Concelhos

Alfândega da Fé

GEOGRAFIA, NATUREZA E OCUPAÇÕES DA POPULAÇÃO

Apesar de registar ao longo dos tempos algumas alterações dos seus limites geográficos, (nos finais do século XIX chegou mesmo a ser extinto), o concelho teve sempre como elementos de referência a Serra de Bornes a norte, o vale do rio Sabor a sul, o planalto de Castro Vicente a este e o vale da Vilariça a oeste. Falamos assim de uma área que atualmente ronda os trezentos e dez quilómetros quadrados, mas onde se observa uma verdadeira síntese geográfica e paisagística de Trás os Montes: as serras, os pequenos planaltos de altitude, os vales cavados e profundos de alguns cursos de água e as zonas de vale aberto, como a Vilariça; uma flora que vai do castanheiro ao sobreiro, passando pela oliveira, a amendoeira, a cerejeira, a laranjeira e a vinha, para além dos cereais, nomeadamente o centeio, que ainda há bem poucos anos se cultivava a cerca de mil metros de altitude. Com amplitudes térmicas anuais muito elevadas, o Inverno e o Verão cumprem aqui o conhecido ditado; as serras cobrem-se frequentemente de neve e os gelos são abundantes; a Primavera é intensamente florida e verde, graças à enorme diversidade da flora selvagem, mas também das amendoeiras, das cerejeiras, macieiras e outras árvores de fruto que abundam um pouco por todo o concelho; no Verão o calor aperta e a paisagem torna se mais árida e seca, situação que é minimizada pelas várias barragens e pelos vales dos cursos de água principais, nomeadamente do rio Sabor, onde se passam bons momentos de lazer; no Outono o amarelo e o dourado dos castanheiros rivaliza com o florido primaveril e convida para sossegados percursos pelos caminhos da Serra de Bornes, que lá do alto dos seus mil e duzentos metros de altitude olha permanentemente para todo o concelho, como se fosse sua sina servir de guarda e sentinela às gentes simpáticas e laboriosas que aos seus pés constroem há milhares de anos a sua própria história. É certo que o número dos “vizinhos” já foi maior. Como todo o interior, também por aqui a desertificação humana tem deixado marcas profundas, resultando numa perda real de população, com escolas a fechar as portas e outras a caminhar para lá, com a população residente a ficar envelhecida e a juventude a ter dificuldades em não encontrar soluções de vida que garantam a sua fixação. É a grande batalha das últimas décadas, com algumas vitórias ganhas, mas a requerer do país mais apoio e melhor atenção. Atualmente com cerca de sete mil residentes e 6.102 eleitores inscritos, o concelho ainda encontra na agricultura a sua maior riqueza, apesar das crescentes dificuldades deste sector económico, provocadas pela competição dos mercados, pela falta de mão de obra, pela difícil introdução da mecanização, devido às características dos terrenos, mas sobretudo pela inexistência de uma política agrícola nacional com coragem para efetuar uma verdadeira reconversão das culturas tradicionais, ou uma séria certificação da qualidade biológica de produtos como o azeite, a amêndoa, a castanha e toda a fruticultura, para além do queijo e do fumeiro, da gastronomia, nomeadamente a doçaria ligada à amêndoa e à cereja, as compotas e os licores tradicionais. Estas gentes laboriosas e resistentes a todas as vicissitudes da história aprenderam desde tempos remotos a encontrar formas de auto produção bem patentes nas ruínas dos moinhos e dos pisões do linho, nos fornos de telha e de cal, na arte das tecedeiras e das bordadeiras, dos cesteiros, dos latoeiros, dos ferreiros, dos albardeiros, dos sapateiros e dos alfaiates; desaparecida a cultura do bicho da seda e a do linho, que tiveram grandeza assinalável neste concelho, quase tudo se foi perdendo aos poucos e só recentemente se têm dado algum impulso à preservação dessas artes que foram, primeiro, um complemento da economia agrícola e hoje são já um fator de património cultural, agora designado por artesanato. O esforço de desenvolvimento das últimas décadas foi aumentando o peso do sector de serviços, do comércio, da hotelaria e similares e das pequenas indústrias e o turismo começa agora a dar os primeiros passos, assim como o aproveitamento ordenado dos recursos cinegéticos, uma das grandes riquezas e aposta de futuro deste concelho.

UMA SEDE DO CONCELHO EM CRESCIMENTO

Com efeito, na sede e no concelho em geral existe um conjunto de equipamentos que conferem uma boa qualidade de vida aos que aqui vivem. Electricidade, água domiciliária, saneamento básico, e estradas asfaltadas têm uma cobertura total no concelho, que em termos ambientais foi dos primeiros a encerrar a sua lixeira municipal. Subsistem alguns problemas que a autarquia continua a esforçar se por resolver o mais rapidamente possível, como o abastecimento de água tratada a toda população (neste momento ainda há cerca de 35% de munícipes que não usufrui desta regalia) a solução para as fossas sépticas de algumas localidades e o novo plano de tratamento de águas residuais e industriais na sede do concelho. Mas a verdade é que, comparando com outros concelhos da região, o de Alfândega da Fé ocupa um dos lugares cimeiros, facto que se comprova com a enumeração dos equipamentos modernos que existem na sua sede. Um dos Centros de Saúde mais dinâmicos do país, conjuntamente com outras iniciativas privadas na área de saúde, garantem o atendimento da população, muito embora não evitem a necessidade de deslocações diárias de muitos utentes para os hospitais chamados distritais e inconcebivelmente todos localizados na corda Bragança Mirandela; estes transportes são assegurados pelos Bombeiros Voluntários, também com modernas instalações e viaturas e que, para além deste importante serviço têm dado boa conta das suas responsabilidades em matéria de protecção civil e de fogos florestais. O Lar da Terceira Idade da Santa Casa da Misericórdia, o do Santuário de Cerejais (Mariano) e outras unidades semelhantes, mas de menor dimensão, localizada nas maiores freguesias do concelho, garantem a assistência à terceira idade, para além de efectuarem ainda um importante serviço de apoio domiciliário. Na vila situam se as maiores Escolas, desde pré escolar ao ensino secundário, mas a frequência escolar é garantida a todos os jovens, mesmo os do pré escolar, sendo o respectivo transporte inteiramente gratuito há mais de uma década; uma excelente e dinâmica Biblioteca Municipal complementa estes equipamentos educativos, o mesmo vindo a acontecer com a Casa da Cultura, em construção, pensando se já na construção de um moderno pólo para todo 0 1° Ciclo, como forma de solucionar o problema da eminência de encerramento da maior parte das escolas das aldeias, por insuficiente número de alunos. Em matéria de equipamentos desportivos a situação é aceitável, com um Campo Municipal que vai respondendo às necessidades e que dentro em breve sofrerá alterações profundas e dois Pavilhões Desportivos cobertos; também não faltam as Piscinas para o lazer dos dias quentes de Verão, infra estrutura que vai igualmente ser objecto de remodelação, no sentido de ser possível a prática da natação durante todo o ano. Ao nível do comércio a grande aposta foi a construção de um Mercado Municipal, com uma área destinada ao comércio local, assim como do Recinto da Feira, actividade que se realiza quinzenalmente e cuja origem é medieval. Este espaço, que é considerado pelos feirantes dos melhores que existem na região, contribuiu para “reanimar” a própria feira, atraindo mais comerciantes e mais público e foi ainda preparado para a realização de iniciativas culturais e desportivas, realizando se ali, por exemplo a Feira da Cereja. A indústria e as actividades a ela ligadas começam agora a ter alguma expressão, para o que contribuiu decisivamente a criação da Zona Industrial, cuja área começa a ser pequena para as solicitações e onde trabalham já, de forma permanente, algumas dezenas de pessoas. A agricultura, base fundamental da economia do concelho, apresenta ainda muitas necessidades, nomeadamente no que respeita à construção de novas barragens para alargar a área de regadio, mas também à urgência de uma nova organização dos regadios já existentes e da capacidade de dinamização do sector por parte da Cooperativa Agrícola local. Para breve está prevista a construção de mais duas barragens, que se juntarão às quatro já existentes e ao todo darão uma capacidade de armazenamento de água superior aos dez milhões de metros cúbicos. Mas é sabido que o esforço nesta área terá ainda de ser maior, uma vez que sem regadio a agricultura terá poucas possibilidades de se afirmar economicamente e, dessa forma, motivar de novo a necessária mão de obra. O turismo é uma aposta recente do município, mas já foram dado passos importantes: à construção de uma moderna unidade hoteleira na Serra de Bornes (Estalagem Senhora das Neves) estão já a associar se iniciativas privadas, nomeadamente hoteleiras e no campo dos restaurantes, mas também no aproveitamento da caça, com a organização de várias áreas associativas e de uma reserva turística; o Parque de Usos Múltiplos oferece aos locais e aos visitantes um espaço perfeitamente inserido na natureza e o Parque de Campismo é obra que seguramente se lhe seguirá. Para além de todas estas preocupações e de todos estes avanços, basicamente resultantes da dinâmica do Poder Local, a vila foi ainda objecto de uma significativa intervenção urbanística, que lhe conferiu modernidade, sem alterar as suas características marcadamente rurais se tem que, neste aspecto, a defesa e protecção do património, quer na sede, quer no resto do concelho, continue a ser um dos pontos fracos, pesem embora algumas intervenções com algum significado, sobretudo ao nível do património religioso. No entanto, a par de todo este esforço recente para promover o desenvolvimento, foi se esquecendo que o património antigo, histórico ou cultural, construído ou simplesmente oral e manifesto em tradições, quando bem utilizado é também um factor de desenvolvimento.

LENDAS, FEIRAS, FESTAS E TRADIÇÕES

Sendo um concelho antigo e para mais com um nome de origem árabe, é fácil de compreender porque razão o imaginário popular gira fundamentalmente em torno das lendas das “mouras encantadas”, não havendo quase freguesia nenhuma onde esse tipo de situações não nos apareça. Contudo, existem duas lendas mais estruturadas e, de certa forma, com ligação a factos históricos, como é o caso da “Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas”, que pretende explicar uma parte do nome da vila e marca a resistência dos cristãos face à ocupação muçulmana e a “Lenda de Frei João Hortelão”, relacionada com uma personagem real e que, como veremos adiante, tenta explicar a existência, na localidade de Valverde, de uma importante cruz processional.

LENDA DOS CAVALEIROS DAS ESPORAS DOURADAS, OU DO TRIBUTO DAS DONZELAS

Tanto quanto pudemos apurar, esta lenda (e o tributo das donzelas), tem sido referida em várias publicações como “Santuário Mariano”, “Monarchia Lusitana” de frei Bernardo de Brito, na “Chorographia” do Padre Carvalho da Costa, no “Dicionário Geográfico” do Padre Luís Cardoso e posteriormente referida em publicações mais recentes, com uma ou as duas designações acima identificadas. Recentemente foi ainda publicado pela Câmara Municipal de Alfândega da Fé um romance inédito (em termos de livro) de João Baptista Vilares, cujo tema é esta lenda. A Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas, ou do Tributo das Donzelas pode resumir se da seguinte forma: no tempo do domínio muçulmano existia um mouro que, a partir do castelo do monte carrascal, próximo da actual localidade de Chacim (que já foi vila e hoje pertence ao concelho de Macedo de Cavaleiros) dominava toda a região, incluindo as gentes de Castro Vicente (que também já foi vila e hoje pertence ao concelho de Mogadouro) e as de Alfândega e como feudo exigia às populações a entrega de um determinado número de donzelas. Revoltados com este “tributo de donzelas”, os moradores de Alfândega e seu concelho (nomeadamente Vilares da Vilariça) reagiram com armas, tendo os seus “Cavaleiros das Esporas Douradas” organizado uma investida contra o mouro, apoiados pelos de Castro Vicente. A batalha entre as duas partes ocorreu próximo do castelo do mouro; apesar de aguerridos os cristãos começaram por ter dificuldade em vencer as hostes muçulmanas e estavam prestes a perder a luta, tantos eram já os mortos e os feridos; entretanto, apareceu Nossa Senhora, que foi reanimando os mortos e curando os vivos, passando lhes um ramo de bálsamo que trazia na mão; à medida que o grupo dos cristãos se foi recompondo a peleja aumentou de intensidade e os muçulmanos foram completamente rechaçados terminando assim a obrigatoriedade daquele tributo. No local construiu-se uma capela em homenagem a Nossa Senhora de Bálsamo na Mão, hoje o santuário de Balsemão; o local de tão grande chacina deu origem a Chacim, localidade que haveria de ser sede de concelho até meados do século XIX; e Alfândega, graças à valentia dos seus cavaleiros, em nome da fé cristã, passou a designar se Alfândega da Fé. Relativamente a esta lenda e para explicar a existência dos cavaleiros, o Padre Manuel Pessanha sugere que Alfândega da Fé tenha sido sede de uma ordem militar, “antiga, anonyma, muito anterior aos templários, e mesmo a qualquer ordem militar conhecida”3 com cerca de duzentos membros. Na realidade o Padre Carvalho da Costa, na sua “Chorographia”, refere a existência de duzentos cavaleiros, mas o Padre Luís Cardoso, no “Dicionário Geográfico”, refere apenas 25. Entretanto, não deve excluir se a possibilidade de o imaginário popular ter encontrado na Ordem de Malta a ideia dos cavaleiros. Um estudo recente de Belarmino Afonso refere que a igreja de Malta pertenceu àquela Ordem desde D. Sancho I, o que nos leva para o século XII. Ora, como a carta de foral de D. Dinis já identifica Alfândega da Fé como vila e possuindo castelo, é de admitir que o concelho já existisse anteriormente com esse nome, pelo que a lenda só teria sentido se fosse ainda mais antiga, uma vez que os acontecimentos nela contidos servem sobretudo para explicar o “da Fé”. Ou seja, esta lenda pode muito bem ser anterior à própria nacionalidade e transformar se num elemento de estudo que comprove o papel que esta vila teve durante o domínio muçulmano nesta região.

