Concelhos

Vila Real

Web Site da Câmara Municipal
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CRUZEIRO DA BOAVISTA

O cruzeiro da Boavista está ali implantado para sacralizar a terra. Terra a nornordeste, retalhada como manta de farrapos, de uma economia de sobrevivência mas também já de mercado; terra a sul e sueste de uma corda de povos, onde a epopeia dos mares de vinho, com tanto de sofrimento como de fábula, se ouve por vales e planaltos dos mais humanizados do país; terra de cascalho e clima propícios para a feitura do Vinho do Porto, conseguido à custa do esforço diário de homens e mulheres com um saber e técnica de séculos o que garantiu o brilho de capelas, igrejas, solares, vilas e cidades.

Vila Real

Distrito de Portugal, formado de uma parte do Alto Trás os Montes e de outra do Douro. Actualmente tem 223.327 habitantes, distribuídos por 4.328 Km. A sua densidade populacional é de 74,7. Tem 219.073 eleitores. A capital de distrito: Vila Real. Compreende 14 concelhos e 258 freguesias. Os concelhos são: Alijó, Boticas, Chaves, Mesão Frio, Mondim de Basto, Montalegre, Murça, Peso da Régua, Ribeira de Pena, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar e Vila Real. Serras principais: no enfiamento umas das outras, as do Marão, (1400 m), Alvão (1 200 m), Padreia (1 146 m) e Barroso (1 279 m) a NW. O distrito é banhado pelo Rabagão, Cávado e Teixeira, Tâmega, Corgo, Ceira, Pinhão, Tua, estes seis afluentes da margem direita do rio Douro. A Região do Vinho do Porto reparte se vastamente por este distrito. A cidade de Vila Real está situada a uma altitude de 429,9 m. Ocupa uma plataforma interior na base oriental das serras do Marão e Alvão, onde os rios Corgo e Cabril, através do tempo, cavaram o leito em profundas gargantas. Dista aproximadamente 85 Km, em linha recta, do Oceano Atlântico, que lhe fica a Oeste, 15 Km do rio Douro a correr lhe a Sul e cerca de 65 Km da fronteira com a Galiza. Tem sido considerada como capital, a partir de 1890, por ser sede de distrito mas é somente elevada a cidade em 20 de Julho de 1925, após ser criada a diocese no mês de Abril de 1922. Ao ser fundada por D. Dinis, em 1289, tornou se centro administrativo do território, conhecendo assim uma evolução do espaço em que os rios foram determinantes no seu povoamento, apertando a nas suas margens elevadas e modelando a ao longo das suas ribas. O seu crescimento populacional foi favorecido pelo facto de estar localizada numa encruzilhada, entre o litoral e o interior, com ligações ao Porto, Braga, Chaves, Galiza, Bragança e Coimbra. A partir do século XVII, mas essencialmente nos séculos XVIII e XIX, ganhou a fortuna de ser capital da rota do Vinho do Porto. É uma cidade rio e de fortaleza. O grande volume das ligações com o mar, fazia se pelo rio Douro, até onde desciam os carreteiros e donde regressavam os mesmos e os almocreves. A estrada da Companhia, bem como a estrada real, via Marão, considerada perigosa pelos inúmeros assaltos e, para os fins do século XIX, o combóio, foram abrindo alternativas à circulação de gentes e bens. No burgo, denotam se ainda espaços de casas apinhadas, ruelas e travessas estreitas, o bairro antigo de Ferreiros, o do Pioledo já irreconhecível , calçadas e escadinhas que, em certa medida, distinguiam a mancha urbana do campo que o rodeava. De espaço a espaço, a vila cresceu sem qualquer planificação, todavia certas zonas tipificaramse. Assim, a Vila Velha, o berço, foi constituída pela casa do alcaide, capela de Nossa Senhora do Desterro, conjunto desaparecido o casario, a Igreja matriz de S. Dinis e a capela de S. Brás, panteão de distintos personagens. Fora de muros, na Praça Velha das regateiras, ladeada de casas medievais, faziam se também os concursos de audiências do Senado. Inseridos neste novo espaço pode ver se a Casa de Diogo Cão, onde nascera o grande navegador da costa ocidental africana atlântica, descobridor da foz do Zaire e Angola, sob o reinado de D. João II, os Conventos de S. Domingos, Santa Clara e o Palácio do Arco ou do Marquês. No Rossio da Rua da Praça, à volta do pelourinho, aclamavamse os reis e representavam se comédias. O Campo do Tabulado funcionava como mercado. Outra importante malha urbana é formada pela Praça do Cabo da Vila e o respectivo casario circundante, pois aí se realizavam concentrações públicas e servia de mercado diário. O núcleo implantado à beira rio é constituído pela Ribeira Corgo, zona pitoresca, outrora activa nas suas agremiações de ferreiros, chapeleiros e moleiros. O concelho de Vila Real confina com a serra da Padrela, a norte, pela penedia da Azinheira, a nascente, pelas quebradas da Ermida, a sul e, montanhas do Marão e Alvão, a poente. Trinta freguesias pertencem ao município que ocupa uma área de 378 K2, com 43.756 eleitores, (1998). A região é diversificada nitidamente em duas paisagens humanas. Actualmente, o concelho de Vila Real, distribui se entre os rios Ceira e Corgo, afluentes do Douro com as 30 freguesias: Abaças, Adoufe, Andrães, Arroios, Borbela, Campeã, Constantim, Ermida, Folhadela, Guiães, Justes, Lamares, Lamas de Olo, Lordelo, Mateus, Mondrões, Mouçós, Nogueira, Nossa Senhora da Conceição, Parada de Cunhos, São Miguel da Pena, Quintã, S. Dinis, São Pedro, São Tomé do Castelo, Torgueda, Vale de Nogueiras, Vila Cova, Vila Marim e Vilarinho da Samardã.

PAISAGENS GEOGRÁFICAS

O sudoeste da província transmontana, entre as montanhas do Marão/ Alvão e o vale do Douro, encontra se numa encruzilhada de factores geográficos e variáveis geodinâmicas, o que a converte numa região de contrastes e ao mesmo tempo a distingue de outra do litoral ou do sul. A concentração de relevo elevado, as variantes climáticas, as formações vegetais e, sobre esta natureza, a acção do homem com peculiar modo de intervenção no que diz respeito ao seu habitat, formas de cultivo, dinâmica social, irão modelar as paisagens geográficas. Na província de Trás os Montes distinguem se quatro zonas, cada uma com as suas características próprias: a do alto Tâmega, onde a terra fende e dela brotam águas termais de Chaves, Carvalhelhos, Vidago, Sabroso de Aguiar e Pedras Salgadas, terra de afloramentos graníticos de cor azulada, creme e esbranquiçada; a terra fria transmontana de clima rigoroso, solos de contexturas mineralógicas diversas que os torna férteis em trigo, centeio e forragens; a terra quente transmontana de clima mais suave e riqueza de solos terra de azeite e pão. A quarta, pertencente ao Douro Norte, identifica se, por um lado, com o Alto Trás os Montes, região montanhosa formada pelas serras do Marão e Alvão, apenas separadas pelo verdejante Vale da Campeã, onde a influência marítima é quase nula, devido à barreira de condensação formada pelas grandes altitudes aí desenvolvidas ; por outro , a Sul, em similitude com Régua e Lamego, caracteriza se pelos mares de planaltos transformados em vinhas de socalcos, onde o tempo quente e seco e o solo de xisto cascalhento funcionam como propriedades excelentes para a feitura do Vinho do Porto, o tal “sol engarrafado “na feliz expressão do escritor António Cabral. Nesta região do Douro Norte, erguem se jogos de grandes blocos, ricos em formas de relevo, em alternância com vales profundos, sucedendo se numa sinfonia gigantescamente humanizada, em cuja rede fluvial, o grande rio divide o Douro Norte do Douro Sul. Os diferentes níveis de erosão levarão a pensar num carácter antigo do velho maciço do Marão e Alvão mas, a cada passo, deparamos com formas jovens de erosão e então a paisagem muda para ouvirmos, de quando em quando, uma música em claves de alaúdes e violinos, feita de chamamentos, cantares, assobios, sussurros e gorgeios. As fossas (Corgo, Cabril e Sordo) fendem os maciços do conjunto montanhoso, Marão Alvão, autênticas barreiras aos ventos do poente, diminuindo, deste modo, a densidade pluviométrica da região. Entre o compacto maronês, xistoso e o do Alvão, de grandes afloramentos graníticos, corre, como já se disse, o vale da Campeã, em doce paisagem idílica de verdura luminosa. Pelos seus espaços apinham se aldeias ainda de casas colmeadas (Campeã e Lamas de Olo). O dorso do Marão, prolongado por 20 quilómetros, permite aos povos anicharem se nas suas fraldas e então as vinhas impõem a sua presença e a paisagem transforma se numa densa mancha de vinhedos, bordejados de oliveiras que constituem um dos mais deslumbrantes enredos do mundo. É o Baixo Corgo e para nascente do rio topamos então com o extenso Cima Corgo, outra grande bacia de xisto, rodeada de um oceano de montanhas de granito. O solo elevado dá origem aos vinhedos em socalcos que mais parecem “escadas do céu”. As casas das quintas soerguidas no silêncio com os ciprestes, os povoados a almejarem de longe em longe as alturas, caracterizam a paisagem. Lá, onde outrora vicejavam as searas de centeio e se multiplicavam os soutos, hoje apenas a monocultura da vinha ou então o mortório isolado com retouças de sobreiro, azinheira, esteva e medronheiro. 60 aldeias se estendem pela margem esquerda, até perto da serra da Azinheira, sendo 25 viradas a sul e integradas na Região Demarcada do Vinho do Porto. Quem conseguirá ouvir nesses lugares meridionais as cósmicas e dramáticas lutas de homens e mulheres ou, porventura, certos cantos de alegria, quando bem sucedidos, daqueles que se entregaram em corpo e alma à vocação vinhateira? Percorramos então com esses olhos pelo encanto das paisagens geórgicas das vinhas, onde o “sol inunda as uvas que cantam as luas do ano”, sagrando as em esplendores ascéticos no Outono. Ali, é possível encontrarem se laranjais do tempo das lendas de mouras numa paisagem álacre de oliveiras e o testemunho de um património realizado ao longo duma penetrante história: altos castros e acampamentos romanos. Para os lados do nascente, a nogueira, o tojo, a cerejeira, o freixo são espécies que acompanham a paisagem. Nas fraldas das serras, a paisagem é atormentada e só quando se interrompem os picos graníticos é que há lugar para os pequenos vales e para a radicação do habitat humano, elaborado à volta da criação de gado, da agricultura do milho e forragens. Aqui, o tipo florestal mais característico é o ancestral carvalho, a faia, o loureiro, o azevinho, a torga, o olmo que revestem o serpentear dos arróios. Nas encostas prolifera o pinheiro, sendo também visíveis alguns castinçais de castanheiro bravo, a mimosa e outras espécies que deixaram relativo legado toponímico em Seara de Ordens, Soutelinho, Carvalho, Freixo, Cerdeiral, Tojais e Porto de Olmo. Na serra do Alvão neva mais cedo. Assomam se do seu dorso grandes picos que tomam aspectos de estátuas de guerreiros mortos. Núcleos históricos, lugares de princesas sempre irradiantes de beleza física e moral. O povoamento é mais disperso, porque as bondades da natureza são menos pródigas. Arnal e Lamas de Olo, aquela enconchada numa fundega, esta já virada para a vertente sul, ficam isoladas, por vezes, com os fortes nevões. Dali vem parte do abastecimento de água para a cidade. Pelas vertentes das serras do Alvão e Eiró contam se 60 aldeias acantonadas, desde o alto até à cidade. Todas na margem direita do rio Corgo. Basta haver um ribeirito que as casas e os geios lá aparecem. Findo o vale de Vila Pouca, maduro e suficientemente invejado, começa o concelho de Vila Real e também uma nova paisagem geográfica, formada pelo choque e entrecruzar dos cerros. Agora, o rio Corgo deixa de correr na planura para se afundar entre agressivos penhascos de granito. Por essas recônditas paisagens ocultam se as agruras e cantam se os amores. É neste espaço, em plena serra do Eiró que a aldeia da Samardã se esconde, beneficiando somente de lameiras e lameirinhas em socalcos. Perto do rio, descidos alguns quilómetros por colos de cerros em meandros, avista se Vilarinho de Samardã, a aldeia da infância de Camilo Castelo Branco. Para norte e seguindo em leque até à serra da Azinheira, este tipo de paisagem acompanha nos sempre. Depois, há a zona de transição, rápida, entre a de características de Alto Trás os Montes e a de Douro Norte, propícia a vinhos de tipo espumante. Fauna: Cabra bravia (capra hircus) De estrutura mediana com aptidão para a produção de carne. Cabeça triangular com cornos, normalmente curvados para trás, em forma de sabre, característica específica desta raça. Tem membros curtos, finos e com articulações salientes; pêlo curto, normalmente castanho, mais comprido e áspero nos machos. Pasta durante todo o ano nos baldios, onde encontra praticamente a sua única fonte de alimento. Actualmente existem cerca de 3000 animais na área do Parque Natural do Alvão que tem promovido acções de prevenção e valorização desta raça, uma fonte de rendimento das populações. Falcão peregrino (falco peregrinus) Espécie rara e protegida por lei. Mede entre 38 e 48 cm e tem uma envergadura de 80 a 117 cm. Em voo tem uma silhueta de asas pontiagudas e cauda curta. Ao aproximar se pode observar se um capacete negro e barras horizontais no peito. Procura zonas escarpadas e áreas abertas de matos e rochas para caçar. Alimenta se fundamentalmente de aves que captura em voo, chegando a atingir cerca de 300 Km/ h, sendo considerado o animal mais rápido do mundo. (Painel das Fisgas de Ermelo) Águia Real (aquila chrissaetos) Subindo o vale do Rio Corgo, apresenta se à nossa esquerda a Serra do Alvão. Território da águia real, resta actualmente um casal nidificante, dos vários que repartiam o “reino” ainda no início do século. Ave imponente, atingindo 2,3 metros de envergadura, pode ser vista a planar, aproveitando as correntes de ar. A águia real distingue se bem da águia de asa redonda, mais comum, pelo seu maior tamanho, pela forma das asas, quase rectangulares e pela coloração, com manchas brancas facilmente visíveis na cauda e na parte superior das asas. Espécie residente, percorre o seu domínio de vários quilómetros quadrados à procura dos pequenos mamíferos e aves de que se alimenta, não desdenhando cadáveres quando os encontra. O seu impacto nas populações que lhe servem de alimento, do mesmo modo que qualquer predador, é marcadamente positivo. Com efeito, eliminando principalmente os indivíduos doentes, os velhos e os defeituosos, os predadores evitam a propagação de doenças e favorecem a selecção dos mais aptos. Por outro lado, os predadores ajudam a manter as populações das presas dentro de valores equilibrados. No início do ano podemos ver os voos nupciais. Os casais fazem belas acrobacias aéreas, parecendo guerrear se com as garras estendidas. A nidificação pode não ocorrer todos os anos no mesmo ninho, no caso de o casal ter mais que um para usar em alternativa. No Verão, um ou dois juvenis podem ser observados voando em grupo com os progenitores, distinguindo se deles pela coloração mais clara. Quando se tormam independentes, as jovens águias são expulsas do território dos progenitores e procuram uma região disponível para se estabelecer. Espécie protegida por lei, a águia real tem sido mais uma vítima da deterioração dos ecossistemas. Por outro lado, os caçadores, os pilha ovos e os pastores que espalham carne envenenada pelas serras, completam o grupo de inimigos que tem reduzido a população portuguesa destas aves a algumas dezenas de indivíduos. Considerada espécie em perigo pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, a águia real depende de uma eficaz protecção aos seus territórios e de medidas de gestão da fauna, no sentido de lhe proporcionar condições de sobrevivência e evitar a sua extinção. (Paulo Talhadas dos Santos, Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago). Flora: Tomilho rasteiro ( thymus caespitiscus) Planta muito bem cheirosa, de caules longamente prostrados, com ramos florais cor de rosa que medem entre 2 e 7 cm. Forma pequenos tapetes cobrindo o solo meio pedregoso, e as encostas, sobretudo as mais secas e solarengas. Silene (silene aeutifolia) Planta sempreviva, mede cerca de 20 cm, tem folhas pubescentes ( coberta de pêlos ) e viscosas. As flores medem cerca de 1,5 cm. Típica destes ambientes rupícolas (rochosos) de altitude. Instala se sobretudo nas fissuras das rochas, onde se refugia dos ventos. A sua distribuição a nível mundial restringe se ao território continental português, pelo que é considerado um endemismo.

