Regiões

SIM, SIM. PREOCUPA-ME IMENSO …

Como se pode ver no segundo quadro abaixo (coluna A), a Região Demarcada do Douro vem produzindo, em média anual da última década (2011/2020), 230.000 pipas de mostos.
Também em média anual e no mesmo período, o CI do IVDP autorizou a “beneficiação” de 106.000 pipas de mosto (coluna B), ou seja, cerca de 46% do total produzido e declarado.
Muito poucos viticultores terão a integralidade da sua produção coberta pelo benefício e, consequentemente, aqueles que produzem uvas em quantidade superior ao benefício que lhes foi atribuído terão de ponderar se a receita conjunta obtida, quer com a venda das suas uvas quer a do benefício, compensa os custos suportados para a obtenção de toda a sua produção.
Segundo o que dizem, poucos viticultores conseguem equilibrar as suas contas, motivo que justifica a drástica redução de efetivos na região, designadamente daqueles que, sendo pequenos proprietários, complementavam o seu rendimento com a prestação do seu trabalho noutras explorações.
Uma vez que a área de vinha da região não se reduziu e que o avanço tecnológico não permitiu liberar significativamente a mão-de-obra necessária nas explorações – pelo contrário, a generalidade dos empresários agrícolas queixam-se da falta dela –, torna-se nítido que o preço de venda das uvas não vem compensando os custos necessários à sua obtenção.
Com efeito e como a viticultura tem picos sazonais de necessidade de mão-de-obra, a complementaridade dos rendimentos dos viticultores (como assalariados e viticultores) garantia-lhes a obtenção dos proveitos necessários à sua sobrevivência.

No modelo actual, a componente assalariada mantém-se, mas, a sua sazonalidade e a falta de receita pelo desenvolvimento da sua actividade vitícola, impele os viticultores a abandonar a região; segundo o IVDP, a quantidade de exploradores passou de 38.695, em 2010, para 19.633, em 2020, ou seja, foi reduzida em 50% nos últimos 10 anos:

Cabe aqui uma pequena nota quanto à justificação, sustentada por alguns comerciantes, de que esta emigração resulta do facto de o trabalho agrícola ser muito pesado, quando é do domínio público que muitos partem para trabalhar na construção civil. Seguindo este raciocínio, também sustentarão que os ucranianos estão a emigrar por causa do frio que, neste momento, por lá faz!

Noutra perspectiva, também relevante e complementar, a tendência de redução da comercialização do Vinho do Porto mantém-se. De 172 mil pipas, em 2000, passou a 157 mil, em 2010, e a 125 mil em 2020. E, por reflexo desta redução, também a quantidade de mosto generoso vem sendo reduzida: de 152 mil pipas, em 2000, passou a 110 mil, em 2010, e a 104 mil, em 2020, aqui incluindo 10 mil da apelidada Reserva Qualitativa.

Do confronto entre a colheita regional e o mosto generoso, constatamos que neste período foram produzidas, em média anual, cerca de 124 mil pipas de Mosto Não Generoso (coluna C), com um máximo de 170 mil, em 2019, e um mínimo de 85 mil, em 2018; este foi o ano mais fraco de colheita regional, não tendo atingido, sequer, as 200 mil pipas.

Destes mostos não generosos foram comercializadas (coluna D), em média anual, 72 mil pipas, com um máximo de 88 mil, em 2018, e um mínimo de 54 mil, em 2011.

De notar que este notável crescimento da comercialização ficou a dever-se aos DOC Douro que, de 40 mil pipas comercializadas em 2011, chegou a atingir as 77 mil pipas em 2018. Esta aparente boa performance destes vinhos é condicionada pelos preços praticados; com efeito, como podemos constatar nas prateleiras das grandes superfícies, uma boa parte destes vinhos é comercializada a preços que, retirado o IVA, a margem de lucro do supermercado, o custo do transporte, a margem de lucro do engarrafador, o custo do embalamento e dos respectivos materiais e o custo de produção do vinho, não chegam para cobrir o custo das uvas produzidas na Região Demarcada do Douro. Alguns exemplos disso demonstrativos:

Mas, mesmo considerando aquele crescimento, a RDD produz sistematicamente mais vinho do que aquele que, com denominação de origem, comercializa; em média anual, cerca de 52 mil pipas (coluna E). Exceptuando o ano de 2018, que, como já afirmado, foi um ano de fraquíssima colheita, em todos os restantes produziu mais do que comercializou, em produtos com ela relacionados, tendo atingido um pico de 90 mil pipas, em 2013, e outro de 87 mil, em 2019.

Uma região vinícola que, sistematicamente, produz mais do que comercializa e que comercializa vinhos a um preço que não cobre o custo das uvas, tem obrigatoriamente os seus dias contados. A estratégia seguida, que conduziu à emigração duma parte significativa da sua população, conduzirá inexoravelmente também ao abandono dos proprietários de vinha que ainda estão (por possuírem condições financeiras) a valorizar o negócio em termos sentimentais.

A “paz podre” pretendida pelos Governos de Portugal, silenciando a comunidade dos produtores, tanto na impossibilidade de democraticamente se associarem como na falta da sua representação no órgão de decisão profissional, mais promove aquela desertificação social e compromete definitivamente o crescimento do PIB português.

O poder regulatório político não deve servir para “afundar” as finanças públicas, como adquirir empresas falidas que, levianamente, são consideradas imprescindíveis, mas sim para, criando condições de mercado que conduzam a uma melhor remuneração de todos os factores produtivos, assegurar a sustentabilidade e o crescimento económico do país.

É vergonhoso (e ridículo) assistir à permanente “mão estendida” dos nossos governantes no estrangeiro, como que assumindo a nossa incompetência em saber criar riqueza. Se soubessem criar condições de sustentabilidade económica para as actividades por cá desenvolvidas, não faltariam os investimentos, quer nacionais quer estrangeiros, em busca de remuneração…

A RDD e o Vinho do Porto são a prova provada desta falta de regulação política.

Uma região que, para satisfazer a procura dos seus vinhos, importa uma quantidade idêntica àquela que anualmente produz, e que, exclusivamente por esse motivo, é obrigada a vender um quarto da sua produção a preços internacionais, os quais não cobrem os seus custos de produção, é lapidarmente demonstrativa da incompetência na regulação política desta actividade.

Com efeito, se o Vinho do Porto só for produzido com matéria-prima da própria região, toda a produção regional estará comercializada a preços que compensam o investimento, aí radicando a sua população e fazendo crescer o valor do PIB. Para não falarmos na genuinidade…

Infelizmente, porém, os nossos eleitos preferem passar por pedintes, no exterior, e por salvadores da Pátria, cá dentro, distribuindo o que não têm e hipotecando definitivamente o futuro de Portugal.

Mais infelizmente ainda: esta postura é transversal à classe! Vamos para o 14º governo desde a adesão à UE e, tal como o povo respondia à pergunta “como vão as coisas?”, face à inoperância de D. João VI na 1ª invasão francesa comandada pelo General Junot, que tinha instalado o seu quartel-general em Abrantes, “tal como dantes, quartel-general em Abrantes”…

Arlindo Castro

16 de Setembro de 2022

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