LENDA DE FREI JOÃO HORTELÃO

Frei João Hortelão foi um cidadão real, nascido na localidade de Valverde, em data incerta, uma vez que apenas João Baptista Vilares, na Monografia do Concelho de Alfândega da Fé, refere o ano da sua morte, em 1499, data que parece não condizer com alguns estudos recentes sobre a peça de ourivesaria religiosa, a “Cruz de Valverde”, a que se liga todo o seu percurso “lendário”. Na verdade, este devoto cristão tem uma biografia cujos percursos por terras de Portugal e Castela são pouco conhecidos, podendo concluir se que a faceta da lenda resulta mais do imaginário popular do que dos verdadeiros acontecimentos. O seu carácter religioso e as suas virtudes pessoais, onde não faltou sequer o facto de ser oriundo de famílias pobres e ligadas à pastorícia na aldeia natal, foi sendo, ao longo dos séculos, envolvido em histórias e acontecimentos que ninguém pode hoje comprovar, incluindo o espírito profético que o levou a adivinhar o ano da sua morte. Entre as muitas “façanhas”, quando ainda jovem, conta-se o seu “jeito” especial para a pastorícia dizendo se, como escreve João Vilares, “que deixava o gado à volta do seu cajado e ia ouvir missa aos povoados da outra margem do rio Sabor. Quando regressava, o gado lá estava no mesmo sítio quieto e manso. O amo, sabendo isto, proibiu lhe a passagem do rio na barca, mas ele continuou na sua missão atravessando a corrente, servindo se da sua capa para barco. O patrão, não gostando de tais ausências, despediu o pastor que se dirigiu então para Castela, sempre mendigando pelo caminho Na sua descrição J. Vilares não mencionou que no lugar onde Frei João Hortelão deixava o gado cresceu, segundo a tradição popular, uma cornalheira de dimensões fora do vulgar, transformada em árvore frondosa, cuja folhagem se mantém verde durante todo o ano, ao contrário do que acontece com esta espécie, que na região não atinge mais de dois metros de altura, como arbusto, de folha caduca! Talvez “a outra margem do rio Sabor” não corresponda à verdade histórica e estejamos a falar da antiga povoação de Cilhades, na margem direita, que dá para a encosta onde se encontra a tal cornalheira; bem vistas as coisas, estamos a falar do concelho de Alfândega da Fé, criado por carta de foral de D. Dinis em 1294, cujas fronteiras o separavam de Santa Cruz da Vilariça exactamente naquela zona, pelo local designado por “rebentão”, sendo que toda esta área foi pertença de Alfândega até à reforma dos concelhos de 1855! Mas o espírito “milagroso” deste nosso Frei João Hortelão não se ficou por aqui. Ainda na sua freguesia de origem, existe outro local conhecido por “bardo do Frei João”; o motivo é semelhante: de acordo, uma vez mais, com a tradição popular, naquele local deixava frequentemente o seu rebanho, sem as habituais guardas de madeira, e os animais não saíam do local, de tal forma que ainda hoje o mesmo se mantém sempre com verdura! Despedido do seu emprego, Frei João Hortelão terá rumado até Castela e ficado pela vila de Ledesma, (Salamanca) tomando o hábito de leigo e entrando para o convento de Santa Marina. Diz J. Vilares, na obra citada, que “por meio de esmolas, conseguiu edificar a igreja matriz de Ledesma onde se conserva, segundo a tradição, uma gota de leite da Virgem e uma madeixa do seu cabelo tudo obtido pelo santo varão”. Fernando Pereira, num estudo recente, nega categoricamente estas afirmações, nomeadamente no que respeita à construção daquela igreja. Mas é indiscutível que Frei João Hortelão viveu em Ledesma, onde está sepultado, e em cuja localidade também se confirmam registos populares da sua santidade, nomeadamente aqueles que dizem respeito aos seus dotes para afastar os pássaros das sementes das hortaliças que semeava, actividade que, aliás, acabou por lhe dar o nome! No entanto, a grande façanha que é atribuída pela lenda a Frei João Hortelão resulta de algo muito mais espantoso e menos explicável ainda, porque contraditório com o seu viver conventual: “com bocadinhos de prata que ia guardando na oficina onde trabalhava fez esta formosa cruz”, a Cruz Processional de Valverde, símbolo maior da ourivesaria do concelho de Alfândega da Fé e que a população de Valverde guarda com um autêntico sentimento de Fé, de misticismo e de patriotismo. Fernando Pereira fez uma investigação aprofundada sobre esta peça e trouxe ao nosso conhecimento alguns aspectos que importa referir. Em primeiro lugar, a Cruz de Valverde foi, efectivamente, trabalhada em Castela. Não em Ledesma, mas provavelmente em Astorga e o respectivo ourives é conhecido, o que foi possível identificar através do punção existente na peça. Em segundo lugar e de acordo com o mesmo autor, “pelas características técnicas que apresenta, esta cruz e o par de galhetas, não poderão ir além da segunda década do século XVI”H; ou seja, a ser verdadeira a data da morte de Frei João Hortelão, não existe coincidência entre a vida do mesmo e o fabrico da peça, ainda que as distâncias temporais, por tão curtas e tanta falta de informação, não nos permitam decidir categoricamente não existir relação directa entre os acontecimentos. Uma coisa é certa: aquele estudo provou que a Cruz de Valverde foi executada numa oficina registada e tem os brasões de armas das famílias Velascos e Avellaneda, ambas de Castela, ligadas por laços matrimoniais, mas nenhuma com ligações conhecidas a Valverde. Fica assim a hipótese, que continuará a alimentar a lenda, também corroborada por Fernando Pereira: veio a Cruz, pelas mãos de Frei João Hortelão, parar a Valverde?! E se assim foi, como explicar que peça tão importante, representativa de uma arte específica da ourivesaria castelhana do século XVI, tenha chegado até esta distante e pequena povoação do Nordeste Transmontano? Que haverá de mais interessante do que manter as dúvidas por desconhecimento histórico…e perceber que as Lendas não se mudam no imaginário popular, por maior que seja o nosso conhecimento científico?!

FEIRAS

Actualmente existem duas Feiras no concelho de Alfândega da Fé: uma que se realiza na própria vila, duas vezes por mês, a 17 e 30, e a Feira Anual, que se realiza em dia variável, na primeira quinzena do mês de Junho, integrada na Festa da Cereja. A primeira Feira é de origem Medieval, (Carta de Feira de 1395, passada por D. Dinis) e esteve nitidamente ligada ao processo de repovoamento desta região do Nordeste levada a cabo por aquele monarca, associando se assim ao próprio Foral da Vila, que data de 1294. Esta Feira, que em alguns períodos do ano atinge dimensão razoável, continua a motivar um fluxo apreciável de “tendeiros”, oriundos de várias zonas do Norte do país, com particular incidência dos concelhos vizinhos e mantém a tradição de proporcionar um motivo de deslocação das populações do concelho à vila, que normalmente aproveitam estes dias para tratar de todo o tipo de assuntos. Muito embora não existam estudos precisos sobre esta Feira, ela conheceu algum declínio nas décadas de 70 e 80 do século passado, registando novamente sinais de recuperação, apesar de paralelamente se verificar o crescimento do comércio local. A Feira Anual, começou a realizar se há uma dezena de anos, acompanhando o desenvolvimento da Festa da Cereja, certame de características turísticas realizado pelo Município, em colaboração com a Cooperativa Agrícola local, que tem na cultura da cereja a sua mais importante produção.

FESTAS E ROMARIAS

O Concelho de Alfândega da Fé tem trinta povoações, incluindo a sede do concelho, distribuídas por vinte Freguesias, e praticamente todas possuem um padroeiro em honra de quem se faz uma ou mais Festas por ano. De uma forma geral, estas Festas realizam se nos meses de Julho a Setembro e possuem características comuns: Procissão, (com vários andores de santos, devidamente ornamentados), acompanhada de uma banda musical e “Arraial”, com concerto de banda e actuação de grupos musicais e o tradicional fogo de artifício, normalmente com a sua máxima expressão na designada “descarga da meia noite”. Os programas das Festas mais importantes abrangem vários dias, com particular incidência nos dois últimos, que regra geral coincidem com o Sábado e o Domingo, transformando se num momento privilegiado para o reencontro dos conterrâneos que vivem fora, no país ou no estrangeiro. Destacamos, pela sua tipicidade, regularidade e número de pessoas que envolvem, as seguintes Festas: Alfândega da Fé, (vila), em honra do Mártir S. Sebastião, no segundo fim de semana de Agosto; Sambade, em honra de N.ª S.ª das Neves, no terceiro fim de semana de Agosto e com a particularidade de ter o dia mais importante ao Domingo; Parada, em honra de SC Antão da Barca, no primeiro fim-de semana de Setembro; Vilarelhos, em honra de N.ª S.ª dos Anúncios, no último fim-de-semana de Agosto; Vilarchão, em honra de S. Sebastião, em Agosto, sem data fixa; Valverde, em honra de S. Bemardino, em Agosto, normalmente uma semana depois da festa da vila; Destas Festas, apenas as de Alfândega da Fé e Vilarchão se realizam dentro das localidades, sendo as restantes efectuadas nos respectivos “Santuários”, com especial destaque para os de Stº Antão da Barca e N.ª S.ª dos Anúncios.

TRADIÇOES

Tratando se de uma zona com uma profunda ligação à agricultura, no concelho de Alfândega da Fé mantêm se ainda muitas tradições antigas, nomeadamente as que dizem respeito ao artesanato local, cestaria, latoaria, madeira, rendas e bordados e tecelagem em teares manuais. Em termos mais culturais os cantares de Reis e o Entrudo são os momentos que mobilizam muitas freguesias; o Entrudo na localidade de Vilarchão tem ainda a particularidade da realização da “arreata dos burros”, uma manifestação de origens desconhecidas e que consiste na concentração (bem cedo) e posterior largada de todos os animais pelas ruas das aldeias, participando nesta organização apenas os rapazes. A matança tradicional do porco e os consequentes enchidos é outra das tradições que ainda se mantém. A gastronomia conserva igualmente o sabor de tempos antigos, nomeadamente nas sopas da matança e da segada, nas casulas secas, no molho da horta, nos folares da Páscoa, mas também na doçaria, com destaque para os rochedos e os barquinhos.

AS FREGUESIAS DO CONCELHO

Como já se referiu, o concelho está dividido em 20 freguesias. As aldeias mais importantes, em termos populacionais, económicos e até históricos, ainda que neste aspecto existam motivos de interesse espalhados um pouco por todo o concelho, são as de Sambade, Vilarchão, Vilarelhos e Vilares da Vilariça.

AGROBOM: Esta localidade é sede de freguesia e inclui uma povoação anexa com o nome de Felgueiras. Localiza se a cerca de 10 quilómetros da sede do concelho, para nordeste, na vertente sul da serra de Bornes. A principal actividade é a agricultura, possuindo terrenos férteis, circunstância que pode estar na origem do próprio nome, “campo bom”. Azeite, amêndoa e fruticultura são as principais produções, estando uma parte do termo incluído no regadio da barragem da Camba, construção recente da iniciativa da Câmara Municipal. No profundo e apertado vale da ribeira de Agrobom cultivam se ainda vários produtos hortícolas, que surgem mais cedo, devido às características do microclima ali existente; nessa mesma zona se localizam as ruínas de uma antiga capela (Santa Marinha) acerca da qual se conta uma lenda interessante: como a capela era disputada pelos de Sambade e pelos de Agrobom, por não se entenderem quanto aos limites das respectivas freguesias, a Santa fez o milagre de mudar o curso da ribeira, para que a capela ficasse do lado desta freguesia. Actualmente com 222 eleitores inscritos, os residentes dificilmente ultrapassam a centena e meia de pessoas. A igreja Matriz é um edifício com algum interesse e no interior possui um altar mor em talha pouco bem conservado, mas digno de se apreciar. Realizam se festas em honra de S. Sebastião (20 de Janeiro), Nossa Senhora das Graças (2° domingo de Agosto) e S. Lourenço (10 de Agosto).

CEREJAIS: Esta localidade tem registado algum crescimento nos últimos anos, supomos que em parte pela proximidade e fácil acessibilidade à sede do concelho e pelo impulso social e turístico desenvolvido pelo Santuário Mariano que ali existe e que é um dos mais visitados do país. Actualmente com 269 eleitores, a principal actividade económica é a agricultura, sendo uma passagem obrigatória no tempo das amendoeiras em flor; a pastorícia fez com que nesta localidade se produza um dos melhores queijos da região e a ligação às artes tradicionais permite que ali se possa ainda adquirir excelente calçado de fabrico manual. A proximidade do rio Sabor e as antigas quintas que existiam nas suas margens criou, desde tempos remotos, o gosto pela pesca e, consequentemente, o desenvolvimento da gastronomia que lhe está ligada, verificando se que ainda hoje são muitas as pessoas do concelho, nomeadamente das freguesias vizinhas, que gostam de frequentar a zona da Quinta Branca. O Santuário Mariano de Cerejais é o local mais visitado do concelho, possuindo duas áreas, a Loca e o Calvário que, para além do aspecto religioso, são excelentes miradouros. Realizam se as festas de S. Paulo (25 de Janeiro), do Imaculado Coração de Maria (último domingo de Maio) e de S. Sebastião (último domingo de Julho).

EUCÍSIA: Esta freguesia, que inclui como anexa a localidade de Santa Justa, tem 207 eleitores inscritos e a principal ocupação dos residentes é a agricultura, muito embora exista um número razoável de pessoas que vive dos serviços e da construção civil. Uma parte da freguesia está incluída no vale da Vilariça, pelo que este facto, juntamente com a existência de água com alguma abundância, permitiu a fixação, desde muito cedo, da população. Por esse motivo, nesta zona se concentram alguns dos mais importantes elementos do património histórico arqueológico do concelho: as pedras escritas de “Revides” e das “Ferraduras” e o Castro de Santa Justa. Realiza se uma festa em honra de S. Sebastião, no 1° Domingo de Setembro.

FERRADOSA: Na freguesia de Ferradosa, que tem como anexa a localidade de Picões, localiza se um dos mais importantes vestígios do povoamento Castrejo do concelho, conhecido por “Castelo dos Picões”, localizado na zona do “rebentão”, na margem direita do rio Sabor. Actualmente com 301 eleitores inscritos, esta freguesia tem na agricultura e na pastorícia as suas principais actividades, possuindo bons terrenos nas encostas do rio. A ligação desta freguesia ao rio Sabor é evidente, não apenas através dos terrenos agrícolas, mas também do peixe, abundante naquela zona e em tempos uma actividade importante; por outro lado, convém não esquecer que a travessia para o vizinho concelho de Moncorvo se fazia por “Silhades”, uma povoação extinta na margem direita do Sabor, próxima de Picões, onde existia uma barca para efectuar a travessia Realizam se festas em honra de Santo Amaro, a 15 de Janeiro e de Nossa Senhora de Fátima, no 3° fim de semana de Agosto.