HISTÓRIA

A existência de muitos vestígios de civilização prova que, desde muito cedo, o território acolheu a presença humana mas cujo acervo museológico está por constituir. São diversos os artefactos encontrados em vários pontos da região. As suas características pressupõem uma ligação com as indústrias líticas dos movimentos nómadas do Paleolítico Superior. A presença sedentária de povoamento neolítco também aqui se fez sentir mas são os tesouros de moedas romanas, luso e hispano romanas, gregas, visigóticas, bizantinas e ibéricas que o visitante pode admirar no Museu de Vila Real bem como o Santuário Rupestre de Panóias. Os tempos de pressão bárbara e muçulmana ermaram em grande parte esta zona que foi povoada a partir de 1096 com o foral de Constantim de Panóias, dado pelo Conde D.Henrique. De presença a presença, irrompeu então a gesta portucalense até aos nossos dias. Passou o reinado de Afonso I, o conquistador, seguiram se os monarcas Sanchos e Afonsos, II.°s e III.°s e somente com o grande rei poeta e povoador é que nasceu Vila Real. Tinham passado quase dois séculos sobre os florescentes núcleos, designadamente, Canipelana, Mondrones, Quintanela,Todesindes e Constantim, já mencionados em documentos do século XI. De facto, apesar de Afonso, o Bolonhês, ter pensado na fundação de Vila Real, apenas lhe deu um foral. O património arqitectónico do românico é singular e comovente. Todavia, o gótico, à mistura com o românico, é sem dúvida, exíguo e mais urbano como o estilo de D. Manuel que também reconheceu Vila Real com um foral, enquanto que as manifestações estéticas do barroco, de traça harmoniosa e exuberante movimento, tem iniciativas comunitárias mas também individuais. Se tal passado a nobilitou, nos séculos XVII e XVIII, haveria de se alcandorar em “Corte de Trás os Montes” como legado da vaidosa nobreza que sempre rodeou a Casa dos Marqueses de Vila Real e ostentou as suas honras nos brasões, visíveis ainda agora. Fidalguia também demonstrada em outros momentos da história do país como os dos irmãos Silveiras, isto para não se falar do povo, quase sempre anónimo. Podemos evocar esses tempos do Liberalismo em certos espaços, em património de traça neoclássica e romântica. Aqui se fez sentir também a influência da arte nova e as consequências da primeira grande guerra, cujas heroicidades se recordam em Carvalho Araújo e nas longas listas dos soldados mortos em Lã Lys. Festas e devoções populares As festividades mais enraizadas no povo vilarealense traduzem a devoção popular alimentada pelas lendas, vida e milagres dos santos, transmitidas através dos tempos. Uma das santas de grande devoção, em Vila Marim e Águas Santas (S. Tomé do Castelo), é Santa Marinha que foi mártir. Segundo a versão da lenda galega, era filha de um governador de Limia, chamado Teodulo que a deu a uma mulher do lugar, quando morreu a sua mãe, para que a cuidasse. A menina recebeu, por isso, uma formação cristã. Estando um dia cuidando do gado, passou por ali um romano chamado Olíbrio que viu uma cruz presa no seu pescoço a indicar a sua crença religiosa. Para que negasse a Deus, botaram na primeiro a uma pia de água, mas as ligaduras soltaram se; depois meteram na num forno aceso do que foi salva milagrosamente por S. Pedro ; finalmente cortaram lhe a cabeça que saltou três vezes no chão, dando origem a outras tantas fontes milagrosas. Os cristãos deram lhe sepultura e culto. Quanto à versão transmontana, Santa Marinha padeceu a morte de seu martírio aonde está o sepulcro com água milagrosa, ao lado do qual existe uma capela antiga de sua invocação”. Dentro do sepulcro, há água e dela se tira quanta se quer sem que se extinga. Ali venera se a água como milagrosa, aplicando se contra as sezões. A esta capela de Santa Marinha de Águas Santas (S. Tomé do Castelo), acorre muita gente em romaria”. Festas cristãs e profanas A procissão do Corpo de Deus realizada pela freguesia de S. Dinis pode ser um bom exemplo de descrição sobre festividades com procissões solenes, às quais se associavam confrarias por hierarquia profissional com as suas componentes profanas. Se a procissão do Corpo de Deus agrega a população dos arredores, ou seja, de todas as freguesias e lugares do concelho e seus representantes religiosos, sociais e económicos, já a procissão do Senhor do Calvário é de autêntica piedade da parte da mesma população que se descalça para percorrer as ruas da cidade. Na festividade de Santo António, (santo coimbrão que os vilarealenses naturalizaram como transmontano) incorporam se crianças com açucenas, gladíolos brancos, marias e outras flores da época, fazendo se representar os movimentos religiosos e laicos. Em honra de S. Pedro realiza se a “Feira dos Pucarinhos” e dos Linhos. É com estas duas tradições que se fecha o ciclo das festas da cidade que vai de 13 a 29 de Junho. Mas as festas do ciclo pascal são as que pela solenidade e elevação se impõem aos cristãos e forasteiros. Outras, de divertimento como a de S. Brás, onde as raparigas oferecem as ganchas aos rapazes os quais, no dia de Santa Luzia, retribuem os pitos. Os velhos magustos de 11 de Novembro são também verdadeiros ajuntamentos festivos que levam a furar o pipinho e beber o vinho novo, a dançar e comer castanhas. Instituições escolares, religiosas, civis, desde os de tenra idade aos mais velhos, da cidade e aldeias do concelho, associam se à festividade de S. Martinho, santo francês, mas amado alegremente pelo vilarealense, desde a Idade Média. A festa estival de S. João é muito típica no Norte do país e em Vila Real, altura em que se soltam os prazeres mimetizando se com o saltar das fogueiras se oferecem os vasos de manjerico para lembrar as carícias, o perfume e a leveza da flor que se procuram. Paróquias que têm ou tiveram S. Tiago como padroeiro no século XVI, contam se 12 ao todo em Vila Real, enquanto Viana do Castelo, 10 e apenas 7 em Bragança. Paróquias que têm capelas por oragos, ligados aos primeiros tempos de evangelização registam se S. Gonçalo, S. Cristóvão, Santo André, S. Martinho, S. Roque, etc.. O Entrudo é uma festividade profana muito vulgarizada por estes sítios, vistosa com seus mascarados, desfiles caricatos e alusivos aos Carnaval. São temidos “os campainhas” que aterrorizam as crianças. De rosto velado como as mulheres do Islão, mas calçando botas de cano alto e inchando o peito com entrançados conjuntos de campainhas de bois, lembram certos sátiros que desejam afogar se em pública folia. Para isso correm com os miúdos para poderem abraçar as mulheres ou enfarinhar lhes o cabelo. As mulheres vestem se de homens e vice versa, pois no Carnaval ninguém leva a mal e tudo se satiriza, especialmente a pobreza e a miséria. Duas das tradições que se guardam em Constantim porventura a aldeia mais antiga a da “Serra se a Velha”, no meio da Quaresma, e a da “Queima do Judas”, no Sábado de Aleluia, são as mais representativas. Caracteriza se, a primeira, por serrar as velhas, para que as novas venham a ter plena liberdade de acção. Para que isso aconteça, é necessário aos rapazes percorrerem ruas, travessas, passadiços, becos e quelhas, onde vivam velhas. Armados de paus que batem em farranchos, latas, púcaros de nora, cântaros de alumínio, pandeiros e serras, cantam o Serra se a velhalquem será elal é a senhora fidana que é a mais velha. Fazem tal burburinho que as velhas se irritam e os cães atiçam pela noite adentro, quando não são lançados baldes de água fria para o magote de energúmenos. De cariz sinistro é também a queima do Judas. No sábado de Aleluia, alguns constantinenses vestem se de capas e balandraus, empunhando tochas e fachos, espadas e lanças, outros, (o poviléu enraivecido), brandem aguilhadas, estadulhos e mocas. Depois de prepararem um carro e sobre ele armarem um quadro tétrico, constituído por uma árvore, onde certo boneco pretende enforcar se o que a turba embravecida não deixa. Avança o cortejo fúnebre. Debaixo do Judas existe lenha mas não se queima o Judas sem que primeiro se dê volta a toda a aldeia com grandes uivos, gritos e alarido. A cena está tensa de luzes escarlates e sombras até que no fim, o pesado castigo se resolverá, unanimemente, em assembleia de anciãos, mancebos e crianças, com a morte do Judas pelo fogo. Manifestações de cultura material São de referir os conjuntos de barro preto a que chamamos encantamentos, por se tratar de serpentes e lagartos que encantam pássaros. Também faz parte da originalidade dos barristas de Bisalhães a série de santos populares (S. João, Santo António e S. Pedro) que têm um tratamento plástico de uma ingenuidade fragrante. Referimos ainda as manifestações plásticas de presépios de gosto popular. Os cruzeiros, de sentido religioso mas com cunho de arte popular, são uma das mais sensíveis expressões artísticas do nosso povo. Os cruzeiros elo entre o humano e o divino lembram a expiação da vida humana ou a paga do sofrimento e são uma característica das nossas paisagens. Os cruzeiros da Boavista e Vila Cova revestindo se de cândida ingenuidade e pureza apontam se como os mais virtuosos, enquanto os de Andrães e Constantim apresentam maior rusticidade e não são tão elaborados. Um sentimento semelhante se verifica nas alminhas e nos painéis de azulejos à entrada das casas. Estes revestem se de candura em honra dos santos populares. Aquelas testemunham profundamente quanto a alma do povo, na sua relação com o mundo dos mortos, se concretiza no purgatório, na terra e no céu. Os gastalhos estão quase desaparecidos do nosso modo de vida, ainda que se possa ver um ou outro. Estes mecanismos serviam de alavanca para baldear a água dos poços, durante as regas de milho, batata, feijão ou hortas, em lugares onde não havia água de lima. O seu fim está à vista tal como as noras, pois a sua substituição foi feita pelos motores e, já mais recentemente, por aparelhos de aspersão.

