milhoras de algumas queixas”. Em 1763 e 1788, voltam a ser mencionadas. Em 1810, Francisco Tavares, médico da rainha D. Maria I, fez pela primeira vez o seu estudo científico. Em 1909, Baptista Lamas faz delas um artigo para a revista “Ilustração Transmontana”. Mais perto de nós, Pinho Leal, Miguel Torga. mencionam nas, e o Dr. José Bulas Cruz (1942) apresenta nos trabalhos de investigação sobre o valor terapêutico das águas. São elas doenças de pele eczemas, acne, seborreia. sífilis. prurígo, etc doenças do aparelho digestivo, do aparelho respiratório e ainda reumatismo articular agudo, sendo por este último o mais procuradas. Em 1979, também o inventário hidrológico de Portugal, de Amaro de Oliveira e João de Almeida as mencionaram. Só com Joaquim Ferreira Torres, Presidente da Câmara Municipal de Murça, é que se decide fazer o seu aproveitamento, iniciando obras. As novas instalações foram inauguradas em 13 de Julho de 1986, abrangendo um restaurante com serviço permanente de refeições. um bar e um bloco de oito balneários com gabinete médico. Dá acesso às caldas. além de outras. a estrada que liga a ponte do Ratiço em Murça a Vila Chã, a que vai por Carláo. Concelho de Alijó, e ainda o caminho de ferro da linha do Douro com saída na estação da Brunheda.


Murça Hoje Roteiro turístico

Além de tudo o que fica descrito, vale bem a pena visitar a bela. hospitaleira e próspera vila de Murça. De acesso fácil, pela A4 e IP4, distando do Porto em tempo mais ou menos 75 minutos, nos seus cerca de 95 Km, é um lugar aprazível, de trato humano simples e afável, com paisagens deslumbrantes, pelo seu encantamento rústico. Do IP4 pode avistar ao longe, à sua frente, o sumptuoso “Crasto dos Palheiros”. Se optar por sair desta, pode descer as famosas curvas de Murça, onde em cada ano se realizam as provas na modalidade de “Rampa internacional Porca de Murça”. Aqui pode dar uma espreitadela ao castro do Cadaval e à antiquíssima estrada romana. No desporto automóvel, tem ainda o “Todo terreno”, o “Autocross” e o “Kartcross”, que fazem as delícias dos apaixonados pela velocidade e desportos motorizados. Agora entre. Suba pela rua Marquês de Vale Flor e admire pelo menos de fora, a fachada da Igreja da Misericórdia. Já no interior da vila, observe o ex libris da terra, o pré histórico monumento “A Porca de Murça”, situado no meio de um pequeno mas agradável jardim. Entre na Igreja Matriz e extasie se com os seus retábulos, o seu altar mor, a simplicidade, o conforto e o recolhimento de todo o conjunto místico. Em frente desta, entre no café e saboreie as deliciosas queijadas. Depois, alguns metros adiante, observe o pelourinho plantado no meio da praça e bata uma foto de recordação. E finalmente não se esqueça de subir ao monte de S. Domingos. onde se embebedará com o fascínio paisagístico, tendo aos seus pés, de tapete, um verdadeiro jardim de Oliveiras. E por último ainda, faça uma visita ao Crasto dos Palheiros. Este é um centro político e religioso desta região com cerca de 5000 anos. “O Crasto é um morro altaneiramente destacado de um maciço rochoso de xisto quartezítico, pelos seus quase 600 metros de altitude absoluta, e pelas vertiginosas falésias escarpadas que lhe dão forma do lado .sul, virado n aldeia de Monfebres. Localiza se a .sudeste da aldeia de Palheiros (entre esta aldeia de Varges e de Monfebres), Concelho de Murça, e integra uma firea arqueológica superior a 2,5 hectares. O Crasto vê se de muito longe. Vê se e é visto. Convrdanro Io a subir; Daqui o olhar domina urra paisagem muito heterógenea, natural e humanizada, criada tanto pela georrrorfologia P cursos de água, couro pela labuta do homem. Vinhedos e olivais e rnesnio pequenos .soutos, imergindo por entre campos abandonados ao uiatagal de estevas, urzes, giestas e tojo, anunciam as povoações cheias de cor, rodeadas também elas de pequenas hortas vedes. Matas de carrascos e sobreiros subsistiram ao plantio generalizado de pinhais e de eucaliptais. Mais longe, a serra da Garraia e a bacia de Mirandela, a serra de Bornes e os Picos da Sr°. da Assunção (Vila Flor), o planalto granítico de Carrazeda e de Alijó, que forma cumeada com a Serra da Padrela, vão assumindo formas e cores que só a experiência de cada um pode narrar. ” in brochura turística do Concelho de Murça, Serviços Culturais Câmara Municipal de Murça, Julho 2000. Para finalizar a visita, entre num dos muitos restaurantes, delicie se com as alheiras e traga algumas consigo. Estão em fase de construção a Biblioteca, Auditório e Museu onde se irá arquivar, salvaguardar e catalogar muito do património arqueológico, artístico, cultural
Donzília Martins Licenciada em História e Docente do Ensino Secundário

In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,
coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura.
Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães – Tel/Fax: 253 412 319, e-mail: ecb@mail.pt

Preço: 30 euros

(C) 2005 Notícias do Douro

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