GEBELIM: Esta freguesia localiza se em plena serra de Bornes, o que, do ponto de vista paisagístico, a torna uma das mais interessantes do concelho. Com 276 eleitores, as principais actividades dos residentes são a agricultura, a pastorícia e a floresta. Segundo Pinho Leal Gebelim é uma palavra de origem árabe, resultante da corrupção da palavra “Jabalain”, que significa “dois montes”. Não sendo de estranhar esta origem, embora não se possa comprovar, é certo que por ali existem muitos topónimos e referências aos mouros, como a fraga dos mouros, onde existem pequenas cavernas. Notável, igualmente, é o facto de antigamente se ter explorado cal nesta freguesia, referindo João Vilares” que ali existiram cinquenta fornos; de qualquer forma, não deixa de ser importante constatar a existência de calcário a cerca de mil metros de altitude! Contudo, o aspecto patrimonial mais relevante é a Capela de S. Bernardino, monumento classificado “de interesse público”, construído em 1743, em cujo interior se encontram importantes painéis que descrevem a vida daquele santo. Realizam se festas em honra de S. Bernardino, a 20 de Maio e no 2° Domingo de Setembro, sendo esta última das mais concorridas do concelho.

GOUVEIA: A freguesia de Gouveia encontra se a sete quilómetros de Alfândega da Fé e tem como anexa o lugar de Cabreira. Situa se na encosta sul da Serra com o mesmo nome, que abriga a povoação dos ventos de leste e nordeste. Segundo o Padre Francisco Manuel Alves, em “Memórias Arqueológico Históricas do distrito de Bragança”, o seu nome deriva do antigo verbo `gouvir’, que significa `gozar’. Não é credível tal definição toponímica, a não ser pelas questões paisagísticas que se podem desfrutar a sul, na encosta que dá para o rio Sabor… A Igreja paroquial foi construída em 1725. Possui cinco altares. Neste edifício merece destaque o seu prospecto exterior, muito agradável e merecedor de uma visita. Além do templo matriz existem mais duas ermidas, dedicadas a Santa Marinha e à Senhora do Rosário. A posição estratégica junto ao vale do Sabor, os Castros identificados na zona e a Serra da Gouveia conferiram a Gouveia uma importância redobrada em tempos mais recuados. Ainda em finais do século passado a freguesia tinha mais de 300 habitantes. Actualmente conta com 185 eleitores e cerca de 200 habitantes, espelhando bem a sangria da emigração que caracteriza toda esta zona do interior. A localidade de Cabreira, única anexa da freguesia, tem cerca de meia centena de habitantes e é zona de povoamento antigo, comprovado pelo Castro que se encontra nas suas proximidades. A agricultura é a principal actividade da freguesia, apesar da escassez de água. As boas hortas que ali se trabalham só contam com água corrente durante pouco mais de metade do ano. A oliveira, a amendoeira e o sobreiro têm ali boas condições de vida. Naturalmente, acabou por se desenvolver a pastorícia, como complemento à actividade agrícola. Realizam se festas em honra de Nossa Senhora dos Remédios, a 14 de Agosto, na Cabreira e de S. Bartolomeu, a 24 de Agosto, em Gouveia.

PARADA: A aldeia de Parada, sede de freguesia do mesmo nome, actualmente no concelho de Alfândega da Fé, localiza se na parte sul do planalto de Castro Vicente, na margem direita do rio Sabor e possui 210 eleitores. Não se conhece a origem desta localidade, mas considerando que em 1530, ano em que se fez um recenseamento da comarca de “Tralos Montes” ‘2, é identificada com apenas 4 moradores, somos levados a acreditar que a povoação se desenvolveu a partir do início do século XVI. As razões do nome, segundo a tradição popular, prendem se com o facto de os habitantes de Santo Antão e das outras quintas que por ali havia se juntarem para ir à missa a Castro Vicente, e fazerem uma “parada” junto de uma nascente, já no cimo da encosta, no local onde hoje se encontra a povoação ‘3. Esta versão pode ter algum fundo de verdade, como o nome pode, pela mesma razão, andar associado aos caminhos de Santiago. Já nos parece menos credível a versão que liga a localidade ao foro de parada, ou seja, à obrigatoriedade de a população dar uma refeição aos seus senhores. Isto porque só a partir do século XVIII a localidade teria condições para garantir tal foro e os senhores conhecidos eram os Távora, cuja influência no país se extinguiu em 1759. De qualquer modo, o povoamento na actual freguesia de Parada é muito mais antigo do que as datas já mencionadas e esse facto deixa entender que, à semelhança do que aconteceu com outras localidades do actual concelho a povoação está ligada a esses povoamentos, que são essencialmente dois: o mais antigo é o Castro/Castelo da Marruça e depois Santo Antão da Barca. O castelo da Marruça, ou “castelo dos mouros”, como é designado na localidade, não aparece mencionado, em termos de povoamento em qualquer documento conhecido, pelo que deve ter deixado de servir para tal fim há muitos séculos. Mas trata se de um povoado fortificado, tudo indica que Castrejo e eventualmente usado até à ocupação muçulmana. Tem uma localização impressionante, numa escarpa junto à margem direita do rio Sabor, o que lhe garantia uma perfeita defesa; trata se de uma muralha circular, em estado de conservação razoável, se comparada com outras estruturas idênticas do concelho e fora dessa muralha, na parte sul, observam se ainda fundações de habitações, o que indica a existência de um povoado antigo. O Santo Antão (da Barca) poderá igualmente ter sido um pequeno povoado, muito mais recente do que a Marruça. A (ermida) capela que ali existe é da primeira metade do século XVIII, eventualmente mandada construir pelos Távora; mas é provável que existisse outra mais antiga. Uma coisa é certa. Se, como diz a tradição, a importância daquele local se ficou a dever ao facto de ser uma zona de travessia do rio, o que pode compreender se pela existência, na zona, de outros pequenos povoados, hoje quintas, tal facto só deve ter tido alguma importância até à perda do domínio dos Távora, uma vez que no levantamento de 1796 não se faz menção à barca do Santo Antão; pelo contrário, é registada a de “Silhades”, como se referiu na descrição da freguesia de Ferradosa. A principal riqueza da freguesia é a agricultura, tendo a amêndoa ocupado um lugar de destaque até há bem pouco tempo, sobretudo porque ali se cultivava uma variedade de boa qualidade, designada de “refego” (“repego”) ou simplesmente Parada. Mas no termo, para além do olival, produz se também um dos melhores vinhos do concelho. A culinária popular aproveitou a amêndoa para desenvolver dois doces com características únicas, os “Rochedos” e os “Barquinhos”, que também se fazem na vizinha localidade de Vilarchão. Para além do património já indicado, a Igreja Matriz, reconstruída em 1795 mas seguramente construída entre finais do século XVII, princípios do século XVIII, é o elemento mais relevante a destacar. No interior, para além de alguma talha, duas peças de ourivesaria com importância: a cruz processional e a custódia, ambas de prata e feitas em Guimarães em finais do século XVIII. Esta cruz processional é a mesma que a população escondeu dos franceses, enterrando a, para não ser roubada. O Santo Antão da Barca já não tem os habitantes de outrora e o último ermitão há muitos anos que deixou o local. Mas viu melhorados os acessos e as próprias instalações junto à capela, continuando a ser uma das mais concorridas romarias de Verão do concelho, atraindo mesmo muitos visitantes das localidades vizinhas pertencentes a outros concelhos. Brevemente, a aldeia de Parada ficará mais bem servida em termos rodoviários, com a construção da estrada que ligará Alfândega da Fé a Mogadouro e que incluirá a ponte sobre o Sabor, desejada há tantas décadas! Será o fim definitivo da Barca; se a barragem do baixo Sabor se vier a concretizar, a própria capela do Santo Antão terá de ser mudada de lugar: virão novos barcos e com eles outras gentes, à procura do sossego da região. Realizam se festas em honra de S. Tiago, a 25 de Julho, em Parada e do Santo Antão da Barca, no 1° fim de-semana de Setembro, sendo esta a maior romaria do concelho.

POMBAL: A freguesia de Pombal, com os seus 132 eleitores, vive essencialmente da agricultura, sendo conhecidos os seus amendoais que, de resto fazem parte do circuito das amendoeiras em flor. Localizada na vertente sul da serra de Borres e virada para o vale da Vilariça, esta freguesia possuiu um clima bastante quente e com amplitudes térmicas muito inferiores à média do concelho, produzindo se ali boas hortaliças, azeite, figos e bastante cortiça. Desconhece se a origem da localidade, mas no local onde há cerca de duas décadas foi construído o campo de futebol, no cimo de um monte que lhe fica próximo, encontramos vestígios de um muro, cuja espessura e características de construção evidenciam a possibilidade de ali ter existido um castro. Nas proximidades, entre esta localidade e a de Vales, encontram se as ruínas de uma aldeia conhecida por “Vale das Cordas”. Como veremos, ao falar dos Vales, a tradição explica que foi a partir desta localidade que surgiu a actual aldeia de Vales, mas pode igualmente levantar se a hipótese de o povoamento da zona ser ter desenvolvido do castro para esta povoação extinta e depois esta ter dado origem às duas que lhe ficam vizinhas. Realiza se uma festa em honra de Santa Marinha, a 18 de Julho.

SALDONHA: A freguesia de Saldonha fica no extremo nordeste do concelho, numa zona de terrenos planos que possibilitam uma agricultura muito rica, nomeadamente na produção de azeite e de cortiça. Com 131 eleitores, a localidade tem origens muito antigas, referindo se, inclusive, a existência de uma povoação extinta, no lugar denominado “Castelo do Ouro”‘S. Este e outros aspectos relacionados com povoamentos antigos, não puderam ainda ser confirmados, mas a existência, no termo, de topónimos como “Castro” e “Castelo” são bons indicadores para uma pesquisa mais aprofundada. Realiza se festa em honra de S. Martinho, a 11 de Novembro.

SAMBADE: Sambade é a aldeia mais populosa do concelho, actualmente com 667 eleitores, a segunda freguesia em extensão e a única que possui duas povoações anexas (Covelas e Vila Nova) distando sete quilómetros da sede do concelho e localizando se na vertente sul da Serra de Bornes, a cerca de 800 metros de altitude. A igreja matriz de Sambade é o mais importante monumento religioso do concelho, classificado como de interesse público, sendo a sua reconstrução de 1798, com características barrocas. Sambade é de origem muito antiga, tendo a sua Abadia feito parte do Padroado Real, com rendimentos apreciáveis, o que terá provocado a sua disputa pelos elementos eclesiásticos e de certa forma justificará o crescimento de tão importante povoação em plena Serra de Bornes, cujos rendimentos resultam hoje essencialmente da agricultura, com destaque para a castanha, a batata e os cereais, sobretudo o centeio, bem como de alguma pecuária. Mas em tempos mais recuados, Sambade foi um importante centro de produção de lã, de linho e de seda, sendo essa então a sua principal riqueza, facto que pode ajudar a compreender porque razão do início do século XVI até ao final do século XIX esta freguesia apresente mais população que a sede do concelho. Do ponto de vista paisagístico esta freguesia merece também uma visita mais prolongada, sobretudo para se conhecer a Serra de Bornes, cujo cume principal, a 1200 metros de altitude, aqui se localiza; entre Sambade e aquele cume, a cerca de 900 metros, foi recentemente aberta uma estalagem de elevada qualidade, que apoio o desenvolvimento turístico da zona e do concelho. Apesar das referências antigas sobre a sua existência, não se encontraram até ao momento vestígios de povoamentos mais antigos, nomeadamente do período Castrejo, sendo relevante referir que João Vilares, que era natural desta freguesia, não referiu na sua Monografia qualquer elemento relacionado com este aspecto, exceptuando se o nome de uma localidade, “Ride Cabras”, cuja localização ele próprio afirmou desconhecer. Realizam se festas em honra de S. Sebastião, a 20 de Janeiro e de Nossa Senhora das Neves, no 3° Domingo de Agosto.

SENDIM DA RIBEIRA: A localidade de Sendim da Ribeira, que dá o nome à freguesia, juntamente com a anexa de Sardão, pode ser um das mais antigas do concelho. O nome parece ser de origem visigótica e na zona existe um topónimo “castelo”, que pode andar associado à existência de um castro, cujos vestígios, contudo, são hoje difíceis de identificar, devido à progressão da agricultura, particularmente dos olivais, cujo azeite, segundo alguns entendidos, é considerado dos melhores do mundo, graças ao clima ameno permitido pelo vale da ribeira de Zacarias. Actualmente a freguesia possui 103 eleitores, tendo a sua população diminuído nas últimas décadas. A igreja matriz, recentemente recuperada, merece uma visita, sobretudo ao interior, onde existe um altar mor em boa talha dourada. A anexa de Sardão está igualmente em declínio populacional, mas o seu casario antigo, quase todo original e construído em xisto, deixa perceber o que eram as nossas aldeias há uns séculos atrás. À semelhança do que acontece em quase todo o concelho, também nesta freguesia existem lendas de “mouras encantadas”, mas aqui, uma delas, anda associada a uma elevação conhecida por “Monte do Concelho”, onde existem ruínas de uma capela. Realizam se festas em honra de S. Secundino, a 30 de Agosto e de Santa Bárbara, a 4 de Dezembro.

SENDIM DA SERRA: Apesar de ter o mesmo primeiro nome, esta freguesia não confina com a anterior, desenvolvendo se o seu território na vertente norte da serra da Gouveia, mas a origem do nome parece ser a mesma. Agricultura e pastorícia são as ocupações desta população, actualmente com 120 eleitores. Para uma freguesia tão pequena e de escassos recursos, torna se difícil explicar o número e a importância das suas construções religiosas. A igreja Matriz, muito antiga, ainda que numa construção simples, possuiu no interior um altar mor em boa talha; para além deste edifício existe ainda uma pequena capela dedicada a S. Sebastião. Mas é fora da localidade que se encontram outros dois edifícios religiosos de maior interesse: o primeiro, uma ermida, de Santa Eufémia, muito antiga e junto à qual existem duas sepulturas cavadas na rocha e uma terceira iniciada, ou destinada a uma criança; o segundo é o Santuário de Nossa Senhora de Jerusalém, verdadeiramente uma igreja, pela dimensão, pelas características arquitectónicas e pelo número de altares. Desconhece se a data da construção deste santuário, mas tudo indica que o actual edifício, infelizmente muito descaracterizado graças a uma má intervenção na década de 80 do século passado e a uma tentativa de recuperação recente também pouco feliz, tenha sido construído sobre um edifício mais antigo, medieval, seguramente. De qualquer forma, é espantoso que num lugar ermo, distante de qualquer povoado, se tenha erguido um edifício religioso tão imponente. Em nosso entender, para além da igreja Matriz de Sambade nenhum outro, no concelho, tem maior força arquitectónica. Realizam-se festas em honra de Nossa Senhora de Jerusalém, no 1° Sábado de Agosto e de S. Lourenço, no dia 10 de Agosto.