MONUMENTOS

 Igreja de S. Dinis De raiz romano gótica (século XIV); e de uma só nave foi muito alterada posteriormente. A capela mor é forrada de azulejos de tapete do século XVII. Os altares laterais ostentam seis retábulos de talha dourada. Conserva ainda uma escultura de granito do século XV, representando Nossa Senhora do Amparo. Capela de S. Brás A classificação dos monumentos inclui o túmulo de Teixeira de Macedo. Panteão gótico do século XIV, adossado à Igreja de S. Dinis. Porém o românico persiste na cachorrada de nove interessantes modilhões esculpidos e nas gárgulas do beiral. No interior, sob arcossólios, podem admirar se dois sarcófagos e, na parede, as pinturas murais quinhentistas, porventura da Escola de Grão Vasco. Casa Diogo Cão O berço de Diogo Cão o notável descobridor da foz do Zaire e Angola seria nesta casa, de escadaria sob arcada medieval, repousada em capiteis antropomórficos. Igreja de S. Domingos (MN) Igreja do antigo convento de S. Domingos, sede episcopal a partir de 1924. Foi mandada construir por D. João I em 1427. É um templo gótico quatrocentista de três naves demarcadas na fachada por dois contrafortes. O portal ogival rasga se com múltiplas arquivoltas e é encimado por dois nichos com esculturas. Na parte superior vêem se dois nichos com esculturas do século XV. No cimo vê se uma simples abertura. Pelas três naves seccionam se quatro tramos. O tecto é de madeira. O transepto tem duas capelas. A nave central dispõe se através de quatro arcos ogivais, rasgando se o último, a maior altura, para a a capela mor. As naves laterais separam se do cruzeiro por um arco. Cada alçado dos pilares que sustentam os arcos compreende quatro colunas. Os capitéis apresentam uma ornamentação de motivos antropomórficos e fitomórficos. São ainda de realçar os arcossólios e túmulos. Na sacristia existe uma pintura quinhentista re presentando a Virgem, pertencente à Escola Italiana. Conserva ainda cunho românico quanto às proporções, combinação de volumes e soluções estruturais adoptadas. Igreja da Misericórdia. Mandada construir por D.Pedro de Castro, protonotário e abade de Mouçós, no século XV, mostra um portal em arco redondo. O interior é de nave única com tecto de estuque abaulado. Apresenta rodapé de azulejos em policromia de azul amarelo torrado e marfim. Exteriormente expõe uma rica silharia de granito com esculturas nos ângulos e na fachada principal. Capela de S. Lázaro Situa se no bairro dos Ferreiros. Capela que foi primitivamente de invocação de Santa Margarida. É guarnecida de azulejos e tecto apainelado. Foi mandada construir no século XVI por D. Pedro de Castro. Os azulejos perfilham se nas correntes do século XVII cujo padrão é em tapete de corolas verdes, azuis e brancas, rematadas por barras dentadas que se assemelham a tecidos adamascados e aveludados da época. Igreja de S. Pedro Apresenta feição barroca, posterior à traça de raiz que remonta a 1528. Interior de nave única com tecto apainelado tal como a capela mor que está revestida de azulejos tipo tapete dos fins do século XVII. Os altares e o arco cruzeiro estão providos de talha dourada. Palácio dos Marqueses É denominado também por Casa do Arco por ostentar quatro janelas geminadas, soberanamente recortadas no estilo manuelino e belamente decoradas. Casa dos Correia de Mesquita. O que a casa do século XVI tem de invulgar é a janela geminada ao canto. Igreja de São Paulo Também designada por Capela Nova. Impera na sua frontaria o barroco de Nasoni. Para além da relíquia do retábulo renascença do altar mor, ostenta quatro retábulos de talha dourada do século XVIII. As paredes são decoradas com grandes cenas bíblicas de motivos paisagísticos e figurativos em azulejos azuis e brancos. Na sacristia guarda se um santuário em talha dourada. Casa dos Brocas Casa Senhorial construída pelo avô de Camilo Castelo Branco. Tem na fachada uma lápide que evoca o escritor, mandada colocar pela Região de Turismo da Serra do Marão. Capela do Espírito ou do Bom ,Jesus do Hospital Realçam se as cantarias lavradas dos vãos e a heráldica na fachada que é rematada por frontão interrompido. Paços do Concelho Mandado construir por iniciativa do 1.° conde de Amarante, o imóvel destaca se pela escadaria de acesso ao andar superior que é ladeada de balaústres e adornada de ânforas ao gosto dos solares barrocos, embora dos princípios do século XIX. Sociedade A vila dionisina começou por ser uma comunidade de vizinhos, vedada a nobres e gente armada. Moravam pois nos intramuros, oficiais mecânicos e forasteiros. Assim foi sempre, mesmo quando a freguesia de S. Dinis, extravasou os muros para o exterior. Matriculados como oficiais mecânicos, de 1700 a 1750, nas freguesias de S. Dinis e S. Pedro, encontram se inscritos mercadores, pedreiros, naturais e galegos, alfaiates, serralheiros, torneiros, em maior número, carpinteiros, sapateiros, pintores, jornaleiros, serralheiros, um sangrador, um cirurgião, um dourador, um escultor, um marchante, um latoeiro e um cabeleiras, peregrinos, forasteiros, pobres, naturais da vila como de fora e por fim os criminosos. Os criados são em abundância, alguns de subida categoria.