SOEIMA: A aldeia de Soeima, que dá o nome à freguesia, situa se na encosta sul da serra de Bornes e tem a particularidade de estar a cerca de mil metros de altitude, pelo que dali se avistam dezenas de outras localidades, deste concelho e dos concelhos vizinhos. A população de Soeima, que conta com 207 eleitores, dedica se essencialmente à agricultura, sendo de destacar a qualidade da castanha e da batata que se produz no seu termo. Podemos ainda apontar uma particularidade desta freguesia: há umas décadas atrás, quando os cereais, nomeadamente o centeio, constituíam uma produção forte no concelho, as gentes de Soeima conseguiam produzir este cereal a cerca de mil e cem metros de altitude, quase no alto da serra de Bornes. O nome Soeima evidencia a antiguidade da povoação, uma vez que é de origem moçárabe. Mas não se conhecem na zona outros vestígios de povoamentos antigos. Realiza se uma festa em honra de S. Pelágio, no mês de Junho.

VALE PEREIRO: Vale Pereiro tem actualmente 135 eleitores e é uma localidade antiga. Não pudemos apurar a data em que passou a freguesia, mas sabe se que em 1530 pertencia ao concelho de Castro Vicente e tinha 23 moradores”, número então suficiente para que fosse freguesia autónoma, já que na mesma data a vizinha Saldonha possuía apenas 12 moradores; no final do século XVIII possuía cerca de 150 habitantes, mais ou menos os que tem agora e cuja ocupação é igualmente a agricultura, sobretudo o olival, e a extracção de cortiça. O interior da igreja Matriz merece ser visitado, possuindo vários altares em talha; nas proximidades da aldeia existe uma ermida dedicada a S. Geraldo, de construção muito antiga. Na freguesia existem vestígios de povoamentos antigos, nomeadamente no local designado por “casinhas brancas” onde se observam ruínas de construções a que se atribuiu origem moura. Não sabemos como poderá provar se este facto mas, a ser confirmado, constituiria o único vestígio dos mouros em matéria de construção na área deste concelho. Realiza se uma festa em honra de S. Bartolomeu, no 1° Domingo de Agosto.

VALES: Esta freguesia conta actualmente 112 eleitores e o seu termo localiza se na encosta sul da serra de Borres, pelo que a actividade agrícola inclui ainda muitos castanheiros, mas também nogueiras e mais recentemente floresta. A maior elevação dentro da freguesia é o monte dos “Rebolais”, de onde se tem uma excelente paisagem para o vale da Vilariça. O nome desta povoação está directamente relacionado com a sua localização, entre vales (formados por dois pequenos cursos de água), mas desconhece se a sua origem. Os mais antigos vestígios de povoamento na freguesia situam se em Vale das Cordas, que foi claramente um povoado antigo, hoje extinto. No entanto, as duas localidades coexistiram, uma vez que no recenseamento de 1530 ainda aparecem as duas localidades, a primeira com 9 moradores e a segunda com 6. Desta forma, a ideia de que uma terá originado a outra, e mesmo a de Pombal, como já se referiu, não parece muito segura, até porque naquela data esta última localidade já possuía 11 moradores”. No início do século XVIII Vale das Cordas ainda seria habitada, mas no final do mesmo século a povoação já não é referida. Como a igreja Matriz de Vales foi reconstruída em 1744, data que está registada no pardieiro da porta principal, podemos levantar a hipótese de que estas três localidades tiveram origens e cursos distintos, muito embora uma delas tenha acabado por desaparecer, talvez pela sua fraca localização e pelo desenvolvimento das outras. Realiza se uma festa em honra de Santa Cruz, a 13 de Maio.

VALVERDE: Situada na parte inferior do planalto de Alfândega da Fé, já próximo da Serra da Gouveia e com o Vale da Vilariça à vista, Valverde é uma localidade antiga e o seu crescimento ficou a dever se à riqueza agrícola do vale que lhe deu o nome e às boas condições para o desenvolvimento das amoreiras, fundamentais para a criação do bicho daseda. O mesmo vale, graças ao seu terreno barrento, permitiu o desenvolvimento de vários fornos de telha, levando a povoação a um crescimento pouco habitual em tempo mais recuados, ao ponto de ali ter existido uma “farmácia”, situada na zona do actual edifício da Junta de Freguesia. No entanto, Valverde é sobretudo conhecida pela sua majestosa Cruz Processional, uma autêntica obra de arte do século XVI, devidamente guardada e preservada, só apresentada em público em ocasiões solenes; esta cruz, cujo estudo e inventariação já foi efectuado”, anda ligada à lenda de Frei João Hortelão, natural de Valverde e a quem a população atribui vários actos milagrosos, conforme se referiu atrás.

VILARCHÃO: A quinze quilómetros da sede do concelho, Vilar Chão situa se numa zona planáltica com o mesmo nome (também designado planalto de Castro Vicente) que a nascente termina num vale apertado e profundo por onde corre o rio Sabor. Vilar Chão foi integrada no concelho de Alfândega da Fé em 1855, tendo pertencido anteriormente aos extintos concelhos de Castro Vicente e Chacim. É hoje uma das mais importantes e ricas freguesias do concelho, (351 eleitores) com uma actividade agrícola e pecuária assinaláveis, bem patente no número de alfaias agrícolas modernas e na existência de uma sala de ordenha, apesar de ser uma zona com pouca água. A cultura de cereais (sobretudo trigo e centeio), hoje em declínio, fez do termo de Vilar Chão um autêntico “celeiro” do concelho e das regiões vizinhas. As origens da localidade transportam nos ao período suevo e ao despovoamento provocado pela invasão muçulmana. No período medieval foi objecto de repovoamento. Na localidade anexa, Legoinha, (local de interesse turístico) existem vestígios de um castro. A obra do Padre Belarmino Afonso, “Cerâmica do Distrito de Bragança”, refere bem a importância económica que o fabrico da telha teve em tempos para a freguesia: “Uma fornada de telha vinha equilibrar ou suprir as dívidas de uma má colheita, ou pagar por um filho que foi preciso livrar da tropa. (…). Um bom número de fornos, de que conseguimos notícia, era da comunidade local. Não admira, pois, que este tipo de actividade artesanal se enquadrasse perfeitamente dentro das banalidades fornos, moinhos, forja e lagar da economia medieval agro pastoril.” Mas para além do fabrico da telha, em Vilarchão também existiram lagares de azeite comunitários e em finais do século passado, princípios do nosso até uma certa dinâmica na tentativa de exploração de alguns minérios, havendo conhecimento do registo de 11 minas entre 1883 e 1911, uma das quais de prata. Em termos patrimoniais a casa da família de Manuel António Ferreira de Aragão (Marechal de Campo e morgado, natural da freguesia) é o mais importante património de Vilar Chão. Possui Brasão e foi construída para solar daquela família em 1760. João Vilares, em “Monografia do Concelho de Alfândega da Fé” descreve o assim: “em campo de ouro quatro palas vermelhas; timbre um touro vermelho saltante com coleira e campainha ao pescoço; por cima, num dos cantos, uma flecha”. A igreja paroquial é antiga e destaca se pelos seus cinco bonitos altares, bem trabalhados. Tem como parte integrante do seu espólio uma custódia, com decoração barroca. Outro local de interesse patrimonial é a Fonte Limpa, construída em 1796, também de estilo barroco e exemplar único no concelho. Para além de outros aspectos, Vilar Chão destaca se ainda por uma tradição cultural que tem especiais referências na “arreata dos burros”, uma forma diferente de festejar o Carnaval. Na doçaria, são conhecidos os “rochedos” e os “barquinhos”, feitos com amêndoa e de excepcional qualidade, cuja origem ou é desta terra ou da Parada, como se disse anteriormente. Realizam se festas em honra de S. Sebastião, a 20 de Janeiro e Nossa Senhora da Assunção, em Agosto.

VILARELHOS: A aldeia de Vilarelhos é de origem muito antiga, existindo na área da freguesia vestígios do período romano e sendo atestada a sua importância económica pela existência do mais importante monumento não religioso do concelho, o solar do Morgado de Vilarelhos, de traça barroca. A povoação situa se a cerca de doze quilómetros de Alfândega da Fé, para poente e na parte superior do Vale da Vilariça, possuindo ainda alguns terrenos incluídos na Região Demarcada do Vinho do Porto, pelo que a vinha e o olival são as principais riquezas da sua população, muito embora actualmente a fruticultura e a horticultura, mercê do clima propício da zona, venha a ganhar cada vez mais importância na economia da freguesia. O edifício onde até há bem pouco tempo funcionou a junta de freguesia e a escola pré primária possui um interessante alpendre com colunas de granito que, juntamente com uma fonte de mergulho e um tanque público forma o mais bonito recanto da localidade. Este edifício foi, seguramente, uma capela, ou mesmo, em tempos recuados, a primeira igreja Matriz. Na freguesia existe a barragem do Salgueiro, destinada à irrigação dos terrenos próximos e local aprazível nos dias quentes de Verão. Outro elemento cultural relevante é o cabeço de Nossa Senhora dos Anúncios em cuja vertente nordeste foi encontrada uma necrópole romana, estudada Santos Júnior, que também avançou a hipótese de ali ter existido um castro. Realizam se festas em honra de Nossa Senhora dos Anúncios, no 3° fim de semana de Agosto e de S. Tomé, a 23 de Dezembro.

VILARES DA VILARIÇA: Distando cerca de doze quilómetros da sede do concelho, Vilares da Vilariça, (que tem 328 eleitores) situa se na parte superior do riquíssimo vale da Vilariça, facto que permite excelentes produções de vinho (parte da freguesia ainda está incluída na região do vinho generoso do Douro) e azeite, bem como uma importante produção frutícola. A origem desta localidade, antigamente dividida em duas (Vilares de Cima e Vilares de Baixo) remonta ao período suevo e foi posteriormente povoada. O seu nome está também ligado à lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas. A “terra” de Vilariça, muito ampla e que posteriormente se iria fragmentar e dividir em pequenos territórios pequenas freguesias teve a sua sucessora na paróquia de Santa Comba. Antes disso, porém, D. Pedro Fernandes, um nobre local, iria doar a região de Vilariça ao mosteiro de Bouro, que doravante ficou com a sua posse. Juntamente com a paróquia de santa Comba, eram doadas as freguesias de Colmeais e Vilar de Baixo e de Cima. Ainda hoje, e de forma definitiva desde o século XVIII, a freguesia compreende os três pequenos lugares. O orago, inicialmente de Santa Comba, foi substituído por Santa Catarina, que era o do lugar de Vilares de Cima. Curiosa é a exclamação do abade de Miragaia, autor dos dois últimos volumes do “Portugal Antigo e Moderno” (por morte de Augusto Pinho Leal), em relação a esta relativamente confusa movimentação administrativa da freguesia: “Valhanos a Senhora do Monte do Carmo!”. A igreja paroquial de Vilares da Vilariça merece nos destaque sobretudo pelo seu espólio. Deste, o elemento mais importante é uma cruz das almas, em cobre, do século XV Provavelmente, deverá ser o mais antigo elemento processional de todo o concelho de Alfândega da Fé. Conforme descreve Fernando Pereira, em “Ourivesaria Religiosa do Concelho de Alfândega da Fé”, “é uma cruz de braços rectos, interrompidos no seu ponto central por expansões (que em peças de prata desta época serão quadrifoliadas) e com terminações flordelizadas. Este desenho, arvoriforme, é identificado com o madeiro onde Cristo foi crucificado”. A única decoração existente, para além da própria estrutura, é conseguida à base de círculos (cabeças de prego). O Cristo é um bom trabalho escultórico, usa um pano de pureza cobrindo lhe praticamente toda a perna. Este tipo de cruzes divulgou se bastante pela zona e são conhecidas por “Cruzes das Almas”. Referência ainda para uma custódia existente na igreja paroquial. Mais recente do que a cruz atrás mencionada, (séc. XVII) é em prata e mede cinquenta e seis centímetros de altura, por doze e meio de largura. Semelhante a muitas desta região, pode ser utilizada como custódia e também como cálice, daí o facto de ter os dois nomes. A igreja possui ainda quatro altares em boa talha e em bom estado de conservação. Em Vilares da Vilariça existe um núcleo habitacional antigo que está a ser objecto de recuperação e que inclui a área onde se localiza o cruzeiro e uma das casas brasonadas. Um destes brasões pertenceu à família dos Távora. A capela de Nossa senhora do Socorro fica na encosta sul da Serra de Bornes, a cerca de dois quilómetros e dali se avista todo o Vale da Vilariça, até ao rio Douro. Na zona fica igualmente a Fraga dos Mouros, espécie de gruta cavada no granito que segundo a tradição serviu de refúgio. A zona da Barragem é um local de interesse turístico, sendo permitida a pesca desportiva. Realizam se festas em honra de S. João, a 24 de Junho e de Nossa Senhora do Socorro, a 14 de Agosto. Dr. Francisco José Lopes, Abril de 2002

In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,
coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura.
Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães – Tel/Fax: 253 412 319, e-mail: ecb@mail.pt

Preço: 30 euros

 Alfândega (da Fé) é um nome de origem árabe que a localidade deve ter adquirido entre os séculos VIII IX. É muito possível que anteriormente a este período já existisse algum povoado de origem Castreja, o que não será de admirar, até porque na área do concelho existem muitos vestígios arqueológicos desse e até de períodos anteriores. No entanto, a transformação em concelho medieval só aconteceu com a carta de foral de D. Dinis, datada a 8 de Maio de 1294, o qual viria a ser confirmado por D. Manuel, em 1510. Em 1320 o mesmo rei D. Dinis mandou reconstruir o seu castelo, que era anterior ao primeiro foral e provavelmente construído pelos mouros. Este castelo desapareceu com o tempo. O recenseamento do ano de 1530 já indica o castelo como “derrubado e malbaratado” e nunca mais foi recuperado, muito embora o Tombo dos Bens do Concelho de 1766 ainda identifique os “antigos muros” pelo que, a Torre do Relógio, actual ex libris da vila, e que fica na zona conhecida por Castelo, parece ser o que resta do antigo castelo medieval. Na sede do concelho merecem ainda uma visita a Capela da Misericórdia, a Capela de S. Sebastião, (inicialmente ermida) cujo campanário actual veio da casa dos Távora, de que resta apenas, do original, a porta de entrada da capela familiar, o portal da mesma casa e a Capela dos Ferreiras, com brasão picado, a identificar ligações àquela família.   