VILA REAL NOS SÉCULOS XVIII E XIX

Havia grandes mercadores com negócios de fazendas e escravos cujos tentáculos chegavam ao Brasil e Angola. Sobretudo, faziam se fortunas com os negócios dos vinhos de ramo e de feitoria. Três mil e seiscentas almas e novecentos e quarenta e cinco fogos. Eis a configuração de Vila Real, nos fins do século XVIII, com tendência para o crescimento populacional, afirmando se como o centro. A nobreza morava fora do recinto muralhado. A sociedade da vila era formada ainda pelo clero regular, clero secular e nobreza. Dos tempos da fundação destacavam se as famílias nobres e distintas dos Afonsos Botelhos, de Pedro Afonso Cão, Álvaro Rodrigues Taveira. Existiam em Vila Real os Fidalgos da Casa Real seguintes: os Meneses, os Botelhos Correia, os Teixeira Coelho de Mello Pinto, D. Duarte da Câmara, os Pereira Pinto, os Mesquita Pinto, os Veiga Cabral, Leonardo da Cunha Godinho, os Teixeira de Magalhães, Pinto do Lago, Sarmento Pimentel, Ataíde Pimentel, Botelho Monteiro de Lucena, Botelho do Amaral. No concelho ressaltavam as Casas Senhoriais: as de Matias Álvares Mourão, António Álvares Coelho de Faria, Duarte Teixeira de Macedo, Francisco Ferreira Vaz. Burgueses e capitães de ordenança enriquecidos na vida, ascenderam à nobilitação como Cavaleiros de Sua Magestade, professando a Ordem de Cristo: João Correia Botelho, Manuel Borges de Castro, João da Rocha Coelho, Luís Teixeira Magalhães e Leonardo da Cunha Godinho. Como notáveis do poder autárquico destacaram se: Miguel Broca de Lacerda, Jerónimo Pinto da Mesquita, João da Rocha Coelho, Leonardo da Cunha Godinho, António de Magalhães e Faria, José Teixeira, André Lobo Barbosa, Silvestre Teixeira de Magalhães, José Botelho Guedes e João da Veiga Cabral, morgados de Vila Real e arrabaldes. O clero regular que vivia fora do mundo, dentro dos claustros, vinculava se a outras hierarquias. O mais antigo convento, radicado em Vila Real, foi o dos dominicanos, uma comunidade constituída por quarenta e seis sacerdotes, tendo à cabeça do capítulo , o abade superior, o vigário in capite e o depositário. Além deles existiam os padres misseiros, os grandes jornaleiros do divino, o meirinho, o escrivão, o notário eclesiástico, o organista, o mestre de capela, o porteiro, o cozinheiro e a padeira. No Convento de S. Francisco viviam também quarenta e seis frades mas estes não se inseriram no sistema fundiário como os dominicanos e seculares. Fundado em 1602, o Convento de Santa Clara de Vila Real seguia a regra das clarissas de Guimarães e Amarante. Nele coabitavam sessenta e duas freiras, sessenta moças e seis educandas. Ao serviço desta comunidade conventual estavam o médico, o capelão, o sacristão, o hortelão, o sangrador,as criadas e a moça da porta de fora. Dispunha de uma enfermaria, de uma tesouraria, “a arca dos dinheiros” e de um celeiro, “a arca do pão”. Conseguia receitas, provenientes de prazos, juros e vendas. Fiadeiras, padeiras, regateiros e regateiras, vendeiros, seleiros e albardeiros viviam em grande número na rua Nova do Arco. No entanto, a vila dependia das trinta rodas de moinho e dos dois fornos públicos. Se às lojas, aos açougues e mercados das praças, acorriam os fregueses, os carreteiros, almocreves, mercadores e tendeiros chegavam com os abastecimentos do termo e de fora. Era esta a faceta social de Vila Real, nos séculos XVIII e XIX, até à data de 1834, ano em que as ordens religiosas foram extintas, sendo mais tarde também os morgadios, alterando a sociedade vilarealense.

ECONOMIA

Reportando nos aos séculos XVIII e XIX, dos quais se conhecem alguns dados concretos, Vila Real possuía meia dúzia de oficinas e produzia centeio e trigo, cevada e milho. Porém a produção de pão não era suficiente para o consumo das populações. O sul do distrito carecia mais acentuadamente desses produtos. Centro e sul da região demarcada do vinho de feitoria, demandavam assim os caminhos de Chaves e Montalegre donde traziam os abastecimentos de cereal. Do mesmo modo, o pão de Bragança e de Espanha, este vindo por contrabando e transportado por mercadores de Barca de Alva, vendia se nas margens do Douro, servindo as populações ribeirinhas da comarca de Vila Real e Lamego. A carência de pão constituía um problema constante para as vereações de Vila Real que se preocupavam com o abastecimento e o controle dos preços. Vila Real exportava azeite, peles, sumagre, frutos secos e verdes. Contudo, o produto de maior importância económica tem sido o Vinho do Porto, não só pelo volume de exportações para Europa e Américas mas também porque tem representado uma fonte substancial de contribuições para o Estado, como ainda para a riqueza de cidades e vilas. A partir do século XVII, as exportações aumentaram e a vinha expandiu se, trazendo visível prosperidade àregião. Conquanto o século XVIII trouxesse riquezas, ligadas ao vinho do Porto, o século XIX conheceu quanta ruína também, no dizer do governador civil, Visconde de Lemos: “…morre de fome este anno no palacio, que erguera no transacto”. Nos mercados da vila transaccionavam se produtos da zona de montanha como frutas, gados, lenha, linhaça, castanha, noz, vinagre, aguardente, jeropiga, cereais, batata e outras leguminosas. A rua da Fonte do Chão servia de entrada e saída a récuas e carruagens. A apoiar esta linha de circulação regional, existiam as estrebarias. Da Região Demarcada exportava se vinho de feitoria para o Porto, países da Europa e América, fazendo se negócio principalmente com o Brasil e Angola. No respeitante ao volume de vendas, o azeite colocava se em segundo lugar. Mas a cidade e o termo importavam arroz, açúcar, café, sardinha, bacalhau, peixe fresco, sal, tecidos e toda a sorte de manufacturas, do Porto, Braga e Guimarães. Vila Real era, ao tempo, o centro demográfico e económico mais importante da província transmontana. Chaves não passava de um centro fronteiriço promissor. Bragança, tinha o forte monopólio das sedas, veludos, chapéus e curtumes. No século XVIII, diversos senhores da vila entregavam se à exploração da vinha: eclesiásticos, nobres, homens da burguesia, arrojavam se a gigantescos empreendimentos para do xisto ardente suar o produto que neste clima mediterrâneo conseguia excelências de qualidade. Mas também é visível o interesse de mercadores e militares pela produção de vinho de feitoria. Além deles, ainda várias mulheres de elite se envolviam nesta actividade económica. Todavia, a participação de pequenos proprietários não era de somenos importância, na medida em que representava 74,52 % dos valores das sisas, isto no curto período analisado de 1786 1791. A actividade de vinhateiro comportava investimentos vindos de três áreas geográficas. A maioria dos investidores e a mais representativa, no que respeitava à elevação dos índices de sisas, provinha de Vila Real; menos volumosa mas muito importante, em termos de unidades vinhateiras, eram os da segunda área, circunscrita ao Porto (apenas um caso da cidade de Lisboa), pois, além de outros, aqui investiam fortemente os padres da Congregação do Oratório, sediados na capital do Norte. A terceira área, concernente principalmente, ao Capítulo e à Mesa Arcebispal de Braga.

UMA IDEIA DE VILA REAL EM 2001

 Actualmente, Trás os Montes, em que Vila Real é uma das partes actuantes, apresenta índices estatísticos dos mais elevados, relativamente à produção de amêndoa, azeitona, castanha, citrinos (laranja e tangerina), pera, trigo (22.876 t. em 15.723 há), centeio (35.613 t. em 27.014 há), aveia (4.077 t. em 4.855 há), batata (164.048 t. em 15. 244 há), batata de regadio (136. 991 t em 15.244 há), azeite (151. 858 hl) , vinho (1.745. 206 hl em 65.726 há), potencialidades na produção de ameixa, cereja, milho, milho de regadio, maçã e viveiros, para além de constituir uma zona protegida da maronesa. Presentemente, Vila Real passa por uma etapa de desenvolvimento a vários níveis, em que os serviços, a indústria, o comércio, a saúde, o ensino, o turismo, etc. conhecem maior impulso. A população residente do concelho é de 49.928 habitantes, sendo a população presente de 52.129 (Dados preliminares do Censo 2001), havendo um crescimento quase de 4.000 para a residente e cerca de 6000 para a presente, em comparação com a de 1991. Tem 30 freguesias e 378 Km2 de área, sendo 42.837 eleitores. Há ligações regulares entre Vila Real, Bragança e Lisboa através da Aerocondor, Auto Viação do Tâmega e Rodonorte com carreiras rodoviárias para o Distrito, Porto e Lisboa, ligação ferroviária com Régua e Linha do Douro, ligação com a Europa através das Agências de Turismo: Mercury, Realvitur, Ruicar, Jacar Ren a Car e Nurocar Rent a Car. Nos dias de hoje há a preocupação de planificar o turismo seja no aspecto cultural, seja no religioso ou gastronómico. Também acerca dos monumentos, dos museus, da música se procura criar prováveis destinos turísticos, aproveitando a riqueza dos lugares e das povoações. E neste âmbito, estão os eventos, o ecoturismo e o turismo rural se bem que seja importante reavaliar o suporte de serviços de qualidade integrados, os atractivos, as infraestruturas, equipamentos, bem como dinamizar no mercado a imagem de marca. Vila Real, sendo um espaço com tradições, património ambiental e construído, de grande valor, bate se por mudanças, protagonizadas pelos seus agentes locais, complementadas pelo novo quadro de acessibilidades que lhe concedem certo privilégio, dada a sua localização entre o litoral português e o grande mercado europeu. As instituições de Ensino Superior, o dinamismo dos núcleos e associações empresariais, a requalificação dos espaços urbanos e a animação cultural, comportam se como motores do desenvolvimento, aproveitando as potencialidades e procurando soluções para romper, desta forma, com o isolamento. Em acção conjunta com os municípios do eixo atlântico do Norte Português Galiza, desenvolve, entretanto, uma série de articulações com os municípios do eixo Vila Real Régua Lamego, e dinamiza se dentro da associação de municípios de Trás os Montes e Alto Douro. O vinho do Porto, produto tradicional de exportação e imagem internacional, saído da mais antiga Região Demarcada do mundo, outros excelentes vinhos de mesa (brancos, tintos) com conhecidas marcas de origem (Mateus Rosé, Cancelus, Cancelão e Terras de Aléu), o azeite, frutos secos, frutas frescas (maçã, uvas e cereja), produtos de pecuária e floresta, são o potencial de recursos que a região possui. A indústria extractiva atinge um índice de grande relevo em torno dos produtos como granitos e mármores; por seu turno, a indústria agro alimentar garante a transformação de produtos tais como o vinho, o azeite, a castanha, os fumeiros e enchidos. Apesar da indústria não representar o suporte económico da região, importa referir que existem de momento certas unidades industriais, dotadas de tecnologia de ponta e viradas para o exterior. Neste capítulo, Vila Real, situa se no valor máximo de empresas com mais de 20 trabalhadores, caracterizando se, a estrutura empresarial de Trás os Montes e Alto Douro, do seguinte modo: bancos 7%, transportes e comércio 7%, comércio e hotelaria 45%, indústria transformadora 15%, agricultura 6%, construção e obras 9%, serviços 9%, outros 2%. Idêntica dinamicidade se pode atribuir ao ensino profissional e superior que garante a profissionalização como a qualificação dos recursos humanos da região na qual, Vila Real, cresceu mais de 7,4% de 1981 a 1991, potenciando se a incentivos vários. Na Cultura, há grande riqueza e diversidade do património cultural com importante componente etnológica; existência de aldeias protegidas com valores culturais a preservar; existência de zonas históricas nos principais centros urbanos; projectos de levantamento do património histórico; crescente número de projectos de urbanismo, recuperação e valorização de património; crescimento da oferta de equipamentos culturais; destacados recursos a nível de música, nomeadamente na música popular, na formação musical, divulgação de música sacra e teatro profissional (Teatro Filandorra); Urze, instalação da Delegação do Norte da Secretaria de Estado da Cultura em Vila Real (C.C.R.V). Em relação ao desporto, a capacidade de promoção e organização no domínio da aventura e náuticos no Eixo Vila Real Régua Lamego é uma realidade. No sector agro florestal, as condições são excelentes para a produção de qualidade. Na agricultura, os produtos como o vinho do Porto, as hortícolas, as frutas são imagem de qualidade, há muito criada, como no azeite e carne de bovinos autóctones, com destaque para a carne de maronês e vinho de Quinta. Vila Real é Bandeira de Honra do Conselho da Europa. É membro da Federação Mundial das Cidades Gémeas e da Europa Nostra. É geminada com Orense (Espanha), Grasse (França), Osnabruch (RFA), Portimão, Espinho e Oeiras.