GEOGRAFIA, NATUREZA E OCUPAÇÕES DA POPULAÇÃO

Apesar de registar ao longo dos tempos algumas alterações dos seus limites geográficos, (nos finais do século XIX chegou mesmo a ser extinto), o concelho teve sempre como elementos de referência a Serra de Bornes a norte, o vale do rio Sabor a sul, o planalto de Castro Vicente a este e o vale da Vilariça a oeste. Falamos assim de uma área que actualmente ronda os trezentos e dez quilómetros quadrados, mas onde se observa uma verdadeira síntese geográfica e paisagística de Trás os Montes: as serras, os pequenos planaltos de altitude, os vales cavados e profundos de alguns cursos de água e as zonas de vale aberto, como a Vilariça; uma flora que vai do castanheiro ao sobreiro, passando pela oliveira, a amendoeira, a cerejeira, a laranjeira e a vinha, para além dos cereais, nomeadamente o centeio, que ainda há bem poucos anos se cultivava a cerca de mil metros de altitude. Com amplitudes térmicas anuais muito elevadas, o Inverno e o Verão cumprem aqui o conhecido ditado; as serras cobrem-se frequentemente de neve e os gelos são abundantes; a Primavera é intensamente florida e verde, graças à enorme diversidade da flora selvagem, mas também das amendoeiras, das cerejeiras, macieiras e outras árvores de fruto que abundam um pouco por todo o concelho; no Verão o calor aperta e a paisagem torna se mais árida e seca, situação que é minimizada pelas várias barragens e pelos vales dos cursos de água principais, nomeadamente do rio Sabor, onde se passam bons momentos de lazer; no Outono o amarelo e o dourado dos castanheiros rivaliza com o florido primaveril e convida para sossegados percursos pelos caminhos da Serra de Bornes, que lá do alto dos seus mil e duzentos metros de altitude olha permanentemente para todo o concelho, como se fosse sua sina servir de guarda e sentinela às gentes simpáticas e laboriosas que aos seus pés constroem há milhares de anos a sua própria história. É certo que o número dos “vizinhos” já foi maior. Como todo o interior, também por aqui a desertificação humana tem deixado marcas profundas, resultando numa perda real de população, com escolas a fechar as portas e outras a caminhar para lá, com a população residente a ficar envelhecida e a juventude a ter dificuldades em não encontrar soluções de vida que garantam a sua fixação. É a grande batalha das últimas décadas, com algumas vitórias ganhas, mas a requerer do país mais apoio e melhor atenção. Actualmente com cerca de sete mil residentes e 6.102 eleitores inscritos, o concelho ainda encontra na agricultura a sua maior riqueza, apesar das crescentes dificuldades deste sector económico, provocadas pela competição dos mercados, pela falta de mão de obra, pela difícil introdução da mecanização, devido às características dos terrenos, mas sobretudo pela inexistência de uma política agrícola nacional com coragem para efectuar uma verdadeira reconversão das culturas tradicionais, ou uma séria certificação da qualidade biológica de produtos como o azeite, a amêndoa, a castanha e toda a fruticultura, para além do queijo e do fumeiro, da gastronomia, nomeadamente a doçaria ligada à amêndoa e à cereja, as compotas e os licores tradicionais. Estas gentes laboriosas e resistentes a todas as vicissitudes da história aprenderam desde tempos remotos a encontrar formas de auto produção bem patentes nas ruínas dos moinhos e dos pisões do linho, nos fornos de telha e de cal, na arte das tecedeiras e das bordadeiras, dos cesteiros, dos latoeiros, dos ferreiros, dos albardeiros, dos sapateiros e dos alfaiates; desaparecida a cultura do bicho da seda e a do linho, que tiveram grandeza assinalável neste concelho, quase tudo se foi perdendo aos poucos e só recentemente se têm dado algum impulso à preservação dessas artes que foram, primeiro, um complemento da economia agrícola e hoje são já um factor de património cultural, agora designado por artesanato. O esforço de desenvolvimento das últimas décadas foi aumentando o peso do sector de serviços, do comércio, da hotelaria e similares e das pequenas indústrias e o turismo começa agora a dar os primeiros passos, assim como o aproveitamento ordenado dos recursos cinegéticos, uma das grandes riquezas e aposta de futuro deste concelho.

UMA SEDE DO CONCELHO EM CRESCIMENTO

Com efeito, na sede e no concelho em geral existe um conjunto de equipamentos que conferem uma boa qualidade de vida aos que aqui vivem. Electricidade, água domiciliária, saneamento básico, e estradas asfaltadas têm uma cobertura total no concelho, que em termos ambientais foi dos primeiros a encerrar a sua lixeira municipal. Subsistem alguns problemas que a autarquia continua a esforçar se por resolver o mais rapidamente possível, como o abastecimento de água tratada a toda população (neste momento ainda há cerca de 35% de munícipes que não usufrui desta regalia) a solução para as fossas sépticas de algumas localidades e o novo plano de tratamento de águas residuais e industriais na sede do concelho. Mas a verdade é que, comparando com outros concelhos da região, o de Alfândega da Fé ocupa um dos lugares cimeiros, facto que se comprova com a enumeração dos equipamentos modernos que existem na sua sede. Um dos Centros de Saúde mais dinâmicos do país, conjuntamente com outras iniciativas privadas na área de saúde, garantem o atendimento da população, muito embora não evitem a necessidade de deslocações diárias de muitos utentes para os hospitais chamados distritais e inconcebivelmente todos localizados na corda Bragança Mirandela; estes transportes são assegurados pelos Bombeiros Voluntários, também com modernas instalações e viaturas e que, para além deste importante serviço têm dado boa conta das suas responsabilidades em matéria de protecção civil e de fogos florestais. O Lar da Terceira Idade da Santa Casa da Misericórdia, o do Santuário de Cerejais (Mariano) e outras unidades semelhantes, mas de menor dimensão, localizada nas maiores freguesias do concelho, garantem a assistência à terceira idade, para além de efectuarem ainda um importante serviço de apoio domiciliário. Na vila situam se as maiores Escolas, desde pré escolar ao ensino secundário, mas a frequência escolar é garantida a todos os jovens, mesmo os do pré escolar, sendo o respectivo transporte inteiramente gratuito há mais de uma década; uma excelente e dinâmica Biblioteca Municipal complementa estes equipamentos educativos, o mesmo vindo a acontecer com a Casa da Cultura, em construção, pensando se já na construção de um moderno pólo para todo 0 1° Ciclo, como forma de solucionar o problema da eminência de encerramento da maior parte das escolas das aldeias, por insuficiente número de alunos. Em matéria de equipamentos desportivos a situação é aceitável, com um Campo Municipal que vai respondendo às necessidades e que dentro em breve sofrerá alterações profundas e dois Pavilhões Desportivos cobertos; também não faltam as Piscinas para o lazer dos dias quentes de Verão, infra estrutura que vai igualmente ser objecto de remodelação, no sentido de ser possível a prática da natação durante todo o ano. Ao nível do comércio a grande aposta foi a construção de um Mercado Municipal, com uma área destinada ao comércio local, assim como do Recinto da Feira, actividade que se realiza quinzenalmente e cuja origem é medieval. Este espaço, que é considerado pelos feirantes dos melhores que existem na região, contribuiu para “reanimar” a própria feira, atraindo mais comerciantes e mais público e foi ainda preparado para a realização de iniciativas culturais e desportivas, realizando se ali, por exemplo a Feira da Cereja. A indústria e as actividades a ela ligadas começam agora a ter alguma expressão, para o que contribuiu decisivamente a criação da Zona Industrial, cuja área começa a ser pequena para as solicitações e onde trabalham já, de forma permanente, algumas dezenas de pessoas. A agricultura, base fundamental da economia do concelho, apresenta ainda muitas necessidades, nomeadamente no que respeita à construção de novas barragens para alargar a área de regadio, mas também à urgência de uma nova organização dos regadios já existentes e da capacidade de dinamização do sector por parte da Cooperativa Agrícola local. Para breve está prevista a construção de mais duas barragens, que se juntarão às quatro já existentes e ao todo darão uma capacidade de armazenamento de água superior aos dez milhões de metros cúbicos. Mas é sabido que o esforço nesta área terá ainda de ser maior, uma vez que sem regadio a agricultura terá poucas possibilidades de se afirmar economicamente e, dessa forma, motivar de novo a necessária mão de obra. O turismo é uma aposta recente do município, mas já foram dado passos importantes: à construção de uma moderna unidade hoteleira na Serra de Bornes (Estalagem Senhora das Neves) estão já a associar se iniciativas privadas, nomeadamente hoteleiras e no campo dos restaurantes, mas também no aproveitamento da caça, com a organização de várias áreas associativas e de uma reserva turística; o Parque de Usos Múltiplos oferece aos locais e aos visitantes um espaço perfeitamente inserido na natureza e o Parque de Campismo é obra que seguramente se lhe seguirá. Para além de todas estas preocupações e de todos estes avanços, basicamente resultantes da dinâmica do Poder Local, a vila foi ainda objecto de uma significativa intervenção urbanística, que lhe conferiu modernidade, sem alterar as suas características marcadamente rurais se tem que, neste aspecto, a defesa e protecção do património, quer na sede, quer no resto do concelho, continue a ser um dos pontos fracos, pesem embora algumas intervenções com algum significado, sobretudo ao nível do património religioso. No entanto, a par de todo este esforço recente para promover o desenvolvimento, foi se esquecendo que o património antigo, histórico ou cultural, construído ou simplesmente oral e manifesto em tradições, quando bem utilizado é também um factor de desenvolvimento.

LENDAS, FEIRAS, FESTAS E TRADIÇÕES

Sendo um concelho antigo e para mais com um nome de origem árabe, é fácil de compreender porque razão o imaginário popular gira fundamentalmente em torno das lendas das “mouras encantadas”, não havendo quase freguesia nenhuma onde esse tipo de situações não nos apareça. Contudo, existem duas lendas mais estruturadas e, de certa forma, com ligação a factos históricos, como é o caso da “Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas”, que pretende explicar uma parte do nome da vila e marca a resistência dos cristãos face à ocupação muçulmana e a “Lenda de Frei João Hortelão”, relacionada com uma personagem real e que, como veremos adiante, tenta explicar a existência, na localidade de Valverde, de uma importante cruz processional.

LENDA DOS CAVALEIROS DAS ESPORAS DOURADAS, OU DO TRIBUTO DAS DONZELAS

Tanto quanto pudemos apurar, esta lenda (e o tributo das donzelas), tem sido referida em várias publicações como “Santuário Mariano”, “Monarchia Lusitana” de frei Bernardo de Brito, na “Chorographia” do Padre Carvalho da Costa, no “Dicionário Geográfico” do Padre Luís Cardoso e posteriormente referida em publicações mais recentes, com uma ou as duas designações acima identificadas. Recentemente foi ainda publicado pela Câmara Municipal de Alfândega da Fé um romance inédito (em termos de livro) de João Baptista Vilares, cujo tema é esta lenda. A Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas, ou do Tributo das Donzelas pode resumir se da seguinte forma: no tempo do domínio muçulmano existia um mouro que, a partir do castelo do monte carrascal, próximo da actual localidade de Chacim (que já foi vila e hoje pertence ao concelho de Macedo de Cavaleiros) dominava toda a região, incluindo as gentes de Castro Vicente (que também já foi vila e hoje pertence ao concelho de Mogadouro) e as de Alfândega e como feudo exigia às populações a entrega de um determinado número de donzelas. Revoltados com este “tributo de donzelas”, os moradores de Alfândega e seu concelho (nomeadamente Vilares da Vilariça) reagiram com armas, tendo os seus “Cavaleiros das Esporas Douradas” organizado uma investida contra o mouro, apoiados pelos de Castro Vicente. A batalha entre as duas partes ocorreu próximo do castelo do mouro; apesar de aguerridos os cristãos começaram por ter dificuldade em vencer as hostes muçulmanas e estavam prestes a perder a luta, tantos eram já os mortos e os feridos; entretanto, apareceu Nossa Senhora, que foi reanimando os mortos e curando os vivos, passando lhes um ramo de bálsamo que trazia na mão; à medida que o grupo dos cristãos se foi recompondo a peleja aumentou de intensidade e os muçulmanos foram completamente rechaçados terminando assim a obrigatoriedade daquele tributo. No local construiu-se uma capela em homenagem a Nossa Senhora de Bálsamo na Mão, hoje o santuário de Balsemão; o local de tão grande chacina deu origem a Chacim, localidade que haveria de ser sede de concelho até meados do século XIX; e Alfândega, graças à valentia dos seus cavaleiros, em nome da fé cristã, passou a designar se Alfândega da Fé. Relativamente a esta lenda e para explicar a existência dos cavaleiros, o Padre Manuel Pessanha sugere que Alfândega da Fé tenha sido sede de uma ordem militar, “antiga, anonyma, muito anterior aos templários, e mesmo a qualquer ordem militar conhecida”3 com cerca de duzentos membros. Na realidade o Padre Carvalho da Costa, na sua “Chorographia”, refere a existência de duzentos cavaleiros, mas o Padre Luís Cardoso, no “Dicionário Geográfico”, refere apenas 25. Entretanto, não deve excluir se a possibilidade de o imaginário popular ter encontrado na Ordem de Malta a ideia dos cavaleiros. Um estudo recente de Belarmino Afonso refere que a igreja de Malta pertenceu àquela Ordem desde D. Sancho I, o que nos leva para o século XII. Ora, como a carta de foral de D. Dinis já identifica Alfândega da Fé como vila e possuindo castelo, é de admitir que o concelho já existisse anteriormente com esse nome, pelo que a lenda só teria sentido se fosse ainda mais antiga, uma vez que os acontecimentos nela contidos servem sobretudo para explicar o “da Fé”. Ou seja, esta lenda pode muito bem ser anterior à própria nacionalidade e transformar se num elemento de estudo que comprove o papel que esta vila teve durante o domínio muçulmano nesta região.

LENDA DE FREI JOÃO HORTELÃO

Frei João Hortelão foi um cidadão real, nascido na localidade de Valverde, em data incerta, uma vez que apenas João Baptista Vilares, na Monografia do Concelho de Alfândega da Fé, refere o ano da sua morte, em 1499, data que parece não condizer com alguns estudos recentes sobre a peça de ourivesaria religiosa, a “Cruz de Valverde”, a que se liga todo o seu percurso “lendário”. Na verdade, este devoto cristão tem uma biografia cujos percursos por terras de Portugal e Castela são pouco conhecidos, podendo concluir se que a faceta da lenda resulta mais do imaginário popular do que dos verdadeiros acontecimentos. O seu carácter religioso e as suas virtudes pessoais, onde não faltou sequer o facto de ser oriundo de famílias pobres e ligadas à pastorícia na aldeia natal, foi sendo, ao longo dos séculos, envolvido em histórias e acontecimentos que ninguém pode hoje comprovar, incluindo o espírito profético que o levou a adivinhar o ano da sua morte. Entre as muitas “façanhas”, quando ainda jovem, conta-se o seu “jeito” especial para a pastorícia dizendo se, como escreve João Vilares, “que deixava o gado à volta do seu cajado e ia ouvir missa aos povoados da outra margem do rio Sabor. Quando regressava, o gado lá estava no mesmo sítio quieto e manso. O amo, sabendo isto, proibiu lhe a passagem do rio na barca, mas ele continuou na sua missão atravessando a corrente, servindo se da sua capa para barco. O patrão, não gostando de tais ausências, despediu o pastor que se dirigiu então para Castela, sempre mendigando pelo caminho Na sua descrição J. Vilares não mencionou que no lugar onde Frei João Hortelão deixava o gado cresceu, segundo a tradição popular, uma cornalheira de dimensões fora do vulgar, transformada em árvore frondosa, cuja folhagem se mantém verde durante todo o ano, ao contrário do que acontece com esta espécie, que na região não atinge mais de dois metros de altura, como arbusto, de folha caduca! Talvez “a outra margem do rio Sabor” não corresponda à verdade histórica e estejamos a falar da antiga povoação de Cilhades, na margem direita, que dá para a encosta onde se encontra a tal cornalheira; bem vistas as coisas, estamos a falar do concelho de Alfândega da Fé, criado por carta de foral de D. Dinis em 1294, cujas fronteiras o separavam de Santa Cruz da Vilariça exactamente naquela zona, pelo local designado por “rebentão”, sendo que toda esta área foi pertença de Alfândega até à reforma dos concelhos de 1855! Mas o espírito “milagroso” deste nosso Frei João Hortelão não se ficou por aqui. Ainda na sua freguesia de origem, existe outro local conhecido por “bardo do Frei João”; o motivo é semelhante: de acordo, uma vez mais, com a tradição popular, naquele local deixava frequentemente o seu rebanho, sem as habituais guardas de madeira, e os animais não saíam do local, de tal forma que ainda hoje o mesmo se mantém sempre com verdura! Despedido do seu emprego, Frei João Hortelão terá rumado até Castela e ficado pela vila de Ledesma, (Salamanca) tomando o hábito de leigo e entrando para o convento de Santa Marina. Diz J. Vilares, na obra citada, que “por meio de esmolas, conseguiu edificar a igreja matriz de Ledesma onde se conserva, segundo a tradição, uma gota de leite da Virgem e uma madeixa do seu cabelo tudo obtido pelo santo varão”. Fernando Pereira, num estudo recente, nega categoricamente estas afirmações, nomeadamente no que respeita à construção daquela igreja. Mas é indiscutível que Frei João Hortelão viveu em Ledesma, onde está sepultado, e em cuja localidade também se confirmam registos populares da sua santidade, nomeadamente aqueles que dizem respeito aos seus dotes para afastar os pássaros das sementes das hortaliças que semeava, actividade que, aliás, acabou por lhe dar o nome! No entanto, a grande façanha que é atribuída pela lenda a Frei João Hortelão resulta de algo muito mais espantoso e menos explicável ainda, porque contraditório com o seu viver conventual: “com bocadinhos de prata que ia guardando na oficina onde trabalhava fez esta formosa cruz”, a Cruz Processional de Valverde, símbolo maior da ourivesaria do concelho de Alfândega da Fé e que a população de Valverde guarda com um autêntico sentimento de Fé, de misticismo e de patriotismo. Fernando Pereira fez uma investigação aprofundada sobre esta peça e trouxe ao nosso conhecimento alguns aspectos que importa referir. Em primeiro lugar, a Cruz de Valverde foi, efectivamente, trabalhada em Castela. Não em Ledesma, mas provavelmente em Astorga e o respectivo ourives é conhecido, o que foi possível identificar através do punção existente na peça. Em segundo lugar e de acordo com o mesmo autor, “pelas características técnicas que apresenta, esta cruz e o par de galhetas, não poderão ir além da segunda década do século XVI”H; ou seja, a ser verdadeira a data da morte de Frei João Hortelão, não existe coincidência entre a vida do mesmo e o fabrico da peça, ainda que as distâncias temporais, por tão curtas e tanta falta de informação, não nos permitam decidir categoricamente não existir relação directa entre os acontecimentos. Uma coisa é certa: aquele estudo provou que a Cruz de Valverde foi executada numa oficina registada e tem os brasões de armas das famílias Velascos e Avellaneda, ambas de Castela, ligadas por laços matrimoniais, mas nenhuma com ligações conhecidas a Valverde. Fica assim a hipótese, que continuará a alimentar a lenda, também corroborada por Fernando Pereira: veio a Cruz, pelas mãos de Frei João Hortelão, parar a Valverde?! E se assim foi, como explicar que peça tão importante, representativa de uma arte específica da ourivesaria castelhana do século XVI, tenha chegado até esta distante e pequena povoação do Nordeste Transmontano? Que haverá de mais interessante do que manter as dúvidas por desconhecimento histórico…e perceber que as Lendas não se mudam no imaginário popular, por maior que seja o nosso conhecimento científico?!

FEIRAS

Actualmente existem duas Feiras no concelho de Alfândega da Fé: uma que se realiza na própria vila, duas vezes por mês, a 17 e 30, e a Feira Anual, que se realiza em dia variável, na primeira quinzena do mês de Junho, integrada na Festa da Cereja. A primeira Feira é de origem Medieval, (Carta de Feira de 1395, passada por D. Dinis) e esteve nitidamente ligada ao processo de repovoamento desta região do Nordeste levada a cabo por aquele monarca, associando se assim ao próprio Foral da Vila, que data de 1294. Esta Feira, que em alguns períodos do ano atinge dimensão razoável, continua a motivar um fluxo apreciável de “tendeiros”, oriundos de várias zonas do Norte do país, com particular incidência dos concelhos vizinhos e mantém a tradição de proporcionar um motivo de deslocação das populações do concelho à vila, que normalmente aproveitam estes dias para tratar de todo o tipo de assuntos. Muito embora não existam estudos precisos sobre esta Feira, ela conheceu algum declínio nas décadas de 70 e 80 do século passado, registando novamente sinais de recuperação, apesar de paralelamente se verificar o crescimento do comércio local. A Feira Anual, começou a realizar se há uma dezena de anos, acompanhando o desenvolvimento da Festa da Cereja, certame de características turísticas realizado pelo Município, em colaboração com a Cooperativa Agrícola local, que tem na cultura da cereja a sua mais importante produção.

FESTAS E ROMARIAS

O Concelho de Alfândega da Fé tem trinta povoações, incluindo a sede do concelho, distribuídas por vinte Freguesias, e praticamente todas possuem um padroeiro em honra de quem se faz uma ou mais Festas por ano. De uma forma geral, estas Festas realizam se nos meses de Julho a Setembro e possuem características comuns: Procissão, (com vários andores de santos, devidamente ornamentados), acompanhada de uma banda musical e “Arraial”, com concerto de banda e actuação de grupos musicais e o tradicional fogo de artifício, normalmente com a sua máxima expressão na designada “descarga da meia noite”. Os programas das Festas mais importantes abrangem vários dias, com particular incidência nos dois últimos, que regra geral coincidem com o Sábado e o Domingo, transformando se num momento privilegiado para o reencontro dos conterrâneos que vivem fora, no país ou no estrangeiro. Destacamos, pela sua tipicidade, regularidade e número de pessoas que envolvem, as seguintes Festas: Alfândega da Fé, (vila), em honra do Mártir S. Sebastião, no segundo fim de semana de Agosto; Sambade, em honra de N.ª S.ª das Neves, no terceiro fim de semana de Agosto e com a particularidade de ter o dia mais importante ao Domingo; Parada, em honra de SC Antão da Barca, no primeiro fim-de semana de Setembro; Vilarelhos, em honra de N.ª S.ª dos Anúncios, no último fim-de-semana de Agosto; Vilarchão, em honra de S. Sebastião, em Agosto, sem data fixa; Valverde, em honra de S. Bemardino, em Agosto, normalmente uma semana depois da festa da vila; Destas Festas, apenas as de Alfândega da Fé e Vilarchão se realizam dentro das localidades, sendo as restantes efectuadas nos respectivos “Santuários”, com especial destaque para os de Stº Antão da Barca e N.ª S.ª dos Anúncios.

TRADIÇOES

Tratando se de uma zona com uma profunda ligação à agricultura, no concelho de Alfândega da Fé mantêm se ainda muitas tradições antigas, nomeadamente as que dizem respeito ao artesanato local, cestaria, latoaria, madeira, rendas e bordados e tecelagem em teares manuais. Em termos mais culturais os cantares de Reis e o Entrudo são os momentos que mobilizam muitas freguesias; o Entrudo na localidade de Vilarchão tem ainda a particularidade da realização da “arreata dos burros”, uma manifestação de origens desconhecidas e que consiste na concentração (bem cedo) e posterior largada de todos os animais pelas ruas das aldeias, participando nesta organização apenas os rapazes. A matança tradicional do porco e os consequentes enchidos é outra das tradições que ainda se mantém. A gastronomia conserva igualmente o sabor de tempos antigos, nomeadamente nas sopas da matança e da segada, nas casulas secas, no molho da horta, nos folares da Páscoa, mas também na doçaria, com destaque para os rochedos e os barquinhos.

AS FREGUESIAS DO CONCELHO

Como já se referiu, o concelho está dividido em 20 freguesias. As aldeias mais importantes, em termos populacionais, económicos e até históricos, ainda que neste aspecto existam motivos de interesse espalhados um pouco por todo o concelho, são as de Sambade, Vilarchão, Vilarelhos e Vilares da Vilariça.

AGROBOM: Esta localidade é sede de freguesia e inclui uma povoação anexa com o nome de Felgueiras. Localiza se a cerca de 10 quilómetros da sede do concelho, para nordeste, na vertente sul da serra de Bornes. A principal actividade é a agricultura, possuindo terrenos férteis, circunstância que pode estar na origem do próprio nome, “campo bom”. Azeite, amêndoa e fruticultura são as principais produções, estando uma parte do termo incluído no regadio da barragem da Camba, construção recente da iniciativa da Câmara Municipal. No profundo e apertado vale da ribeira de Agrobom cultivam se ainda vários produtos hortícolas, que surgem mais cedo, devido às características do microclima ali existente; nessa mesma zona se localizam as ruínas de uma antiga capela (Santa Marinha) acerca da qual se conta uma lenda interessante: como a capela era disputada pelos de Sambade e pelos de Agrobom, por não se entenderem quanto aos limites das respectivas freguesias, a Santa fez o milagre de mudar o curso da ribeira, para que a capela ficasse do lado desta freguesia. Actualmente com 222 eleitores inscritos, os residentes dificilmente ultrapassam a centena e meia de pessoas. A igreja Matriz é um edifício com algum interesse e no interior possui um altar mor em talha pouco bem conservado, mas digno de se apreciar. Realizam se festas em honra de S. Sebastião (20 de Janeiro), Nossa Senhora das Graças (2° domingo de Agosto) e S. Lourenço (10 de Agosto).

CEREJAIS: Esta localidade tem registado algum crescimento nos últimos anos, supomos que em parte pela proximidade e fácil acessibilidade à sede do concelho e pelo impulso social e turístico desenvolvido pelo Santuário Mariano que ali existe e que é um dos mais visitados do país. Actualmente com 269 eleitores, a principal actividade económica é a agricultura, sendo uma passagem obrigatória no tempo das amendoeiras em flor; a pastorícia fez com que nesta localidade se produza um dos melhores queijos da região e a ligação às artes tradicionais permite que ali se possa ainda adquirir excelente calçado de fabrico manual. A proximidade do rio Sabor e as antigas quintas que existiam nas suas margens criou, desde tempos remotos, o gosto pela pesca e, consequentemente, o desenvolvimento da gastronomia que lhe está ligada, verificando se que ainda hoje são muitas as pessoas do concelho, nomeadamente das freguesias vizinhas, que gostam de frequentar a zona da Quinta Branca. O Santuário Mariano de Cerejais é o local mais visitado do concelho, possuindo duas áreas, a Loca e o Calvário que, para além do aspecto religioso, são excelentes miradouros. Realizam se as festas de S. Paulo (25 de Janeiro), do Imaculado Coração de Maria (último domingo de Maio) e de S. Sebastião (último domingo de Julho).

EUCÍSIA: Esta freguesia, que inclui como anexa a localidade de Santa Justa, tem 207 eleitores inscritos e a principal ocupação dos residentes é a agricultura, muito embora exista um número razoável de pessoas que vive dos serviços e da construção civil. Uma parte da freguesia está incluída no vale da Vilariça, pelo que este facto, juntamente com a existência de água com alguma abundância, permitiu a fixação, desde muito cedo, da população. Por esse motivo, nesta zona se concentram alguns dos mais importantes elementos do património histórico arqueológico do concelho: as pedras escritas de “Revides” e das “Ferraduras” e o Castro de Santa Justa. Realiza se uma festa em honra de S. Sebastião, no 1° Domingo de Setembro.