MUSEUS

Museu de Geologia: Está integrado nas salas de Mineralogia da Universidade de Trásos Montes e Alto Douro. São colecções constituídas principalmente por minérios da região, espécimes de outras zonas do país e do estrangeiro. Pode ver se no Museu um mostruário paleontológico, rico em fósseis e ainda uma aplicação prática dos minérios existentes nas áreas de Vila Real. Museu de Zoologia: Na secção de Zoologia da UTAD, existe uma numerosa e interessante colecção de borboletas que são centenas de espécimes de várias cores e simetrias que desde a Primavera ao Outono povoam os campos da região. Museu de Vila Real: O Museu expõe na secção de Numismática um importante conjunto de moedas romanas, luso e hispano romanas, gregas e visigóticas, bizantinas e ibéricas. Reúne também uma colecção de objectos arqueológicos, entre os quais as misteriosas Pedras do Alvão. Museu de Heráldica e Armaria Medieval: Ainda que esteja em fase organizativa, será o futuro Museu de Heráldica e Armaria Medieval a instalar se na Torre de Quintela, (Vila Marim). Ali se hão de evocar as principais famílias nobres de Vila Real e Bragança, por meio da representação das suas pedras de armas.

PARQUES

 Situado na cadeia montanhosa do Alvão e do Marão, o Parque Natural do. Alvão abrange uma área de 7.220 hectares, dispersa pelos concelhos de Vila Real e Mondim de Basto, integrando a bacia hidrográfica do Rio Olo, onde se pode regressar ao passado através dos vestígios pré históricos, das casas de colmo, das aldeias antigas protegidas, das barragens, da paisagem granítica, dos grandes panoramas sobre a cidade, das Fisgas de Ermelo. Destaca se o endogenismo de espécies como a águia real, o falcão peregrino, a cabra bravia, o tomilho rasteiro, a silene, etc..

DESPORTO

Campo do Calvário Futebol; Complexo de Recreação e Lazer de Codessais natação, ténis, desportos radicais, minigolfe e praia fluvial; Complexo Desportivo do Monte da Forca Futebol; Complexo Desportivo do Bairro de S. Vicente de Paulo Futebol de 5; Complexo Desportivo da Estação Futebol de 5, desportos radicais; Court de Ténis do Aeródromo Ténis; Ginásio Clube de Vila Real Natação, Karaté, ginástica, dança jazz; Piscinas Municipais Cobertas. Parque da Cidade: É o pulmão no centro da cidade, onde as pessoas usufruem das bondades oferecidas pela natureza: as sombras, o silêncio, o prazer das alamedas de diferentes espécies de árvores e o rio. Fojo do Lobo: Na aldeia de Samardã, levanta se uma antiga cerca com altura média de 2m e 100 de diâmetro. Trata se de um engenho de caça ao lobo que outrora se agrupava em ferozes alcateias. Como armadilha, as pessoas valiam se de uma ovelha ou cabra que atraíam assim o predador. O provinciano do Alto Trás os Montes está povoado de mil histórias acerca do lobo, todas elas de arrepiantes descrições. Camilo Castelo Branco, em Novelas do Minho, narra uma cena com grande realismo.

ARTESANATO

A Olaria de Bisalhães ex libris de Vila Real não só pela utilidade na cozinha mas também pelo interesse decorativo e lúdico que dinastias de oleiros vêm, tradicionalmente, modelando através dos séculos. O fabrico de barro preto de Bisalhães parece ter recolhido inspiração decorativa das tipologias milenares. Assim, observam se nele, desde os motivos fitomórficos foliares e florais aos reticulados e geométricos. Os losangos, os pontilhados, as bandas, as linhas curvilíneas adquirem a função de preenchimento dos espaços. Aparecem temas em simetria, similares à árvore da vida, à malha do tecido, à flor de margarida, malmequer ou simplesmente ao ramisco. No passado, cultivavase o linho, sendo o tear muito generalizado. Nos séculos XVIII e XIX, além da utilidade do linho para vestuário, usavam se as papas de linhaça para furúnculos. Hoje em dia conserva se a tradição dos linhos em Ramada e Agarez. Existem verdadeiras obras de arte, saídas de mãos de fadas entre as quais, as colchas e as toalhas são o tipo de artesanato mais comum.

HOTELARIA

Vila Real dispõe de uma linha de hotéis de diversificada qualidade, desde ** a **** estrelas e cerca de 64 restaurantes, conforme se refere no Roteiro Turístico da cidade. Oferece também um turismo de espaço rural e campismo de qualidade, pastelarias de confecção regional especializada como a Casa Lapão, a Nova Pompeia, a Gomes e a Tosta Fina.

EQUIPAMENTOS

Em termos de equipamento, há 5 auditórios, no Hotel Miracorgo com 6 salas para reuniões e congressos, diversos auditórios na UTAD, na Escola Superior de Enfermagem, no Arquivo Distrital de Vila Real e no Instituto Português da Juventude; em relação a arquivos e bibliotecas, possui O Arquivo Distrital, já referido acima, a Biblioteca Municipal e Biblioteca Gulbenkian; quanto a salas de exposições, existem a Galeria Átrio, a Área de Exposições Temporárias do Museu de Vila Real, o Arquivo Distrital de Vila Real e o Centro Cultural Regional de Vila Real. Como suporte, funciona uma dezena de bares, três discotecas, duas salas de espectáculo, piscinas municipais cobertas, ginásios, court de ténis, complexos desportivos, de recreação e lazer.

EVENTOS CULTURAIS

Contam se, através do ano, com os seguintes: jogos populares inter universitários, semana académica, semana do caloiro, encontros de música da Casa de Mateus, Salão Luso Galaico de Caricatura, encontro de “Saber Trás os Montes”.

FESTAS, FEIRAS E ROMARIAS

A cidade tem várias festas através do ano como: a festa da “gancha” durante a festividade de S. Brás, na Vila Velha, a festa de S. Lázaro no bairro típico de Ferreiros com adoçaria tradicional dos “cavacórios e bexigas”, a festa e feira de Santo António, a feira de São Pedro e a festa de Nossa Senhora de Almodena. Merecem no entanto especial destaque como festas religiosas, as seguintes: “Corpus Christi”, festas de Santo António (13 a 21 de Junho), Feira de S. Pedro (28 e 29 de Julho), também conhecida por “Feira dos Pucarinhos” e dos linhos.

GASTRONOMIA

 São muito apreciados os pastéis de Santa Clara, de toucinho do céu, os pitos de Santa Luzia, os cavacórios e o sarrabulho doce. Pratos típicos, apontam se o cabrito assado com arroz de forno, as tripas aos molhos, posta à maronesa, o cozido àportuguesa, rojões à transmontana com castanhas, arroz de carqueja com entrecosto de vinha de alhos, bucho recheado, favas guisadas com chouriço, bifinhos de presunto com arroz de feijão, bacalhau com batata a murro, bacalhau com broa, milhos, feijoada àtransmontana, gastronomia camiliana, lombinhos à Carvalho Araújo, javali estufado, bacalhau à lagareiro, lombinhos de porco com cogumelos, bacalhau à transmontana. O Vinho do Porto: Vila Real é uma região de excelentes vinhos de mesa, encorpados, saborosos e de boa qualidade que não se podem considerar inferiores aos do Alentejo. Marcas já citadas como Terras de Aléu, Cancelão e Cancelus fazem concorrência a qualquer um. Além desses, todo o mundo conhece sobejamente o Mateus Rosé, autêntica bandeira de Vila Real e do país. Mas é o Vinho do Porto, produzido no Douro, que atinge mais celebridade, por isso muito procurado, cobiçado e imitado em várias regiões do mundo. É um vinho com muitas voltas e sabedoria, um vinho mais “fabricado” do que outros. Para conseguirem, os homens desbravaram o mato e surribaram. Desfizeram a pedra, levantaram muros, construíram milhares de quilómetros de socalcos, serra acima, vale adentro, fortalezas sobre fortalezas. Cavaram a terra e marcaram sítios para viver. Plantaram, enxertaram, podaram as vides, pisaram, fizeram o vinho. Armazenaram, fizeram lotes, envelheceram no. É por isso que em (António Barreto, Douro), o vinho sabe ao que é. “E o vinho fez uma região, fez os solares, as quintas e os casebres. Fez os. lugares e os cardenhos; as pipas e os rabelos; os ricos e os pobres. Nada de irnportante, no Douro, éindependente do vinho. Nem as igrejas e os mosteiros que o vinho fez e que fizeram o vinho “. Cedo na História da Humanidade se registam vestígios de cultivo da vinha na Região do Douro, inclusive, no Cima Corgo termo de Vila Real, nos séculos XVIII e XIX. A villa romana fortificada da Fonte do Milho, século I (Poiares), é ocupada durante vários séculos cujos vestígios evidenciam o cultivo da vinha. Os mosteiros medievais erguidos na região seriam possivelmente os criadores do vinho fino, pois eles estiveram ligados ao cultivo das vinhas, quer pelas doações recebidas, quer pelos arrendamentos estabelecidos, aperfeiçoando assim a feitura do vinho. É sabido que os vinhos do Douro contêm um alto teor de açúcar e álcool. Mas nem todos conhecerão que um vinho produzido nas terras xistosas, quentes e secas da Região Demarcada, sem qualquer mistura de aguardente mas envelhecido naturalmente, ganha as propriedades próprias do Vinho do Porto. O vinho do Douro passaria a chamar se Vinho do Porto, quando os mercadores precisaram de caldear o vinho com aguardente, por causa de não se alterar com a travessia do mar. E foi a partir de 1651, de acordo com os registos, que a Inglaterra nos comprou deste nosso vinho, embora houvesse embarque para a Flandres, já em 1620 e 1640, bem como para as partes do Reino e Brasil. Os vinhos de Lamego eram famosos no Reino, já no século XVI, tão nomeados como os das terras de Penaguião. As exportações foram aumentando até que os ingleses começaram a fazer uma propaganda insidiosa, fazendo os preços mas continuando, os vassalos de sua magestade, a adquirir o nosso vinho generoso. Para controlar o mercado, dominado pelos ingleses, fixar a produção média, estabelecer tipos de vinhos e respectivas cotações, o Marquês de Pombal, primeiro ministro de D. José, a pedido de lavradores e vitivinicultores durienses, criou em 1757, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e assim nasceu o vinho de feitoria, produzido dentro duma Região Demarcada com marcos, não precisando de ramo para ser embarcado. Nasceram assim as regiões do Baixo Corgo, do Cima Corgo e mais tarde, com abertura do Cachão da Valeira, o Douro Superior, compreendendo concelhos e freguesias dos distritos de Vila Real, Viseu e Guarda, uma região que vai de Barqueiros a Barca de Alva, cerca de 200 Km de distância e abrangendo uma área de 30.000 hectares. O clima mediterrânico, o solo xistoso, a exposição ao sol produzem então o vinho licoroso tão afamado. O Vinho do Porto exige uvas de alto teor alcoólico , porquanto poderá haver tantos Vinhos do Porto quantas as castas finas que abundam, embora factores como a altitude, o clima e o solo possam fazer variar o tipo de vinho. São 40 as castas experimentadas no conjunto de todas as quintas que devem ser 2.000, sendo 29.618 proprietários, (Alex Liddell e Janet Price, As Quintas do Vinho do Porto) porém as mais generalizadas são a tinta barroca, a tinta francesa, a tinta roriz, a touriga nacional, o tinto cão e a tinta amarela. Para obtenção de vinho fino, ele terá de passar por várias fases, após cortadas as uvas: o esmagamento, a fermentação, o amadurecimento e outras. Hoje em dia, emprega se uma tecnologia de fabrico especializada. Consoante a cor, assim se podem obter Vinhos do Porto das tonalidades seguintes: o tinto (vinho de tom vermelho); o alourado de tom alourado com reflexos de topázio); o branco (proveniente de castas brancas, delicado). CAMILO E AS

TERRAS TRANSMONTANAS

Camilo nasceu em Lisboa a 16 de Março de 1825 na rua da Rosa e morreu em 1890, em S. Miguel de Seide. Era filho natural de Manuel Botelho, pequeno fidalgo, e de Jacinta Rosa, uma mulher oriunda do povo. Em 1827, órfão de mãe continuou a viver com seu pai que era Director dos Correios de Vila Real. Em 1935, faleceu lhe também o pai, indo então viver para casa da irmã, em Vilarinho da Samardã, onde recebeu lições do padre António José de Azevedo, um venerável homem e santo sacerdote que Camilo estimou através da vida. Foi aí que o escritor passou os mais felizes anos da sua mocidade, sob a sombra das asas dilectas e grandes das serras do Marão e Alvão. Saindo da Casa dos Brocas, cortada a infância, a adolescência, passada na Samardã, fá lo renascer. Daí recolhe, em grande parte, a riqueza da sua matriz novelística: as paisagens soberanamente belas e dramáticas, a pintura dos tipos campesinos, as manias de grandeza dos fidalgos da província e a bizarria da burguesia da capital nortenha; os temas de bastardia e orfandade, os direitos de coração sobre as convenções, os episódios, lendas, romarias, gastronomia típica, crenças e crendices. É o tempo despreocupado das caçadas do pascer dos rebanhos por aqueles saudosos vales e quebradas da serrania. As suas novelas retratam o drama da sua própria vida. Em 1841 trabalha já como amanuense em Ribeira de Pena, onde se toma de amores por uma tal Quininha e de quem tem uma filha. Mas depois tenta Medicina no Porto e em Coimbra de que desiste, por excesso de faltas, para vir de novo para Vila Real. Aqui escreve o drama Agostinho de Ceuta. Volúvel de amores, as atitudes ousadas figura na cena, Patrícia Emília hão de encarcerá lo na Cadeia da Relação do Porto. Foge de Vila Real, por ser ameaçado de morte, para o Porto, passando antes por Covas do Douro, em despedida da irmã. Volta outra vez a Trás osMontes por causa dos escandalosos amores com Ana Plácido. A nostalgia da montanha do Alvão que se alonga até às bandas do Tâmega e das aldeias melancólicas perdidas entre os vales e encostas, é penetrante e sanguínea, de forma que o escritor as evoca penitentemente, através da vida, sendo manancial de lirismo mas também de certos personagens tipificados. Segundo Leite de Vasconcelos, os seus romances são fonte etnográfica de valor, visto conterem uma riqueza apreciável de costumes populares do Norte rural e do século XIX. Mas têm sido também fonte de inspiração musical a vários compositores antigos e recentes. A magia encontrada na fusão do escritor com um mundo envolvente transformado num outro mundo ficcional, ao mesmo tempo real, porque convive com as criaturas e, fantasmagórico, pois prodigiosamente as imagina, reveste se de musicalidade profunda tal como o autor o enunciou perfeitamente no proémio das “Noites de Insónia”: “Vou ao jazigo das minhas ilusões, exumo os esqueletos, visto os de triôes, de príncipes, de desembargadores, de meninas poéticas, à semelhança das que eu vi… Visto me também das cores prismáticas dos vinte anos, aperto a alma com as garras da saudade até que ela chore abraçada ao silêncio da noite, escrevo as nossas palestras… Venho então sentar me a esta banca, dou formas dramáticas ao diálogo dos meus fantasmas, e convenço me de que pertenço bem aos vivos do meu século, ao balcão social, à indústria…”. Essa nascente musical, jorrada nas paisagens da sua mocidade, o temperamento passional e irrequieto, o sentido metafísico de raiz cristã, às vezes quase místico, foram encontrá los Francisco de Lacerda para uma Cantata Coral e Viana da Mota, em 1895, compôs a Pastoral para canto e piano, inspirada no II volume de Os Serões de S. Miguel de Ceide; João Arroio (1861 1930), foi em busca da plenitude da visão romanesca na ópera em 3 actos, do Amor de Perdição; Alfredo Keil, a Serrana, ópera em 3 actos; Jaime Silva regressa ao tema anterior em 1943 assim como João Paes em 1978, versões revertidas também para filme; José Luis Borges Coelho que teve o mesmo chão transmontano, arrojase aos píncaros órficos do morgado de Fafe Amoroso em 1977; João Paes encontra se musicalmente com Camilo ainda em Francisca, com base em Fanny Owen. Outras peças literárias mereceram ainda composição instrumental como a Enjeitada, A Queda de um Anjo, Retrato de Ricardina e a Brasileira de Prazins. Eis alguns traços de Camilo, Visconde de Botelho, para o fim da vida, o escritor sempre pronto a ridicularizar os poderosos mas que mantém um carinho especial pelo povo. Abaças. 1016 habitantes pelo censo de 2001. Persiste ainda a Casa dos Fidalgos, do século XVII na posse do Eng.° Ignácio Xavier Teixeira Coelho. João da Veiga Cabral, sucessor de André Lobo Barbosa, foi senhor da Câmara de Abaças, fidalgo da Casa Real, morgado de Penelas e Paúlos. No segundo fim de semana de Agosto, os habitantes de Abaças levam a efeito a festa de Nossa Senhora da Guia no Lugar da Guia. Adoufe 2022 habitantes. Borbela. 2517 habitantes. Na capela da Senhora das Dores existem duas imagens valiosas de madeira: da Senhora das Dores e do Senhor da Boa Sentença. (Prado). Campeã. 1623 habitantes. O seu povoamento remonta a épocas pré históricas, confirmado pelos vestígios castrejos e dolménicos da região. A Igreja Matriz foi reconstruída no século XVIII; os altares nela existentes são do rococó e a custódia é do século XVII. Na freguesia erguem se três cruzeiros de pedra, interessantes pela sua ingenuidade. No último Domingo de Agosto realiza se uma interessante procissão com inúmeras figuras bíblicas. Constantim. 974 habitantes. Antiga capital da Panónia, uma das mais antigas vilas àqual o conde D.Henrique concedeu, ao mesmo tempo que Guimarães, carta de foral, em 1096. Igreja Matriz ( IIP). É uma construção da primeira metade do século XVIII. Além da sobriedade e elegância da fachada conserva no interior boas talhas. Está classificada como Imóvel de Interesse Público. Conserva um sacrário rotativo com quatro esculturas que representam a prisão de Jesus Cristo, a flagelação, a paixão e ressurreição. No exterior, tem duas capelas anexas, uma de nítidos vestígios românicos e outra barroca, onde se guarda a Santa Cabeça de S. Frutuoso. No último fim de semana de Julho os constantinenses levam a cabo os festejos em honra de Santa Maria da Feira e S. Frutuoso com feira, procissão e araial. Lenda dos passarinhos: Conta se que já em menino, os favores divinos, conjugavamse com o Universo, conferindo a Frutuoso dons extraordinários. Um dia, Frutuoso, encafuado em socos, ainda ensonado, tropeçava, nas pedras do caminho, por onde, logo tapetes de flores o amparavam: dentes de leão, botões de ouro e violetas que marginavam pelo trilho que levava além do rio. Ainda o romper de alva se fazia e já os pássaros saltavam para as searas. Xô! Faziam assaltos em rodopios constantes. O pai bem lhe recomendava para se levantar cedo e impedir assim que comessem o painço. Por isso, pegou no pandeiro, escondido entre as silvas do poço, junto do espantalho, e ressoando o procurou assustar a passarada que sofria de uma fome do tamanho do mundo: pintassilgos, pintarroxos, melros, levandiscas, pardais, vendilhões, dizimavam tudo a eixo. Como acabar com aquela fome todoa? Do ano passado poucos selemins restavam na tulha. “Xô, xô passarada”… Tocava o sino em festivo repique, ecoando pela aldeia. Era meio dia, o sol mesmo a pino, as pessoas juntavam se na igreja. O pequeno Frutuoso guardava o painço. O sol aquecia. Era Domingo de festa, o último de Julho. Não queria faltar à missa. Nesse ano, viria alguém de fama pregar, talvez o próprio arcebispo, D. Pedro, que falaria de S. Frutuoso de Braga Gostaria de ouvi lo. Por isso, a vontade dava lhe arrimo de decisão. O desejo de o ver e ouvir era superior à ordem do pai. Portanto estava resolvido a ir participar na festa, em honra de Santa Maria da Feira, pois tinha fé que os pássaros lhe obedeceriam. Conforme imaginou assim fez: enxutou pássaros, passarinhos e passarocos, tangendo os até ao passal e quando todos estavam dentro de um poço tapou lhes a saída com uma cancela, advertindo os que não deviam sair, enquanto ele assistisse à missa e sermão. Ora, os passarinhos tinham por onde fugir mas não o fizeram. Ficaram quietos, como por encanto, esperando o regresso do menino para depois livremente esvoaçarem. Este prodígio veio reforçar a ideia de santidade que os conterrâneos viam em Frutuoso. Lenda da Santa Cabeça: Cristo morreu na cruz para nos salvar, deixando divina mensagem de amor. O lema dos cristãos, então, passou a ser: amor com amor se paga. Doravante dar lhe ão também a vida, ora em procura e trabalho, ora em martírio. O desejo de atingir a santidade passou a ser um ideal de vida que arrastou multidões de mártires, ascetas e monges. Por isso, onde houvesse santidade, havia sinal de luz que irradiava pela Terra. As relíquias dos santos adquirem assim uma importância espiritual e social de muitíssimo relevo. Eram avidamente guardadas, veneradas e requeridas. As cidades que as possuíam, construíam criptas e erguiam catedrais, onde as mesmas atraíam peregrinos de vastas regiões, tanto mais longínquas quanto mais fama de santidade tivessem. E as cidades que não tinham a felicidade de as ter, procuravam consegui Ias mesmo que não lhes pertencessem. Ora, conta se que havia dois galegos sobre quem recaía uma sentença de morte e para serem perdoados teriam de roubar a Santa Cabeça e ossadas de S. Frutuoso de Constantim. Sentença dura: ou roubavam a Santa Cabeça de S. Frutuoso Gonçalves mais os seus ossos bem cheirosos ou morreriam se não cometessem o latrocínio sacrílego. Mas se furtassem as relíquias teriam de carregar pela vida fora esse sentimento de culpa. Dessa forma, até que se decidissem passou um tempo indeterminável, pois a travar a decisão. os sonhos atormentavam nos sobremaneira, durante as noites. Certo foi que se informaram da rota a seguir, que reconheceram a região. repararam para onde se dirigiam os peregrinos na sua romagem, localizaram o sítio das relíquias, quando conseguiram distinguir a igrejinha. Mas também foi verdade que quando estudavam a forma de se apropriarem dos santos e luminosos restos de S. Frutuoso, tremiam de medo. Mas eis que se lembraram do aviso temido: “ou uma coisa ou outra”. Então pensaram que medo por medo, o santo lhes perdoria e se guardassem as ossadas num relicário, mais benevolente com eles seria. Entre “Deus nos defenda” que os ladrões também tinham sentimentos, encontraram forças. Foi numa noite de vento a zumbir por todo o lado, por tudo quanto era vereda ou fresta, cumeada, garganta ou vale. A copa verde negro dos pinheirais rodopiava em sussurros, estalando no mar da noite, às vezes em gritos roucos; consoante roçavam os braços das árvores dos caminhos bailavam sombras e