FERRADOSA: Na freguesia de Ferradosa, que tem como anexa a localidade de Picões, localiza se um dos mais importantes vestígios do povoamento Castrejo do concelho, conhecido por “Castelo dos Picões”, localizado na zona do “rebentão”, na margem direita do rio Sabor. Actualmente com 301 eleitores inscritos, esta freguesia tem na agricultura e na pastorícia as suas principais actividades, possuindo bons terrenos nas encostas do rio. A ligação desta freguesia ao rio Sabor é evidente, não apenas através dos terrenos agrícolas, mas também do peixe, abundante naquela zona e em tempos uma actividade importante; por outro lado, convém não esquecer que a travessia para o vizinho concelho de Moncorvo se fazia por “Silhades”, uma povoação extinta na margem direita do Sabor, próxima de Picões, onde existia uma barca para efectuar a travessia Realizam se festas em honra de Santo Amaro, a 15 de Janeiro e de Nossa Senhora de Fátima, no 3° fim de semana de Agosto.

GEBELIM: Esta freguesia localiza se em plena serra de Bornes, o que, do ponto de vista paisagístico, a torna uma das mais interessantes do concelho. Com 276 eleitores, as principais actividades dos residentes são a agricultura, a pastorícia e a floresta. Segundo Pinho Leal Gebelim é uma palavra de origem árabe, resultante da corrupção da palavra “Jabalain”, que significa “dois montes”. Não sendo de estranhar esta origem, embora não se possa comprovar, é certo que por ali existem muitos topónimos e referências aos mouros, como a fraga dos mouros, onde existem pequenas cavernas. Notável, igualmente, é o facto de antigamente se ter explorado cal nesta freguesia, referindo João Vilares” que ali existiram cinquenta fornos; de qualquer forma, não deixa de ser importante constatar a existência de calcário a cerca de mil metros de altitude! Contudo, o aspecto patrimonial mais relevante é a Capela de S. Bernardino, monumento classificado “de interesse público”, construído em 1743, em cujo interior se encontram importantes painéis que descrevem a vida daquele santo. Realizam se festas em honra de S. Bernardino, a 20 de Maio e no 2° Domingo de Setembro, sendo esta última das mais concorridas do concelho.

GOUVEIA: A freguesia de Gouveia encontra se a sete quilómetros de Alfândega da Fé e tem como anexa o lugar de Cabreira. Situa se na encosta sul da Serra com o mesmo nome, que abriga a povoação dos ventos de leste e nordeste. Segundo o Padre Francisco Manuel Alves, em “Memórias Arqueológico Históricas do distrito de Bragança”, o seu nome deriva do antigo verbo `gouvir’, que significa `gozar’. Não é credível tal definição toponímica, a não ser pelas questões paisagísticas que se podem desfrutar a sul, na encosta que dá para o rio Sabor… A Igreja paroquial foi construída em 1725. Possui cinco altares. Neste edifício merece destaque o seu prospecto exterior, muito agradável e merecedor de uma visita. Além do templo matriz existem mais duas ermidas, dedicadas a Santa Marinha e à Senhora do Rosário. A posição estratégica junto ao vale do Sabor, os Castros identificados na zona e a Serra da Gouveia conferiram a Gouveia uma importância redobrada em tempos mais recuados. Ainda em finais do século passado a freguesia tinha mais de 300 habitantes. Actualmente conta com 185 eleitores e cerca de 200 habitantes, espelhando bem a sangria da emigração que caracteriza toda esta zona do interior. A localidade de Cabreira, única anexa da freguesia, tem cerca de meia centena de habitantes e é zona de povoamento antigo, comprovado pelo Castro que se encontra nas suas proximidades. A agricultura é a principal actividade da freguesia, apesar da escassez de água. As boas hortas que ali se trabalham só contam com água corrente durante pouco mais de metade do ano. A oliveira, a amendoeira e o sobreiro têm ali boas condições de vida. Naturalmente, acabou por se desenvolver a pastorícia, como complemento à actividade agrícola. Realizam se festas em honra de Nossa Senhora dos Remédios, a 14 de Agosto, na Cabreira e de S. Bartolomeu, a 24 de Agosto, em Gouveia.

PARADA: A aldeia de Parada, sede de freguesia do mesmo nome, actualmente no concelho de Alfândega da Fé, localiza se na parte sul do planalto de Castro Vicente, na margem direita do rio Sabor e possui 210 eleitores. Não se conhece a origem desta localidade, mas considerando que em 1530, ano em que se fez um recenseamento da comarca de “Tralos Montes” ‘2, é identificada com apenas 4 moradores, somos levados a acreditar que a povoação se desenvolveu a partir do início do século XVI. As razões do nome, segundo a tradição popular, prendem se com o facto de os habitantes de Santo Antão e das outras quintas que por ali havia se juntarem para ir à missa a Castro Vicente, e fazerem uma “parada” junto de uma nascente, já no cimo da encosta, no local onde hoje se encontra a povoação ‘3. Esta versão pode ter algum fundo de verdade, como o nome pode, pela mesma razão, andar associado aos caminhos de Santiago. Já nos parece menos credível a versão que liga a localidade ao foro de parada, ou seja, à obrigatoriedade de a população dar uma refeição aos seus senhores. Isto porque só a partir do século XVIII a localidade teria condições para garantir tal foro e os senhores conhecidos eram os Távora, cuja influência no país se extinguiu em 1759. De qualquer modo, o povoamento na actual freguesia de Parada é muito mais antigo do que as datas já mencionadas e esse facto deixa entender que, à semelhança do que aconteceu com outras localidades do actual concelho a povoação está ligada a esses povoamentos, que são essencialmente dois: o mais antigo é o Castro/Castelo da Marruça e depois Santo Antão da Barca. O castelo da Marruça, ou “castelo dos mouros”, como é designado na localidade, não aparece mencionado, em termos de povoamento em qualquer documento conhecido, pelo que deve ter deixado de servir para tal fim há muitos séculos. Mas trata se de um povoado fortificado, tudo indica que Castrejo e eventualmente usado até à ocupação muçulmana. Tem uma localização impressionante, numa escarpa junto à margem direita do rio Sabor, o que lhe garantia uma perfeita defesa; trata se de uma muralha circular, em estado de conservação razoável, se comparada com outras estruturas idênticas do concelho e fora dessa muralha, na parte sul, observam se ainda fundações de habitações, o que indica a existência de um povoado antigo. O Santo Antão (da Barca) poderá igualmente ter sido um pequeno povoado, muito mais recente do que a Marruça. A (ermida) capela que ali existe é da primeira metade do século XVIII, eventualmente mandada construir pelos Távora; mas é provável que existisse outra mais antiga. Uma coisa é certa. Se, como diz a tradição, a importância daquele local se ficou a dever ao facto de ser uma zona de travessia do rio, o que pode compreender se pela existência, na zona, de outros pequenos povoados, hoje quintas, tal facto só deve ter tido alguma importância até à perda do domínio dos Távora, uma vez que no levantamento de 1796 não se faz menção à barca do Santo Antão; pelo contrário, é registada a de “Silhades”, como se referiu na descrição da freguesia de Ferradosa. A principal riqueza da freguesia é a agricultura, tendo a amêndoa ocupado um lugar de destaque até há bem pouco tempo, sobretudo porque ali se cultivava uma variedade de boa qualidade, designada de “refego” (“repego”) ou simplesmente Parada. Mas no termo, para além do olival, produz se também um dos melhores vinhos do concelho. A culinária popular aproveitou a amêndoa para desenvolver dois doces com características únicas, os “Rochedos” e os “Barquinhos”, que também se fazem na vizinha localidade de Vilarchão. Para além do património já indicado, a Igreja Matriz, reconstruída em 1795 mas seguramente construída entre finais do século XVII, princípios do século XVIII, é o elemento mais relevante a destacar. No interior, para além de alguma talha, duas peças de ourivesaria com importância: a cruz processional e a custódia, ambas de prata e feitas em Guimarães em finais do século XVIII. Esta cruz processional é a mesma que a população escondeu dos franceses, enterrando a, para não ser roubada. O Santo Antão da Barca já não tem os habitantes de outrora e o último ermitão há muitos anos que deixou o local. Mas viu melhorados os acessos e as próprias instalações junto à capela, continuando a ser uma das mais concorridas romarias de Verão do concelho, atraindo mesmo muitos visitantes das localidades vizinhas pertencentes a outros concelhos. Brevemente, a aldeia de Parada ficará mais bem servida em termos rodoviários, com a construção da estrada que ligará Alfândega da Fé a Mogadouro e que incluirá a ponte sobre o Sabor, desejada há tantas décadas! Será o fim definitivo da Barca; se a barragem do baixo Sabor se vier a concretizar, a própria capela do Santo Antão terá de ser mudada de lugar: virão novos barcos e com eles outras gentes, à procura do sossego da região. Realizam se festas em honra de S. Tiago, a 25 de Julho, em Parada e do Santo Antão da Barca, no 1° fim de-semana de Setembro, sendo esta a maior romaria do concelho.

POMBAL: A freguesia de Pombal, com os seus 132 eleitores, vive essencialmente da agricultura, sendo conhecidos os seus amendoais que, de resto fazem parte do circuito das amendoeiras em flor. Localizada na vertente sul da serra de Borres e virada para o vale da Vilariça, esta freguesia possuiu um clima bastante quente e com amplitudes térmicas muito inferiores à média do concelho, produzindo se ali boas hortaliças, azeite, figos e bastante cortiça. Desconhece se a origem da localidade, mas no local onde há cerca de duas décadas foi construído o campo de futebol, no cimo de um monte que lhe fica próximo, encontramos vestígios de um muro, cuja espessura e características de construção evidenciam a possibilidade de ali ter existido um castro. Nas proximidades, entre esta localidade e a de Vales, encontram se as ruínas de uma aldeia conhecida por “Vale das Cordas”. Como veremos, ao falar dos Vales, a tradição explica que foi a partir desta localidade que surgiu a actual aldeia de Vales, mas pode igualmente levantar se a hipótese de o povoamento da zona ser ter desenvolvido do castro para esta povoação extinta e depois esta ter dado origem às duas que lhe ficam vizinhas. Realiza se uma festa em honra de Santa Marinha, a 18 de Julho.

SALDONHA: A freguesia de Saldonha fica no extremo nordeste do concelho, numa zona de terrenos planos que possibilitam uma agricultura muito rica, nomeadamente na produção de azeite e de cortiça. Com 131 eleitores, a localidade tem origens muito antigas, referindo se, inclusive, a existência de uma povoação extinta, no lugar denominado “Castelo do Ouro”‘S. Este e outros aspectos relacionados com povoamentos antigos, não puderam ainda ser confirmados, mas a existência, no termo, de topónimos como “Castro” e “Castelo” são bons indicadores para uma pesquisa mais aprofundada. Realiza se festa em honra de S. Martinho, a 11 de Novembro.

SAMBADE: Sambade é a aldeia mais populosa do concelho, actualmente com 667 eleitores, a segunda freguesia em extensão e a única que possui duas povoações anexas (Covelas e Vila Nova) distando sete quilómetros da sede do concelho e localizando se na vertente sul da Serra de Bornes, a cerca de 800 metros de altitude. A igreja matriz de Sambade é o mais importante monumento religioso do concelho, classificado como de interesse público, sendo a sua reconstrução de 1798, com características barrocas. Sambade é de origem muito antiga, tendo a sua Abadia feito parte do Padroado Real, com rendimentos apreciáveis, o que terá provocado a sua disputa pelos elementos eclesiásticos e de certa forma justificará o crescimento de tão importante povoação em plena Serra de Bornes, cujos rendimentos resultam hoje essencialmente da agricultura, com destaque para a castanha, a batata e os cereais, sobretudo o centeio, bem como de alguma pecuária. Mas em tempos mais recuados, Sambade foi um importante centro de produção de lã, de linho e de seda, sendo essa então a sua principal riqueza, facto que pode ajudar a compreender porque razão do início do século XVI até ao final do século XIX esta freguesia apresente mais população que a sede do concelho. Do ponto de vista paisagístico esta freguesia merece também uma visita mais prolongada, sobretudo para se conhecer a Serra de Bornes, cujo cume principal, a 1200 metros de altitude, aqui se localiza; entre Sambade e aquele cume, a cerca de 900 metros, foi recentemente aberta uma estalagem de elevada qualidade, que apoio o desenvolvimento turístico da zona e do concelho. Apesar das referências antigas sobre a sua existência, não se encontraram até ao momento vestígios de povoamentos mais antigos, nomeadamente do período Castrejo, sendo relevante referir que João Vilares, que era natural desta freguesia, não referiu na sua Monografia qualquer elemento relacionado com este aspecto, exceptuando se o nome de uma localidade, “Ride Cabras”, cuja localização ele próprio afirmou desconhecer. Realizam se festas em honra de S. Sebastião, a 20 de Janeiro e de Nossa Senhora das Neves, no 3° Domingo de Agosto.

SENDIM DA RIBEIRA: A localidade de Sendim da Ribeira, que dá o nome à freguesia, juntamente com a anexa de Sardão, pode ser um das mais antigas do concelho. O nome parece ser de origem visigótica e na zona existe um topónimo “castelo”, que pode andar associado à existência de um castro, cujos vestígios, contudo, são hoje difíceis de identificar, devido à progressão da agricultura, particularmente dos olivais, cujo azeite, segundo alguns entendidos, é considerado dos melhores do mundo, graças ao clima ameno permitido pelo vale da ribeira de Zacarias. Actualmente a freguesia possui 103 eleitores, tendo a sua população diminuído nas últimas décadas. A igreja matriz, recentemente recuperada, merece uma visita, sobretudo ao interior, onde existe um altar mor em boa talha dourada. A anexa de Sardão está igualmente em declínio populacional, mas o seu casario antigo, quase todo original e construído em xisto, deixa perceber o que eram as nossas aldeias há uns séculos atrás. À semelhança do que acontece em quase todo o concelho, também nesta freguesia existem lendas de “mouras encantadas”, mas aqui, uma delas, anda associada a uma elevação conhecida por “Monte do Concelho”, onde existem ruínas de uma capela. Realizam se festas em honra de S. Secundino, a 30 de Agosto e de Santa Bárbara, a 4 de Dezembro.