pareciam vozes de gente. “Mau prenúncio”, atemorizavam se. Foi nessa mesma noite que as levaram. Mas pouca sorte! Mal pegaram na cabeça encastoada em cobre e levantaram os ossos do esqueleto, foi como se tivessem pegado num braçado de candros em fogo. Para maior aflição, os sinos começaram a repicar, acordando toda a gente da aldeia. Tiveram de fugir a mata cavalos, por aqui, por ali, por giestais, por caminhos esconsos, direitos a Nossa Senhora de Guadalupe e escaparem se pela ponte de Piscais. Os sinos martelavam lhes nos ouvidos, ressoavam lhes na cabeça a cada passada que dessem. Dir se ia que os sinos os seguiam por toda a parte a denunciar o acto nefando. “É castigo”, diziam. “Mas agora temos de fugir”. Às gentes de Constantim de Panoias, juntaram se outras alvoroçadas, e por onde passavam as multidões, os sinos de outras igrejas e capelas tocavam também; saíam cavaleiros na sua peugada, acordavam clérigos assustados, e, por fim, juntou se o céu à terra. Por Mondrões acima, já mal podiam andar. Já quase sem fôlego, de coração sobressaltado, confundindo sombras e vozes com o vento, chegaram às grutas das Muas. Nevava. Com a neve, os sinos adormeceram. Porém, na noite seguinte, o manto de neve, cobrindo tudo em volta, e a Estrada de Santiago, iluminando a noite, denunciavam nos. Por isso, não tiveram outro remédio senão esperar escondidos. Quando retomavam a marcha, as vozes dos sinos, contagiavam outros, conforme passassem por terras de Amarante,Guimarães, Braga, Viana, Tui… Até aos confins, sempre aquela aliança entre a terra e o céu, o pacto de aviso e condenação de tal acto, só sustendo quando as entregaram ao arcebispo de Santiago, Diogo Gelmires. Todavia, ao abrir o relicário fechado a sete chaves, deu se uma maravilha das maravilhas, coisa sobrenatural nunca vista: a Santa Cabeça mais as ossadas sairam voando até à terra natal, onde por testamento, o santo, sempre quis que o sepultassem, redobrando os sinos por onde passassem. A notícia deste acontecimento logo se propagou por terras de Portugal, Galiza, Leão, Castela e outras nações. Nos dias de hoje, os romeiros visitam a santa cabeça, beijando a ou simplesmente tocando a com as as mãos, oferecem ex votos em cera ou dinheiro, e acto contínuo, cumprem as promessas à volta do adro. Na mesma capela onde se guarda a Santa Cabeça conservam se veneravelmente os seus ossos numa caixa. A prática paralela de aspergir os campos com água benta, tirada da fonte de S. Frutuoso, para dizimar as pragas das culturas de cereais e hortas, era uma devoção muito viva ainda nos meados do século XX. Mas a água tinha outros poderes como a cura contra a raiva. Lenda do fole: Conta se um facto extraordinário que numa manhã de Domingo de Idade Média, corria Maio luminoso e florido como uma aparição, quando os homens entraram para ouvir missa e os rapazes após bailarem os olhos pelas raparigas que repassavam os ares com sorrisos de jasmim, seguidos do saião, o tabelião, o juiz, os cavaleiros mais o donzel, empertigados no seu traje negro de capa e espora, formando um séquito imponente, à parte, com os cavalos ajaezados de mantas ricas, em veios de cores vivas, também eles foram movidos a assistir à missa. Embiocadas em lenços, as mulheres vestidas de burel e bragale, entravam apressadas, esforçando se por deixar o mundo lá de fora e agarrar a devoção com que queriam entrar no templo. Conta se que o último de todos, sorrateiro, foi o mafarrico. Vinha de pera pouco farta de pêlos, chamuscada e angular como a de um chibo e pespegou se do lado direito do vestíbulo, num canto escuro. Porque intentava ludibriar o arcanjo S. Gabriel que agora canalizava toda a atenção para o Criador e esperava que os santos se distraissem com os seus devotos, pegou se à sombra do canto donde via toda a casta de mulherio, gente de saias com berloques de ouro e fino sapato no pé, onde começava a meia rendada. Olores de donzela, estonteantes, apartados dos rapazes espigadotes ou homens feitos, separadas as pessoas de vernizes dos que passavam a vida em rapapés, todos aguardavam que o sacerdote se abeirasse do altar em suas vestes ricas e solenes. O bom do cura Frutuoso, deixando atrás o acólito, também por esse nome conhecido, aproximou se, subiu o altar, sobre o qual depôs o cálice, desceu ao fundo dos degraus, benzeu se e cantou o salmo: júdica me, ab hómine iníquo, et dolóso érue me… Já três vezes se tinha humilhado perante o verbo divino quando tomou consciência de que o acólito não respondia. Então fez silêncio alongado, a maneira mais benévola de o advertir. Continuando a suceder o mesmo, tentou chamá lo à razão com um silêncio sepulcral. “Era lá possível ao rapaz não estar atento’?”, pensava o bom do padre. “Algum fenómeno sobrenatural estava acontecendo”, cogitava. Já o acólito, vestido de linho branco até aos pés, respirava o divino, quando o guedelhudo avançava e retrocedia, hesitando entrar e ser visto pelo arcanjo S. Miguel. Incomodado pelo que se passava na penumbra, mesmo ao pé do vestíbulo, S. Miguel Arcanjo desejava saltar do retábulo das almas e escorraçar, lança em riste, sem âncoras, o mafarrico, contudo tanto as mulheres como as raparigas portavam se como virgens imprudentes. Neste intróito, o padre foi até ao meio do altar e clamou nove vezes: Kyrie Eleison, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; o jovem Frutuoso, atónico, via o mafarrico, vestindo de negro, peçonhando em pera e camisa desbragada, apertada apenas no umbigo, a assentar no fole os cochichos que ouvia, rindo se alarvemente. Que continhas caladas esperavam os fiéis? Fiéis? A agirem assim como farândolas no secreto das insânias!… Já o padre se humilhava de novo, sem saber o que acontecia e muito confrangido, o pequeno Frutuoso padecia essa visão. Mais se torturava ao ver que ele, o telhudo, cada vez mais se punha à coca e enchia o fole, registando com estilete cruel toda a sorte de momentâneas propensões o ser humano, carne e espírito, nunca se desliga redondamente do mundo e mesmo que houvesse um sorriso sincero de viúvo velho e desamado, anos e anos à espera de outro correspondido, isso era logo apontado friamente como culpa; fosse um suspiro imperceptível, um gesto incalculado ou momento inoportuno, as garras do escarlate, pumba, marcavam a tinta sanguínia, o caído na desgraça. Pelo seu lado, Frutuoso, bem dava conta que o pobre deixara de ser um paciente Job e o rico era cada vez mais rico e avarento. Mas como poderiam os raios de sol que deveriam ser escadas para o espírito, deixarem escapar o hediondo chifrudo? Como? Aquém, os cânticos de cristalinas ondas, poderiam ser belos como mares de inocência mas não impediram, afinal, que o mafarrico violasse o infinito. Andando de seca em meca a soprar, às claras, aos ouvidos de quem quer que fosse, colhia da farta seara, abundante semente maligna em perigo de incêndio. Não parava de escrever, agora, dentro do fole, de modo que ele enchia, enchia o saco, pesando mais e mais, apesar de esticar já o impensável, até que o ascético menino, ao sentir o peso das misérias de todos, queria pedir libera nos a malo mas como se ia ouvir nesse momento o Hoc est enim corpus meum e ele tinha de levantar a casula um quarto de círculo, então ficou calado. Ah! Mas por obra e graça da Santíssima Trindade, o amor divino transbordou, irradiou, transformou tudo num ápice de megabites como uma nuvem de doçura. Foi então que o fole, recendendo já, rebentou com tal estrambido que o menino riu, riu, riu, vendo que o furacão levava consigo o excomungado do diabo e deixava as pessoas em paz. Ermida. 546 habitantes. A Igreja apresenta duas imagens de madeira : de Santa Ana e Nossa Senhora dos Remédios. A Casa da Quinta da Ermida ostenta portão brasonado como também a Casa da Timpeira, edifício do século XVIII com brasão na capela. A 13 de Dezembro, há tradição de se comerem os “pitos” de Santa Luzia no Vale da Ermida. Folhadela. 1899 habitantes. A igreja apresenta alterações no século XVII, mantendo ainda certos vestígios românicos e frescos na capela mor e arco do cruzeiro. A imagem de S. Gonçalo, colocada na respectiva capela da Irmandade tem sido venerada pelos milagres que lhe atribuem, cujos prodígios são testemunhados nos vários quadros e romagens que lhe fazem. Assinala se a Casa do Major Lobato com portão brasonado e a Casa das Rabelas, com brasão na capela. Também em Vila Nova (Folhadela) tradicionalmente se oferecem os “pitos” às moças no dia da festa de Santa Luzia. Guiães. 585 habitantes. Capela de Nossa Senhora do Loreto. O templo de construção setecentista apresenta um corpo adossado na continuação da fachada principal sobre o qual se encontra a torre sineira coroada por vários pináculos. A fachada é rasgada por um pórtico rematado por um frontão, interrompido por uma pequena porta encimada por um brasão de armas. A decorar a fachada tem três medalhões voluteados. O interior é de uma nave. A Capela da Senhora do Loreto que pertenceu ao solar de D. bernardo da Silveira éum exemplar digno da arquitectura barroca. Existem duas casas brasonadas do século XVIII como a Casa dos Taveiras na Quinta do Casal e a Casa dos Silveiras. Justes. 410 habitantes. Capela de Santa Maria Madalena. A fachada principal, do século XVIII, apresenta um portal ladeado por duas pilastras e é encimado por um frontão interrompido com volutas. Sobre a cornija, e a rematar a fachada, tem um frontão triangular, no qual se enquadra um relógio. Ao lado direito tem o campanário. Ergue se nesse lugar o cruzeiro do Senhor do Socorro. Lordelo. 2879 residentes e 3227 de população presente. Tem pelourinho monolítico. Aí se situa a Casa Grande, outrora da família dos Távoras. As casas do Outeiro e e do Cruzeiro são de descendentes da Casa Grande. Mateus. 2543 residentes. Realizam se nesta freguesia as festividades de Nossa Senhora dos Prazeres, S. Martinho e Santo Isidro. Casa das Quartas, Abambres (Mateus), na posse da família Mourão. Esta residência solarenga que sofreu várias transformações e acrescentos ao longo dos tempos, desenvolvese em U. A frontaria, muito simples, tem nove janelas no andar nobre e outros tantos óculos elípticos no andar inferior. Liga se lhe a capela com a pedra de armas em escudo esquartelado. Casa de Urros, ( Mateus) onde nasceu Monsenhor Jerónimo do Amaral. Casa das Freitas com brasão. Palácio de Mateus (Mateus). Edificado na primeira metade do século XVIII, com risco de Nicolau Nasoni, é considerado um dos expoentes máximos da arquitectura civil do barroco em Portugal. Secção Museológica da Casa de Mateus: Esta secção museológica é um importante exlibris da cidade. Os interessados poderão admirar a apreciável área de bosque e o lago com escultura de Cutileiro que prolonga e torna distinta a entrada do palácio. Poderão gozar os jardins de beleza incontestada e visitar a parte poente do palácio, visto a parte oriental estar reservada para moradia dos condes. O edifício da Casa de Mateus é pois um dos mais harmoniosos e belos solares do país, destacando se como uma obra prima da arquitectura barroca. Sobressaem a escadaria movimentada do pátio de honra e o coroamento de pináculos. No interior, podem ver se diversas salas, decoradas ao gosto do tempo, e, o acervo disposto por várias divisões: relicários de prata e vidro, um presépio de Machado de Castro, paramentos, raridades bibliográficas, treze placas de cobre gravações originais de Fragonard e Gerard objectos ligados à actividade diplomática da família como cartas autógrafos de grandes vultos políticos da época a quem D. José Maria de Sousa Botelho, morgado de Mateus, oferecera exemplares da edição de “Os Lusiadas” de 1817: Wellington, Frederico Guilherme da Prússia, o czar Alexandre da Rússia, o duque de Richilieu, Talleyrand e Metternich. Mondrões. 1129 residentes e 1159 de população presente. No Lugar da Igreja, o actual edifício é resultado da reconstrução do século XVIII, levada a efeito sobre um templo mais antigo. Apresenta uma muito curiosa fachada do barroco final. Sobre o pórtico, e ladeado pelas imagens de São Pedro e São Paulo, vê se, em moldura ovalóide, a escultura de São Tiago “mata mouros”. Foi classificada como Imóvel de Interesse Públco. O interior é de uma só nave coberta por abóbada de ogivas com arestas chanfradas, pasticho do gótico. De salientar a talha do púlpito, a pia baptismal e a coluna que a suporta. Relíquia talvez única no país é a capa de asperges do século XV de veludo carmesim e brochado de granados de fios de prata e uma casula de damasco verde, porventura da mesma época. Mouçós. População residente: 2907; população presente: 2768. Lugar da Ponte. Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, Foi construída no século XV Conserva cunho românico, embora no portal principal e arco cruzeiro tenha características góticas. Regista se que no interior existem imagens da mesma época, uma escultura arcaica de Cristo crucificado, uma pintura representando a árvore de Jessé e sepulturas dos dois séculos seguintes. Nas paredes da capela mor admiram se alguns frescos. O tecto tem cunho mudéjar mas está bastante danificado. No interior da capela do século XV anexa à igreja paroquial de S. Salvador de Mouçós, existe uma arca tumular do abade Fernão de Brito com ricos ornamentos. É um monumento classificado de interesse público. No sítio da Senhora da Pena (Pena de Amigo, Mouçós), compreendido por uma igreja de estilo barroco e uma fonte de valor artístico, enquadrada no mesmo recinto, realiza se uma romaria célebre de monumental procissão no 2.° Domingo de Setembro, em que os andores chegam a atingir 17 metros de altura, precisando da força de 70 homens para os transportar. O arraial é tradicionalmente estrondoso. Nogueira. População residente: 709; população presente: 691. Vila Real. (Nossa Senhora da Conceição) 7838 residentes e 8898 de população presente. Parada de Cunhos. 1788 população residente ; 1727 população presente. Pena. 504 população residente e 491 de população presente Quintã. 148 população residente e 159 de população presente. Vila Marim. 1690 população residente e 1651 de população presente. Igreja Matriz. Restaurada em 1993 1994 mas não alterando as linhas do românico ainda patente nos modilhões. Conserva no interior um altar de talha barroca do século XVII e imagens com especial destaque para a Senhora da Conceição do século XVII. Nesta igreja conservam se alguns lindos frescos dos séculos XV e XVI. Torre de Quintela. Torre medieval mandada edificar nos séculos XII ou XIII.Reconstruída no século XIV, foi então dotada de janelas de balcão e atalaias de canto, assentes em matacães. Vila Real. (São Dinis) 3863 residentes e 4328 de população presente. Festa de Corpo de Deus, Festas Pascais, Festa de São Brás, Festa de Nossa Senhora de Almodena a 8 de Setembro com feira de melões. Torgueda. 1623 população residente e 1582 de população presente. A igreja paroquial guarda alguns frescos. Na freguesia existe a Casa da família Rebelo Vale de Nogueiras. 1011 habitantes de população residente e 998 de população presente. Um dos mais notáveis santuários rupestres da época romana existente na Península Ibérica situa se no Assento de Panóias, freguesia de Vale de Nogueiras é M.N.. Atribui se lhe cerca de 2000 anos de existência. Subsistem actualmente alguns tanques ou pias cavadas na rocha, bem como cinco inscrições rupestres que aludem ao culto prestado a diversas divindades indígenas e orientais. Seria constituído por três conjuntos de templos através dos quais os sacerdotes e iniciados fariam procissão até ao penedo mais elevado e onde se faziam abluções e sacrifícios cruentos. Igreja de raiz românica e cruz de prata do século XVII. Tem algum relevo o Cruzeiro de Nossa Senhora da Piedade, no Assento e notável o Pelourinho de Galegos. Vila Cova. 237 habitantes de população residente e 239 de população presente. Festa de Nossa Senhora de Ia Salete a 15 de Agosto com tradicional procissão dos romeiros vestidos de branco. Tem a a freguesia dois cruzeiros: o de S. João e o de S. Gonçalo. Vila Marim. 1690 habitantes de população residente e 1651 de população presente. A igreja é de origem românica, consoante mostram os vestígios da cachorrada. Sofreu um restauro recentemente que trouxe à luz alguns frescos. É do século XVII, o retábulo de talha dourada, como igualmente, algumas imagens, destacando se a de Nossa Senhora da Conceição. Salienta se a Casa Grande e a Casa dos Montenegros. A torre de Quintela (MN), em Quintela, (Vila Marim). É uma torre medieval dos séculos XII ou XIII, de planta quadrada. No século XIV foram lhe acrescentadas janelas de balcão e atalaias de canto assentes em matacães. Tem oito balcões com parapeitos ameados. É de estilo gótico. O escritor que mais obras escreveu em Portugal escolheu a para cenário do romance “O Anátema”. Agarez. Lenda. “Agarez é uma risonha e soalheira aldeia, alcandorada nas faldas da Serra do Alvão, a oito quilómetros, aproximadamente, de Vila Real. Foi notável pelo artesanato do linho que os seus moradores cultivavam, teciam e bordavam primorosamente. A imaginação que ajudou a criar os caprichosos desenhos dos seus bordados ajudou também a criar a curiosa lenda que nos explica a sua génese. Em tempos muito remotos, no mesmo lugar em que se encontra o actual povo de Agarez, havia um outro chamado Aragonês, nome que lhe fora dado pelos seus fundadores, originários do Reino de Aragão. Quando estes lá chegaram, construiram as primeiras casas e começaram a surribar as terras arenosas e a cultivar o milho que era o prato forte da sua alimentação. Um dia, no decorrer desta faina, encontraram, com espanto e alegria, um largo filão de oiro que parecia não ter fim. Abandonaram logo os trabalhos agrícolas para se entregarem, com avidez, à exploração do precioso metal que iam amontoando nos canastros do milho. Depois de terem enchido os canastros, entenderam que era muito arriscado guardar ali tão valioso tesoiro e decidiram levá lo para a Serra e escondê lo debaixo da areia. Fizeram, para isso, grandes dunas, com galerias interiores, e trataram de o transportar para lá em carros de bois. Quando andavam naquela freima, passou por lá o diabo que, ouvindo o estridente chiar dos carros, se aproximou, curioso, e parou, agachado atrás dos arbustos. Arregalo bem os olhos e pôs se à escuta: E se alguém descobre o oiro? Pergunta um. O diabo seja surdo respondem os outros em coro. E se alguma enxurrada leva a areia? lembra outro. Cruzes, canhoto , vociferam os restantes. Não, se Deus quiser, não vai acontecer nada disto concordaram todos. Neste comenos, um dos sacos rompeu se e as pepitas espalharam se pela encosta. Rais part’ó diabo! praguejou alguém. Ao ouvir isto, o diabo afinou, perdeu a paciência e não quis ouvir mais . Furioso, jurou vingar se daqueles títeres desprezíveis que o infernizavam com alcunhas e pragas e, ainda por cima, eram cristãos. A espumar de raiva, deitando lume pelos olhos, com o rabo entre as pernas, esgueirou se, sorrateiramente, para não ser notado, a cogitar na maneira de por em prática o seu propósito de vingança. Haviam de pagar, e com língua de palmo, o atrevimento, ou ele deixaria de ser diabo. Então, lembrou se de que, lá para os lados de Penaguião, havia uma terra chamada Mafómedes cujos habitantes seguiam a lei de Mafoma e eram, por isso, inimigos figadais dos cristãos. Estugou o passo e para lá se dirigiu, sem perda de tempo. Com a promessa de lhes entregar um faboloso tesoiro, facilmente convenceu os mouros a acompanhá lo. Com o diabo na dianteira, armados até aos dentes, transpuseram pela calada da noite, os desfiladeiros do Marão e chegaram a Aragonês, antes do dealbar, quando os aragoneses dormiam, ainda, a sono solto. Sem encontrar resistência, mataram todos os cristãos e destruiram lhes todas as casas. Ao romper da manhã, dirigiram se para o local das dunas à procura do oiro escondido. Mas, quando começaram a revolver a areia que o cobria, um forte abalo sacudiu a encosta e fez rolar, lá do alto do Alvão, uma cordilheira de penedos que os esmagaram e soterraram, com armas e bagagens. Daquela hecatombe, escapou apenas o diabo, que deu às de Vila Diogo, sem mais aquelas, e um casal mouro que aí se fixou e reconstruiu a povoação à qual deu o nome de Agarez, em memória da sua ascendente Agar, a famosa escrava de Abraão, que deu origem aos Agarenos, seus correlegionários. Os habitantes da nova povoação passaram a dedicar se à c,tltura do linho com o qual teciam e bordavam maravilhosos lençóis, cobertas e toalhas, uma arte que os tornou conhecidos e que ainda hoje perdura, embora em menor escala. É de lá que vêm as cobiçadas peças de linho que embelezam e valorizam a tradicional feira de São Pedro, a vinte e nove de Junho, em Vila Real. É esse o seu oiro verdadeiro, porque o outro, esse lá continua, inacessível, debaixo dos impenetráveis penedos, bem guardado pelo Génio da Montanha”. Joaquim Alves Ferreira, Literatura Popular de Trás os Montes e Alto Douro, V vol. Vilarinho da Samardã. População residente 824; população presente 811. Terra da família Castelo Branco. Tem interesse uma imagem da Senhora do Ó, ao que se sabe, guardada na casa da família Castelo Branco.

Joaquim de Barros Ferreira Licenciado em História

In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,
coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura.
Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães – Tel/Fax: 253 412 319, e-mail: ecb@mail.pt

Preço: 30 euros

(C) 2005 Notícias do Douro

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