SENDIM DA SERRA: Apesar de ter o mesmo primeiro nome, esta freguesia não confina com a anterior, desenvolvendo se o seu território na vertente norte da serra da Gouveia, mas a origem do nome parece ser a mesma. Agricultura e pastorícia são as ocupações desta população, actualmente com 120 eleitores. Para uma freguesia tão pequena e de escassos recursos, torna se difícil explicar o número e a importância das suas construções religiosas. A igreja Matriz, muito antiga, ainda que numa construção simples, possuiu no interior um altar mor em boa talha; para além deste edifício existe ainda uma pequena capela dedicada a S. Sebastião. Mas é fora da localidade que se encontram outros dois edifícios religiosos de maior interesse: o primeiro, uma ermida, de Santa Eufémia, muito antiga e junto à qual existem duas sepulturas cavadas na rocha e uma terceira iniciada, ou destinada a uma criança; o segundo é o Santuário de Nossa Senhora de Jerusalém, verdadeiramente uma igreja, pela dimensão, pelas características arquitectónicas e pelo número de altares. Desconhece se a data da construção deste santuário, mas tudo indica que o actual edifício, infelizmente muito descaracterizado graças a uma má intervenção na década de 80 do século passado e a uma tentativa de recuperação recente também pouco feliz, tenha sido construído sobre um edifício mais antigo, medieval, seguramente. De qualquer forma, é espantoso que num lugar ermo, distante de qualquer povoado, se tenha erguido um edifício religioso tão imponente. Em nosso entender, para além da igreja Matriz de Sambade nenhum outro, no concelho, tem maior força arquitectónica. Realizam-se festas em honra de Nossa Senhora de Jerusalém, no 1° Sábado de Agosto e de S. Lourenço, no dia 10 de Agosto.

SOEIMA: A aldeia de Soeima, que dá o nome à freguesia, situa se na encosta sul da serra de Bornes e tem a particularidade de estar a cerca de mil metros de altitude, pelo que dali se avistam dezenas de outras localidades, deste concelho e dos concelhos vizinhos. A população de Soeima, que conta com 207 eleitores, dedica se essencialmente à agricultura, sendo de destacar a qualidade da castanha e da batata que se produz no seu termo. Podemos ainda apontar uma particularidade desta freguesia: há umas décadas atrás, quando os cereais, nomeadamente o centeio, constituíam uma produção forte no concelho, as gentes de Soeima conseguiam produzir este cereal a cerca de mil e cem metros de altitude, quase no alto da serra de Bornes. O nome Soeima evidencia a antiguidade da povoação, uma vez que é de origem moçárabe. Mas não se conhecem na zona outros vestígios de povoamentos antigos. Realiza se uma festa em honra de S. Pelágio, no mês de Junho.

VALE PEREIRO: Vale Pereiro tem actualmente 135 eleitores e é uma localidade antiga. Não pudemos apurar a data em que passou a freguesia, mas sabe se que em 1530 pertencia ao concelho de Castro Vicente e tinha 23 moradores”, número então suficiente para que fosse freguesia autónoma, já que na mesma data a vizinha Saldonha possuía apenas 12 moradores; no final do século XVIII possuía cerca de 150 habitantes, mais ou menos os que tem agora e cuja ocupação é igualmente a agricultura, sobretudo o olival, e a extracção de cortiça. O interior da igreja Matriz merece ser visitado, possuindo vários altares em talha; nas proximidades da aldeia existe uma ermida dedicada a S. Geraldo, de construção muito antiga. Na freguesia existem vestígios de povoamentos antigos, nomeadamente no local designado por “casinhas brancas” onde se observam ruínas de construções a que se atribuiu origem moura. Não sabemos como poderá provar se este facto mas, a ser confirmado, constituiria o único vestígio dos mouros em matéria de construção na área deste concelho. Realiza se uma festa em honra de S. Bartolomeu, no 1° Domingo de Agosto.

VALES: Esta freguesia conta actualmente 112 eleitores e o seu termo localiza se na encosta sul da serra de Borres, pelo que a actividade agrícola inclui ainda muitos castanheiros, mas também nogueiras e mais recentemente floresta. A maior elevação dentro da freguesia é o monte dos “Rebolais”, de onde se tem uma excelente paisagem para o vale da Vilariça. O nome desta povoação está directamente relacionado com a sua localização, entre vales (formados por dois pequenos cursos de água), mas desconhece se a sua origem. Os mais antigos vestígios de povoamento na freguesia situam se em Vale das Cordas, que foi claramente um povoado antigo, hoje extinto. No entanto, as duas localidades coexistiram, uma vez que no recenseamento de 1530 ainda aparecem as duas localidades, a primeira com 9 moradores e a segunda com 6. Desta forma, a ideia de que uma terá originado a outra, e mesmo a de Pombal, como já se referiu, não parece muito segura, até porque naquela data esta última localidade já possuía 11 moradores”. No início do século XVIII Vale das Cordas ainda seria habitada, mas no final do mesmo século a povoação já não é referida. Como a igreja Matriz de Vales foi reconstruída em 1744, data que está registada no pardieiro da porta principal, podemos levantar a hipótese de que estas três localidades tiveram origens e cursos distintos, muito embora uma delas tenha acabado por desaparecer, talvez pela sua fraca localização e pelo desenvolvimento das outras. Realiza se uma festa em honra de Santa Cruz, a 13 de Maio.

VALVERDE: Situada na parte inferior do planalto de Alfândega da Fé, já próximo da Serra da Gouveia e com o Vale da Vilariça à vista, Valverde é uma localidade antiga e o seu crescimento ficou a dever se à riqueza agrícola do vale que lhe deu o nome e às boas condições para o desenvolvimento das amoreiras, fundamentais para a criação do bicho daseda. O mesmo vale, graças ao seu terreno barrento, permitiu o desenvolvimento de vários fornos de telha, levando a povoação a um crescimento pouco habitual em tempo mais recuados, ao ponto de ali ter existido uma “farmácia”, situada na zona do actual edifício da Junta de Freguesia. No entanto, Valverde é sobretudo conhecida pela sua majestosa Cruz Processional, uma autêntica obra de arte do século XVI, devidamente guardada e preservada, só apresentada em público em ocasiões solenes; esta cruz, cujo estudo e inventariação já foi efectuado”, anda ligada à lenda de Frei João Hortelão, natural de Valverde e a quem a população atribui vários actos milagrosos, conforme se referiu atrás.

VILARCHÃO: A quinze quilómetros da sede do concelho, Vilar Chão situa se numa zona planáltica com o mesmo nome (também designado planalto de Castro Vicente) que a nascente termina num vale apertado e profundo por onde corre o rio Sabor. Vilar Chão foi integrada no concelho de Alfândega da Fé em 1855, tendo pertencido anteriormente aos extintos concelhos de Castro Vicente e Chacim. É hoje uma das mais importantes e ricas freguesias do concelho, (351 eleitores) com uma actividade agrícola e pecuária assinaláveis, bem patente no número de alfaias agrícolas modernas e na existência de uma sala de ordenha, apesar de ser uma zona com pouca água. A cultura de cereais (sobretudo trigo e centeio), hoje em declínio, fez do termo de Vilar Chão um autêntico “celeiro” do concelho e das regiões vizinhas. As origens da localidade transportam nos ao período suevo e ao despovoamento provocado pela invasão muçulmana. No período medieval foi objecto de repovoamento. Na localidade anexa, Legoinha, (local de interesse turístico) existem vestígios de um castro. A obra do Padre Belarmino Afonso, “Cerâmica do Distrito de Bragança”, refere bem a importância económica que o fabrico da telha teve em tempos para a freguesia: “Uma fornada de telha vinha equilibrar ou suprir as dívidas de uma má colheita, ou pagar por um filho que foi preciso livrar da tropa. (…). Um bom número de fornos, de que conseguimos notícia, era da comunidade local. Não admira, pois, que este tipo de actividade artesanal se enquadrasse perfeitamente dentro das banalidades fornos, moinhos, forja e lagar da economia medieval agro pastoril.” Mas para além do fabrico da telha, em Vilarchão também existiram lagares de azeite comunitários e em finais do século passado, princípios do nosso até uma certa dinâmica na tentativa de exploração de alguns minérios, havendo conhecimento do registo de 11 minas entre 1883 e 1911, uma das quais de prata. Em termos patrimoniais a casa da família de Manuel António Ferreira de Aragão (Marechal de Campo e morgado, natural da freguesia) é o mais importante património de Vilar Chão. Possui Brasão e foi construída para solar daquela família em 1760. João Vilares, em “Monografia do Concelho de Alfândega da Fé” descreve o assim: “em campo de ouro quatro palas vermelhas; timbre um touro vermelho saltante com coleira e campainha ao pescoço; por cima, num dos cantos, uma flecha”. A igreja paroquial é antiga e destaca se pelos seus cinco bonitos altares, bem trabalhados. Tem como parte integrante do seu espólio uma custódia, com decoração barroca. Outro local de interesse patrimonial é a Fonte Limpa, construída em 1796, também de estilo barroco e exemplar único no concelho. Para além de outros aspectos, Vilar Chão destaca se ainda por uma tradição cultural que tem especiais referências na “arreata dos burros”, uma forma diferente de festejar o Carnaval. Na doçaria, são conhecidos os “rochedos” e os “barquinhos”, feitos com amêndoa e de excepcional qualidade, cuja origem ou é desta terra ou da Parada, como se disse anteriormente. Realizam se festas em honra de S. Sebastião, a 20 de Janeiro e Nossa Senhora da Assunção, em Agosto.

VILARELHOS: A aldeia de Vilarelhos é de origem muito antiga, existindo na área da freguesia vestígios do período romano e sendo atestada a sua importância económica pela existência do mais importante monumento não religioso do concelho, o solar do Morgado de Vilarelhos, de traça barroca. A povoação situa se a cerca de doze quilómetros de Alfândega da Fé, para poente e na parte superior do Vale da Vilariça, possuindo ainda alguns terrenos incluídos na Região Demarcada do Vinho do Porto, pelo que a vinha e o olival são as principais riquezas da sua população, muito embora actualmente a fruticultura e a horticultura, mercê do clima propício da zona, venha a ganhar cada vez mais importância na economia da freguesia. O edifício onde até há bem pouco tempo funcionou a junta de freguesia e a escola pré primária possui um interessante alpendre com colunas de granito que, juntamente com uma fonte de mergulho e um tanque público forma o mais bonito recanto da localidade. Este edifício foi, seguramente, uma capela, ou mesmo, em tempos recuados, a primeira igreja Matriz. Na freguesia existe a barragem do Salgueiro, destinada à irrigação dos terrenos próximos e local aprazível nos dias quentes de Verão. Outro elemento cultural relevante é o cabeço de Nossa Senhora dos Anúncios em cuja vertente nordeste foi encontrada uma necrópole romana, estudada Santos Júnior, que também avançou a hipótese de ali ter existido um castro. Realizam se festas em honra de Nossa Senhora dos Anúncios, no 3° fim de semana de Agosto e de S. Tomé, a 23 de Dezembro.

VILARES DA VILARIÇA: Distando cerca de doze quilómetros da sede do concelho, Vilares da Vilariça, (que tem 328 eleitores) situa se na parte superior do riquíssimo vale da Vilariça, facto que permite excelentes produções de vinho (parte da freguesia ainda está incluída na região do vinho generoso do Douro) e azeite, bem como uma importante produção frutícola. A origem desta localidade, antigamente dividida em duas (Vilares de Cima e Vilares de Baixo) remonta ao período suevo e foi posteriormente povoada. O seu nome está também ligado à lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas. A “terra” de Vilariça, muito ampla e que posteriormente se iria fragmentar e dividir em pequenos territórios pequenas freguesias teve a sua sucessora na paróquia de Santa Comba. Antes disso, porém, D. Pedro Fernandes, um nobre local, iria doar a região de Vilariça ao mosteiro de Bouro, que doravante ficou com a sua posse. Juntamente com a paróquia de santa Comba, eram doadas as freguesias de Colmeais e Vilar de Baixo e de Cima. Ainda hoje, e de forma definitiva desde o século XVIII, a freguesia compreende os três pequenos lugares. O orago, inicialmente de Santa Comba, foi substituído por Santa Catarina, que era o do lugar de Vilares de Cima. Curiosa é a exclamação do abade de Miragaia, autor dos dois últimos volumes do “Portugal Antigo e Moderno” (por morte de Augusto Pinho Leal), em relação a esta relativamente confusa movimentação administrativa da freguesia: “Valhanos a Senhora do Monte do Carmo!”. A igreja paroquial de Vilares da Vilariça merece nos destaque sobretudo pelo seu espólio. Deste, o elemento mais importante é uma cruz das almas, em cobre, do século XV Provavelmente, deverá ser o mais antigo elemento processional de todo o concelho de Alfândega da Fé. Conforme descreve Fernando Pereira, em “Ourivesaria Religiosa do Concelho de Alfândega da Fé”, “é uma cruz de braços rectos, interrompidos no seu ponto central por expansões (que em peças de prata desta época serão quadrifoliadas) e com terminações flordelizadas. Este desenho, arvoriforme, é identificado com o madeiro onde Cristo foi crucificado”. A única decoração existente, para além da própria estrutura, é conseguida à base de círculos (cabeças de prego). O Cristo é um bom trabalho escultórico, usa um pano de pureza cobrindo lhe praticamente toda a perna. Este tipo de cruzes divulgou se bastante pela zona e são conhecidas por “Cruzes das Almas”. Referência ainda para uma custódia existente na igreja paroquial. Mais recente do que a cruz atrás mencionada, (séc. XVII) é em prata e mede cinquenta e seis centímetros de altura, por doze e meio de largura. Semelhante a muitas desta região, pode ser utilizada como custódia e também como cálice, daí o facto de ter os dois nomes. A igreja possui ainda quatro altares em boa talha e em bom estado de conservação. Em Vilares da Vilariça existe um núcleo habitacional antigo que está a ser objecto de recuperação e que inclui a área onde se localiza o cruzeiro e uma das casas brasonadas. Um destes brasões pertenceu à família dos Távora. A capela de Nossa senhora do Socorro fica na encosta sul da Serra de Bornes, a cerca de dois quilómetros e dali se avista todo o Vale da Vilariça, até ao rio Douro. Na zona fica igualmente a Fraga dos Mouros, espécie de gruta cavada no granito que segundo a tradição serviu de refúgio. A zona da Barragem é um local de interesse turístico, sendo permitida a pesca desportiva. Realizam se festas em honra de S. João, a 24 de Junho e de Nossa Senhora do Socorro, a 14 de Agosto. Dr. Francisco José Lopes, Abril de 2002

In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,
coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura.
Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães – Tel/Fax: 253 412 319, e-mail: ecb@mail.pt

Preço: 30 euros

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